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NON PERFICITUR SACRAMENTUM: A VERDADE SOBRE A MISSA NOVA



Estudo sobre a validade e liceidade da "celebração eucarística" dos "cristãos reformados".




Dr. HOMERO JOHAS


DOUTRINA CATÓLICA



Os defeitos de forma

"Os defeitos por parte da forma podem ocorrer se falta alguma coisa das que são requeridas à integridade das palavras ("ad integritatem verborum") na consagração. As palavras da consagração que constituem a forma ("quae sunt forma") deste Sacramento são estas:


"HOC EST ENIM CORPUS MEUM." E: "HIC EST ENIM CALIX SANGUINIS MEI, NOVI ET AETERNI TESTAMENTO: MYSTERIUM FIDEI: QUI PRO VOBIS ET PRO MULTIS EFFUNDETUR IN REMISSIONEM PECCATORUM."



Se alguém diminuir ou mudar alguma coisa sobre a forma da Consagração do Corpo e do Sangue e na mesma mutação das palavras os termos não tiverem a mesma significação, não realizaria o Sacramento. Se porém alterasse alguma coisa que não mudasse a significação, realizaria o Sacramento mas PECARIA GRAVISSIMAMENTE ("GRAVISSIME PECCARET").


— Rubricas do Missal Romano restituído por Decreto do S. Concílio de Trento e editado por ordem do Pontífice Máximo São Pio V e reconhecido pelo cuidado de outros Pontífices —


* * *

1. A Natureza do Sacramento
"O tremendo e santíssimo Sacramento da Eucaristia", como o denomina o Concílio de Trento, é em sua instituição e em sua realização cotidiana uma obra que tem por causa eficiente principal o próprio Jesus Cristo: é um "opus Christi". Por essa razão, como ensinaram os Papas e os Concílios, nem mesmo a própria Igreja Católica possui o "jus innovandi", o "direito de inovar" qualquer coisa a respeito da substância do Sacramento:


"Ecclésiae mínime compétere ius circa ipsam sacramentorum substantiam quidpiam
innovandi"....

Nem o próprio Sumo Pontífice tem poderes para isso, e, se por acaso inovasse qualquer coisa nesse ponto, além de cometer um ato ilícito e pecaminoso, instituiria um "sacramento" falso, humano, ineficaz, ofensivo ao Mestre Divino.

A substância do "Sacramento dos Sacramentos" instituída por Cristo completa-se por coisas sensíveis: determinada matéria e "determinata forma verborum", determinada forma de palavras. Uma forma sem identidade com a "determinada" por Cristo, deixa de ser princípio integrante do sinal da presença de Cristo: este passa a ter o "vício da falsidade", a ser um "sacramento" falso. Por analogia com os atos humanos, se alguém determinasse a senha quatro para a identificação de um seu enviado, daria sinal falso quem se apresentasse com a senha "quatro mais dois" ou então "quatro menos um".

O canal da Revelação divina pelo qual a Igreja sabe da forma dos Sacramentos é especialmente o da Tradição. Os protestantes, restringindo-se à Bíblia, por isso mesmo, negam a maioria dos Sacramentos. São Dionísio, entretanto, relata-nos que nos primórdios do Cristianismo, em razão dos infiéis, era necessário que fossem ocultas as formas dos sacramentos.

"Os Evangelistas não tinham a intenção de referir as formas dos sacramentos", diz o Doutor Angélico. E falando especificamente sobre a forma da Eucaristia, relembra-nos Inocêncio III, em 1202, que os Evangelistas omitiram muitas palavras e fatos da vida de Cristo, os quais os Apóstolos supriram pela sua própria palavra ou ato. Qual fosse a Tradição católica sobre "a forma deste sacramento" refere-nos, em 1439, o Concílio de Florença declarando que são as "palavras do Salvador" — as "verba Salvatoris" sempre usadas pela Igreja. A determinação precisa dessa Tradição quanto às "palavras do Salvador", mais tarde, em 1442, o mesmo Concílio a deu ao mundo cristão. São elas:


"Hoc est enim Corpus meum".

"Hic est enim Cálix Sánguinis mei, novi et aeterni testamenti, mystérium fidei,
qui pro vobis et pro multis effundetur in remissionem peccátorum"

E a Bula papal explicita a fonte da Tradição divina:

..."Apostolorum Petri et Pauli doctrina et auctoritate
fírmata"...


