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Considerações sobre a nova fase de relações entre Roma e a FSSPX



Mons. Mark Pivarunas, CMRI


Caros amigos e benfeitores,

Com as recentes notícias sobre o “levantamento” das excomunhões dos bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, eu não seria surpreendido em ver no futuro a sua reconciliação com a igreja do Concílio Vaticano II.
A razão disso é que a FSSPX continua a sempre vacilante teologia de seu fundador, o Arcebispo Marcel Lefebvre. Aqueles que cuidadosamente observaram o Arcebispo Lefebvre através dos anos perceberam que em um tempo aderiu à uma “linha dura”, em que declarava que a Igreja conciliar era uma Igreja herética e cismática. Porém, mais tarde minimizou sua posição em que ele dizia ter meras reservas sobre os erros do Vaticano II.
Essa posição vacilante não é difícil de demonstrar. Em junho de 1976, depois que Paulo VI emitiu uma “suspensio a divinis”, proibindo o Arcebispo de administrar os sacramentos D. Lefebvre respondeu:
“ Nós fomos suspensos a divinis pela Igreja conciliar e para a Igreja conciliar, a qual nós não desejamos pertencer. A Igreja conciliar é uma igreja cismática porque rompeu com a Igreja Católica que sempre foi. Ela tem seus novos dogmas, seu novo sacerdócio, suas novas instituições, seu novo culto, tudo já condenado pela Igreja em muitos documentos , oficiais e definitivos.... A Igreja que afirma tais erros é imediatamente cismática e herética. Essa Igreja Conciliar, conseqüentemente, não é católica. Isso se estende ao papa, bispos e fiéis que aderem a essa nova Igreja. Eles próprios se separam da Igreja Católica.” (Reflexões sobre a suspensão a divinis. Mons. Marcel Lefebvre).
Mas em uma carta de 1980, endereçada a João Paulo II o Arcebispo escreveu:
“Santo Padre, para encerrar algumas dúvidas que agora estão circulando em Roma e em certos meios tradicionalistas na Europa e na América... permita-me dizer mais uma vez o que eu sempre expressei... eu concordo plenamente com os juízos de Sua Santidade sobre o Vaticano II... que o Concílio deve ser entendido na luz da Sagrada Tradição e na base do Magistério constante da Santa Igreja”. Considerando a Missa do Novus Ordo, a despeito de todas as reservas que nós termos sobre ela, eu nunca disse que ela é em si mesma herética ou inválida.”
E mais uma vez, em abril de 1981, em uma carta ao Cardeal Seper, o arcebispo reiterou:
“Se algumas de minhas palavras e alguns de meus atos são desaprovados pela Santa Sé, sinto muito. Considerando o Concílio, eu mais uma vez reforço a frase do Santo Padre, dizendo que o Concílio deve ser entendido à luz na Tradição e do Magistério constante da Igreja. E considerando a reforma litúrgica, eu mesmo assinei o decreto conciliar e nunca afirmei que suas aplicações eram em si mesmas inválidas e heréticas.”
Mais tarde, em 1987, o Arcebispo pareceu reverter sua posição dócil:
“Eu tentei resumir para o Cardeal Ratzinger, em certas palavras, é claro, porque é muito difícil resumir toda essa situação; mas eu disse a ele: ‘Eminência, veja, mesmo se o senhor nos conceder um bispo, mesmo se o senhor nos conceder um governo próprio em relação aos bispos, mesmo se o senhor nos conceder toda a liturgia de 1962, se o senhor nos conceder continuar com os seminários e com a Sociedade, como a conservamos agora, nós não podemos colaborar; isso é impossível, é impossível porque nós trabalhamos em duas direções diametralmente opostas; os senhores, os senhores trabalham pela descristianização da sociedade, da pessoa humana e da Igreja, e nós, nós trabalhamos por sua Cristianização.’ Não podemos estar em acordo. Roma perdeu a Fé, meus caros amigos. Roma está na apostasia. Não são apenas palavras, não são palavras ao vento que estou dizendo a vocês. É a verdade. Roma está na apostasia”.
E novamente, em agosto de 1987, em carta endereçada aos futuros bispos, o Arcebispo declarou:
“Meus caros amigos, a Sé de Pedro e os postos de autoridade em Roma estão ocupados por anticristos, a destruição do Reino de Nosso Senhor está sendo realizada a partir dentro do Seu Corpo Místico... É Roma, modernista e liberal, que está realizando seu trabalho de destruição do Reino de Nosso Senhor...”
Para o Arcebispo, ora a igreja conciliar é herética e cismática e ora é a Igreja Católica. Ora “Santo Padre”, ora “anticristo”.
Na raiz dessa confusa teologia está o errôneo conceito de papado. A FSSPX protesta, mas reconhece os papas do Vaticano II como legítimos. Não tem aprovação canônica de seus “papas”, e continua a estabelecer igrejas e administrar os sacramentos por todo o mundo sem considerar a sua falta de status jurídico.
Este errôneo conceito da FSSPX de “reconhecer e resistir” àquele que consideram como “papa” está em completa contradição com os decretos infalíveis do Concílio Vaticano I em 1870:
“Por isso, pelo direito divino do primado apostólico, o Romano Pontífice é a cabeça de toda a Igreja, e Nós ensinamos e declaramos que ele é o supremo juiz dos fiéis; ele julga em todos os casos pertencentes à jurisdição eclesiástica. Nós declaramos que o julgamento da Sé Apostólica, cuja autoridade é intranspassável, não está sujeito à revisão de ninguém, nem está reservado a ninguém julgá-la em sua decisão...”
Se os falsos papas do Vaticano II foram papas verdadeiros, a FSSPX não poderia ter o direito de estabelecer igrejas, administrar sacramentos, sagrar bispos sem mandato papal, assumir um papel de quase – hierarquia, que define entre os ensinamentos “papais” quais são ortodoxos e quais são errôneos. É uma contradição total!