..."ela está firmada na doutrina e na autoridade dos
Apóstolos Pedro e Paulo"...

E acrescenta:

"a Igreja Romana... sempre costumou usá-la".

"Romana Ecclésia... semper uti consuevit".

Afirma-se portanto o fundamento apostólico da Tradição perene. Mostrado assim este fundamento pelo Concílio, conclui-se que nem à Igreja, nem ao Papa é lícito fazer adições, subtrações ou substituições nos termos pertinentes à forma do Sacramento. Por certo não seriam mutações da forma, nem materiais, as mudanças dos sons exteriores correspondentes aos termos orais das várias línguas e nem as relativas aos sinais gráficos dos vários alfabetos, mas sim as alterações quanto aos conceitos, aos termos mentais usados por Cristo. Alterações formais da forma seriam, conservando-se os termos da Tradição, as mudanças quanto ao sentido em que foram empregados por Cristo e pela Tradição. Estas alterações são as mais sutis, as menos perceptíveis à primeira vista, porém são as que alteram a Fé substituindo o "sensus verborum" "devido" e "determinado" por outro não-devido, diferente. São os dogmas de Fé católicos que explicitam o sentido determinado das palavras da forma e eles foram expostos principalmente pelo Concílio de Trento.

"Não é lícito apor qualquer coisa quanto ao sentido — "quantum ad sensum", diz o Angélico. "Se um sentido fosse contrário à Fé, diz alhures, por conseqüência, tiraria a verdade do Sacramento". E ainda: "um outro rito... não recebido pela Igreja, não parece realizar o Sacramento", "non videtur pérfici sacramentum".

Isto, evidentemente, vale para qualquer escalão da hierarquia, mesmo o supremo, em relação à substância do sacramento.

2. A Verdade em Relação ao Sinal

Nem mesmo outras "palavras do Salvador" é lícito adicionar à "forma devida": "Hoc esset vítium falsitatis" — Também "isto seria vício de falsidade" diz o Angélico. A identidade com a "forma determinada" deixaria de existir. Por conseguinte as adições de palavras de Cristo tais como:



"Tomai e bebei todos vós..."
"Tomai e comei todos vós..."

e de outras palavras de Cristo incidem neste vício. No caso, estas palavras supõem o Sacramento já realizado e referem-se ao uso do sacramento. A adição indiscrimina a forma do "opus Christi" da obra do ministro, não distingue as palavras da Causa Primeira e as da causa segunda. Mesmo se não fossem consideradas de necessidade da forma, mesmo assim, o modo pelo qual se colocam e a causa final porque são colocadas resultam em indiscriminação. E tal efeito, máxime se perante contextos equívocos, favorece um sentido não ortodoxo, é "favorecedor dos hereges" — "favens haeréticis" —, "suspeito", "pernicioso", "derrogante da verdade católica" como o declarou Pio VI, em 1794, em caso semelhante, a respeito da "transubstanciação". A indiscriminação não determina de modo claro o sinal e sinal ambíguo é ocasião de erro — "occásio fallendi".

Mas, não só a adição, também a subtração e a substituição de termos constituem fratura da forma. O Doutor Angélico estudando a forma da consagração do vinho traz esta importante afirmação sobre ela (menos o termo "enim"):


"Deve-se dizer, portanto, que todas as palavras acima
referidas pertencem à substância da forma".

"Dicendum est ergo quod ómnia praedicta verba sunt de
substantia formae".

Assim, a locução "mystérium fidei", por esse Doutor da Igreja, pertence à substância da forma. Ora, referindo-se a "mutações" na forma, assim raciocina o Angélico:


"é necessário considerar se por tal mutação é tirado o devido sentido das
palavras: pois assim é manifesto que tira a verdade do Sacramento. É manifesto,
entretanto, que se diminua alguma das coisas que pertencem à substância da forma
sacramental, tira-se o devido sentido das palavras e portanto não é realizado o
sacramento — "non perfícitur sacramentum".

O encadeamento do raciocínio é lógico e patente. A subtração do "mysterium fidei" é subtração de "algo pertencente à substância da forma". A diminuição desses termos, diminui o "sentido devido" da forma. E se tal ocorre: "non perfícitur sacramentum". A conclusão é grave. Analisemos pois algumas das mutações materiais e formais introduzidas pelos novos ritos.

3. A Extensão do Mistério
A pertença do "mystérium fidei" e dos demais termos à substancia da forma não é arbitrária no Doutor Angélico: é a Tradição quem a ratifica e é o Magistério papal-conciliar do Concílio de Florença quem a declara. Mas existe ainda o Magistério específico do Papa lnocêncio III incluindo esses termos na "forma verborum" que "o próprio Cristo usou" quando instituiu o Sacramento:

"quam ipse Christus expressit".

Ora, é óbvio que a subtração desses termos diminui o sentido devido da forma: são termos altamente significativos, exprimem "in recto" a essência do "Cálice" do Sangue de Cristo. Se forem "retiradas do contexto das palavras de Cristo" como o declara ter feito a Constituição Apostólica Missale Romanum, elas deixam de determinar o Cálice em sua natureza. Deixam de ser proferidas in persona Christi para serem ditas in persona ministri. A causa deixa de ser divina para ser humana quanto à prolação desses termos. A causa formal do Sacramento é alterada. E também a causa final: tais palavras "deixam de ser dirigidas à matéria corporal presente e, portanto, não realizam o Sacramento".

O novo rito dirige-as ao povo, em modo meramente narrativo ("Eis o mistério da fé") e não mais como forma que se vincula à matéria por força divina. Mais ainda: o sentido integral do sacramento é profundamente alterado e de modo herético: "Tudo isto é mistério da fé". A extensão do "mistério de Fé", pela mesma Fé, não é universal, não atinge a realidade da presença de Cristo, não atinge a "Tudo isto" que ali se realizou.

Essa afirmação naquele momento é "derrogante da Fé": a extensão do mistério é ali particular, refere-se apenas ao modo pelo qual se dá a presença. A alteração, pois corrompeu, gravemente a forma e o sentido dos seus termos. Segue-se, pois, a conclusão do Angélico: "non perfícitur Sacramentum".

4. Simplesmente Narração Comemorativa

Os novos ritos adicionam à forma sacramental o texto referente à memória de Cristo. Embora sejam palavras do Salvador, elas encerram um sentido não pertinente diretamente à realização do Sacramento, mas sim ao uso do Sacramento realizado, à lembrança lateral e distinta da realização, embora possa ser simultânea a ela. Tal lembrança não é causa do sacramento e por isso a Tradição e o Magistério do Concílio florentino não a incluem na forma sacramental. Se incluídas entre as palavras ditas "in persona Christi" na Missa, acarretam um "vítium falsitatis" em relação a identidade do sinal. E esse vício parece não ser apenas materialmente, mas também formalmente: entende conferir sentido memorial à forma, sentido narrativo. Isto deflui de contextos externos que adiante veremos e de análise interna. No Canon milenar a proposição manifesta a distinção entre a ação sacrifical ("Todas as vezes que isto fizerdes") e a lembrança a ela anexa ("fazei-o em memória de mim"). Tal distinção é obscurecida na proposição reduzida ("Fazei isto em minha comemoração"). Não basta que estas palavras sejam também reveladas: as do contexto do Canon eram mais explícitas. Trocou-se ainda aí a palavra "memória" por "comemoração", no texto latino. Sem dúvida que em certo sentido podem ser sinônimas e como tal foram usadas na própria Escritura. Entretanto, neste caso, "comemoração" tem sentido mais referente à essência do ato ou à sua causa final, enquanto que memória adapta-se melhor ao "modus faciendi" lateral ao ato, sendo, pois, mais próximo do que entende a Fé católica.


E para que não se diga que são considerações subjetivas abra-se a "Institutio Generalis" colocando a forma da consagração com a natureza de "narratio institutionis" "narrativa da instituição" e também leia-se o Nouveau Missel des Dimanches, editado em França, em 1973, sob os cuidados da sua Conferência Episcopal (p. 383) com este:



"rappel de foi Indispensable"...: .. ."II s'agit simplement de faire memoire
de l’unique sacrifice déjà accompli".