É por isso, pela nossa fé no papado, na infalibilidade papal e no primado de jurisdição do papa, que nós rejeitamos esses falsos ocupantes da Sé de Pedro.
Quando examinamos atentamente os ensinamentos da Igreja sobre o papado, nós verificamos que é impossível que um Papa verdadeiro possa promulgar ensinamentos heréticos como falso ecumenismo e liberdade religiosa, bem como legislar sobre uma sacrílega “comunhão Eucarística” com heréticos e cismáticos. O Concílio Vaticano I claramente define:
“Os padres do IV Concílio de Constantinopla, seguindo os passos de seus predecessores, fizeram esta solene profissão: ‘A primeira condição para a salvação é manter a norma da verdadeira Fé. Por isso é impossível que as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que disse “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” ( Mat. 16, 18), não possam ser verificadas. A sua veracidade pode ser provada no curso da história, em que a Sé Apostólica da religião católica tem se mantido intocada e seu ensinamento tem se mantido santo” ... Certamente esta foi a doutrina apostólica que todos os padres abraçaram e que os santos doutores ortodoxos reverenciaram e seguiram. Para eles se realiza completamente isto: que essa Sé Apostólica permanece livre de qualquer erro, de acordo com a divina promessa de Nosso Senhor e Salvador feita ao príncipe dos apóstolos: ‘Eu roguei por ti, para que tua Fé não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma teus irmãos’.(Lucas 22, 32)”.

Por isso, se a FSSPX considera a possibilidade de se reconciliar com a Igreja do Vaticano II, a questão permanece: que preço eles pagarão para ter um espaço no púlpito ecumênico da Igreja conciliar? Aceitarão o falso ecumenismo, a liberdade religiosa e a missa nova?

Com minhas orações e minha bênção
Rev. Mons. Mark Pivarunas, CMRI

Publicado originalmente em ADSUM - Fevereiro de 2009
Tradução autorizada de Coetus Fidelium. Publicação permitida desde que citada a fonte.

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