São contextos, entre outros, que se ligam entre si. O sentido narrativo já foi dado às palavras "mistério da fé" e estendido a toda a consagração. Aqui se introduz a "comemoração" dentro da forma. O próprio fato da mutação mostra a intenção do: simplement memoire até hoje tolerada passivamente pela Santa Sé. Portanto, pode-se supor que além da mutação material ilícita, há também aí a mutação formal do sentido da forma. Por ambas as razões, mais uma vez: "non perficitur sacramentum".

5. A Extensão da Salvação
Às inovações do novo "Ordo", as Conferências Episcopais adicionaram outras. No Missal, sob a responsabilidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, substituíram-se na forma da consagração do vinho as palavras "pro multis" pelos termos "por todos os homens". Materialmente e formalmente contraria-se a Tradição e o Concílio de Florença. Além de Tradição oral, aqueles termos são também da Revelação escrita, estão em São Mateus. Não basta que os novos termos também sejam da Revelação: isso não é suficiente para que pertençam ao sinal, à forma do sacramento. Dentro da forma, a alteração é arbitrária, humana, ilícita, violadora do direito de inovação. O sentido da Tradição e de S. Mateus é o relativo à aplicação do Sangue de Cristo produzindo um efeito eficaz em ato; é um sentido particular. Isso explicou o Tridentino. Esse é o sentido em que a forma foi instituída e somente esse portanto pode ser proferido in persona Christi no momento da consagração. A substituição altera o sentido particular em ato para o sentido universal em potência. Isso na exegese mais benigna, pois, por contextos fortes em o novo "Ordo", não fica excluída a insinuação do sentido de uma salvação final extensiva a todos os homens, o que está dentro dos contextos das heresias do Modernismo. Por mais essas razões materiais e formais, portanto, o "sensus verborum" é alterado e assim "non perficitur sacramentum".
6. A Substância da Forma Sacramental
Um duplo aspecto podemos distinguir na forma sacramental: a quantidade de termos que necessariamente a integram e o sentido em que esses termos são usados. Pio XII conceituou o que se deve entender por substância dos sacramentos: "aquelas coisas que, pelo testemunho dos Apóstolos, o próprio Cristo estabeleceu que devem ser observadas no sinal sacramental". Ora, o Concílio florentino e Inocêncio III, explicitam qual é esse "testemunho dos Apóstolos". Esse Concílio nos dá os termos da fórmula e o Concílio Tridentino explicita-lhes o sentido. Isso basta.

Poder-se-ia encerrar aqui este assunto pois os testemunhos acima são mais que suficientes para esclarecer a questão. Contudo queremos analisar o pensamento do Doutor Angélico mais de perto. Já vimos o Santo Doutor declarar: "ómnia praedicta verba sunt de substantia formae" referindo-se à forma explicitada posteriormente em Florença.
Contra a posição adversa traz o Angélico o fato: "a Igreja, instruída pelos Apóstolos - "ab Apostolis instructa" - usa esta forma na consagração do vinho". Ele mostra que todas as palavras da forma ou são da Escritura (Lc 22,20; 1 Cor 11,25; Mt 26,28) ou da "Tradição do Senhor" — "ex traditione Domini", vinda à Igreja pelos Apóstolos, segundo a afirmativa de S. Paulo: "Recebi do Senhor o que vos entreguei" (1 Cor 11,23).

Ele, portanto, mostra a necessidade de toda a forma: "tudo o que se segue é determinação do predicado... pertence à mesma sentença ou significação. E porque, como freqüentemente foi dito, as formas dos sacramentos têm eficácia pela significação, o todo pertence à força efetiva da forma":



"Et quia formae sacramentorum significando efficiunt, totum pertinet ad vim
effectivam formae".
E acrescenta contra os que julgam "serem suficientes para a consagração quaisquer formas de palavras que sejam proferidas: "Mais provavelmente, entretanto, parece ser dito que a consagração realiza-se somente por aquelas palavras as quais a Igreja usa, instruída pela Tradição dos Apóstolos:

"illis solis verbis perfícitur consecrátio quibus Ecclesiae útitur ex
Traditione Apostolorum structae".
E dá outras razões da sua posição: "o sangue consagrado separadamente representa especialmente a paixão de Cristo pela qual o sangue se separou do corpo", por isso "foi necessário exprimir a força da paixão de Cristo".
S. Afonso Maria de Ligório, embora admita a posição de S. Boaventura e outros quanto à eficácia da forma "essencial", contudo, demonstra a insegurança de tal posição:

"Se o sacerdote dissesse somente as primeiras palavras,
deveria, sob condição, repetir a forma íntegra".

Afirma, entretanto, resolutamente a grave iliceidade da mesma posição:
"É certo que pecaria gravemente o sacerdote se não proferisse todas as palavras
que na consagração do Cálice são ditas".
Mas, não são apenas esses Doutores da Igreja que assim falam. São do Papa Inocêncio III estas palavras que exprimem a fé católica no assunto:

"É de nossa fé ("crédimus") que a forma de palavras tal como se encontra no
canon ("sicut in Canone reperitur") não só os Apóstolos receberam de Cristo,
como também os seus sucessores receberam-na deles próprios".
O "todo", portanto, que está na forma do Canon, vem "de Cristo", "pelos Apóstolos", pertence à "força efetiva" transubstanciadora da forma. Por certo pela parte "Hic est calix sánguinis mei" é significada a mudança da matéria presente. Mas a determinação do Sangue em que se converte o vinho é essencial à natureza do Sacramento embora seja distinta da "res" que é o Sangue de Cristo. Sem a "forma visível" ("sacramentum et non res") não se realiza a verdade da presença do Corpo e Sangue de Cristo ("sacramentum et res").

7. Mudanças no Sentido das Palavras

Entretanto, a argumentação sobre a não validade da forma do Sacramento em o novo rito, não se condiciona à aceitação ou não da forma integral ou reduzida como necessária. Mesmo supondo o efeito válido apenas com a parte inicial, a ruptura da Tradição apostólica neste ponto seria ilícita, cismática e, portanto, gravemente pecaminosa ("gráviter peccaret") quer para os autores do novo rito, quer para o Sacerdote que a ele aderisse. Em tese, nesse caso, salvar-se-ia a validade, não a liceidade. No caso concreto dos novos ritos, entretanto, parece ser de evidência que nem mesmo nesta hipótese a validade da realização do sacramento deve ser admitida. Isso porque, segundo o Angélico "as formas dos sacramentos têm eficácia pela significação", e "quanto à significação", "quantum ad sensum", a forma do sacramento em ambas as hipóteses foi irremediavelmente alterada e corrompida. O "sensus verborum" quando pode ser mais que um, necessita ser determinado por um deles: há um sentido ortodoxo, de Cristo, do Magistério perene e um sentido heterodoxo condenado como herético por esse Magistério. E o sentido determina-se não apenas pelos textos, mas, também pelos contextos. Assim, mesmo inexistindo as alterações materiais e formais vistas na própria forma, esta poderia ter sido alterada formalmente em seu sentido tornando-se ineficaz. Diz o Santo Doutor de Hipona: "A palavra opera nos sacramentos não porque é dita, isto é segundo o som exterior da voz, mas porque é acreditada segundo o sentido das palavras que se tem pela fé".
Entretanto, antes de demonstrar a existência desse novo sentido impresso à forma do sacramento convém notar que tal sentido aqui não é o da causa final na mente do sacerdote que celebra, mas é o sentido que objetivamente emerge do complexo de contextos rituais que circundam a forma com suas exposições feitas pelos que "renovaram" os ritos. É, portanto, um dado que existe independente da intenção do sacerdote e que torna heterodoxo o complexo dos ritos do sacramento com suas vinculações subjacentes.
No caso concreto o sentido objetivo desse complexo e da forma devemos buscá-lo no "Ordo Missae" inovado com suas palavras, gestos, posturas e omissões; nas explicações a ele dadas pela "Institutio Generalis Missalis Romani" e pela Constituição Apostólica "Missale Romanum". Esse complexo de dados pode ser examinado em suas causas intrínsecas material e formal e em suas causas extrínsecas eficiente e final.
Para não sermos prolixos indicamos apenas os pontos principais:

Na Santa Missa restaurada por S. Pio V, segundo a doutrina católica firmada em Trento, o sentido das palavras da forma sacramental é o da presença do próprio Cristo, mudando as espécies do pão e do vinho, realizando um Sacrifício ao Pai, com um "valor propiciatório" infinito, apto a perdoar os pecados dos vivos e dos mortos, sendo o celebrante nesse ato o único a realizar esse Sacrifício e, assim mesmo, como causa instrumental. Tal sacrifício "ab ipso solo sacerdote perfícitur... non prout christifidélium personam gerit" ensinou Pio XII — ele realiza-se somente pelo próprio sacerdote... e não enquanto representante dos fiéis".
Ora, a "Institutio" conceituou a consagração como "narrativa da instituição" — "narratio institutionis", como simples "prece", como "oração presidencial", impetração do povo "dirigida" por um "presidente". Mesmo após as forçadas "emendas" a um documento pontifício do nível de uma Constituição Apostólica, o "pópulus Dei" aparece como a causa eficiente do sacramento. Quanto ao sacrifício, conceituou-o como de louvor e ação de graças, mas apagou a dedo, no "Ordo Missae" as referências ao seu valor propiciatório. Apagou também a quase totalidade das expressões exteriores do culto de latria. A natureza do poder sacerdotal no ato foi tornada equívoca. Omitiu-se o termo "transubstanciação" no documento original e aí a presença de Cristo no sacramento foi desnaturada, confundida com a presença na assembléia do povo ou dela derivada. O rito do "benedixit" vinculado por Cristo à consagração foi rejeitado. O Concílio Tridentino prescreveu sob pena de excomunhão que as "verba Salvatoris" da forma fossem ditas em voz baixa, em latim. Elas não são ditas pelo sacerdote "enquanto representante dos fiéis", enquanto "presidente" da assembléia, mas sim enquanto sustem a pessoa de Cristo. Entretanto, os novos ritos afirmam hereticamente que "a natureza das partes presidenciais" exige "a voz alta". A forma do sacramento era impressa com destaque tipográfico nos missais (corpo maior) e com separação dos textos ditos narrativamente "in persona ministri" (ponto final antes e depois). O destaque e a separação foram eliminados em relação às adições feitas. Após a realização do sacramento, Cristo presente, o novo rito fala de imediato: "enquanto esperamos a vinda de Cristo" ou "Vinde, Senhor Jesus!". Textos probantes da presença real (1 Cor 11, 27-32) foram eliminados nas missas da Eucaristia: "Corpus Christi" e quinta-feira-santa. "Tradições apostólicas", segundo o Concílio de Trento e outras tradições instituídas por outros Concílios relativas à distribuição do sacramento, foram rejeitadas. Doutrinas condenadas com veemência por vários Papas, como "falsas", tais como o Liberalismo religioso, o Ecumenismo, o Antropocentrismo, o Modernismo refletiram-se nos contextos rituais deles, eliminando o "Deus dos Exércitos", a palavra "alma" e introduzindo prece pela "liberdade religiosa" (sexta-feira-santa).
Um exame dessas inovações demonstra a identidade impressionante delas com as efetuadas pelo heresiarca Martinho Lutero com sua "Missa Evangélica". Mais: é tão evidente o sentido luterano dado à forma do sacramento que pastores protestantes, sem abandono de suas heresias, neles reconhecem o sentido herético e por essa razão o aceitam. Esse efeito melhor se explica se soubermos que a elaboração dos novos ritos foi dirigida por um franco-maçom com a participação, dentre outros, de cinco "pastores" heréticos. E vimos como a Conferência Episcopal de França mantém explícita a heresia no próprio "Missel des Dimanches". Por outro lado sabemos que Cardeais perseverantes na Fé, como Ottaviani e Bacci escreveram ao "papa" reformador dos ritos declarando que, após exame feito por teólogos selecionados, verificou-se que o novo "Ordo Missae": "desvia-se de modo impressionante, no conjunto como no detalhe, da teologia católica da Santa Missa formulada na XXII Sessão do Concílio de Trento"... .

Mons. Marcel Lefèbvre diz, a respeito dos novos ritos:

"II est psychologiquement, pastoralement, theologiquement impossible pour
les catholiques d’abandonner une liturgie qui est vraiment l'expression et le
soutien de leur foi pour adapter des nouveaus rites qui ont été conçu par des
herétiques sans mettre leur foi dans le plus grand péril. On ne peut pas imiter
les protestants
indéfiniment sans le devenir".

A demonstração da alteração da forma, pois, "quantum ad sensum" parece evidente, objetiva, emergente do conjunto de contextos. Portanto, como afirma o Concílio de Florença: "si aliquod desit non perfícitur sacramentum. Aqui a forma, pelo rito instituído, não possui identidade formal com a forma do rito milenar.
8. A Causa Final e a Causa Formal

O sacerdote, na Missa, é um instrumento de Cristo, mas não um instrumento inanimado. É um ser racional que "age em razão de um fim". Enquanto instrumento adere livremente ao fim proposto pela Causa Principal e aos meios por ela estabelecidos. O fim, causa da realização do Sacramento, somente é dado pela verdadeira Igreja: Cristo sacerdote oferecendo-se a si mesmo como vítima a seu Pai. Somente a verdadeira doutrina, a verdadeira Fé, dá esta intenção. A "intentio Christi" é manifesta pela 'Intentio Ecclésiae" e a esta adere a "intentio ministri". Nessa dupla relação de identidades a "intentio Ecclésiae" surge como o termo médio do silogismo e, se for equívoca ou diferente, a identidade da intenção de Cristo é comprometida. Se existe um "novo modo de encarar a Igreja" (Paulo VI) o termo médio mudou de "sentido". Isso se confirma pela "nova teologia", pela "nova igreja" pós-conciliar. Assim, quem adere a essa "igreja" não mais adere à Igreja, não mais tem a "intentio Ecclésiae" e, por isso: "non perfícitur sacramentum". Note-se que essa "intenção da Igreja" não se confunde com a intenção interior de um Papa da Igreja (ou da "igreja") nem com a de seus auxiliares que instituíram os ritos que circundam o Sacramento. São as doutrinas, os textos e contextos dos ritos, atos e omissões provenientes desse Papa que colocam tais manifestações exteriores em identidade ou não com o "opus Christi" e a "intentio Ecclésiae". Embora fosse difícil, admite-se que mesmo o sacerdote caído em heresia possa consagrar aderindo à intenção da verdadeira Igreja. Mas, mesmo os sacerdotes com Fé, os que "não observam a forma"... "não conferem o sacramento nem a "res" do sacramento", diz o Angélico.

Pode-se discutir se a reta intenção do sacerdote pode suprir a falta da forma idêntica e o vício do "sensus verborum", objetivamente alterado pelos ritos. Parece-nos que a causa final não supre por si só a causa formal pela qual o efeito se especifica. Não é suficiente ter-se a intenção de se atingir um fim para que, por qualquer meio, ele se realize. Entretanto a Fé e a piedade poderiam gerar no sacerdote de ignorância inculpável os efeitos do sacramento "quoad nos", a "graça", a "virtude espiritual" mesmo inexistindo o sacramento. Este, ordinariamente, depende da "forma devida".

9. O Efeito de outra Causa
De todo o exposto conclui-se que alterada a forma quer por adições, subtrações ou substituições, quer por mutações "quanto ao sentido" o efeito da "celebração eucarística" dos que se intitulam "cristãos reformados" não é o da Santa Missa, não é a "transubstanciação". Por tal "celebração" "non perfícitur sacramentum": é inválida como Missa. Portanto, salvo ignorância inculpável, a adesão a tal rito é ilícita e pecaminosa. "Quem o cumprimenta é cúmplice de suas obras más". Além disso, tal rito representa uma ruptura cismática em relação ao sentir da Igreja de todos os tempos. Com razão escreveram os teólogos Caetano e Suarez: "O Papa poderia ser cismático... se quisesse subverter todas as cerimônias eclesiásticas firmadas pela tradição apostólica". Tal "papa" teria perdido a "devida conjunção" com a Igreja Católica, afastando-se da unidade com os demais Papas, por exemplo, com São Pio V e seus sucessores que com todo empenho da autoridade apostólica estabeleceu "para sempre" a expressão ritual referente ao sacramento da Eucaristia em sua substância. São Pio X dizia que: "As várias partes da missa e do Ofício devem conservar, até musicalmente, a forma que a Tradição eclesiástica lhes deu". Pio XI declara que os Papas "procuraram conservar carinhosamente as leis da Liturgia Sagrada, protegê-las e preservá-las de toda adulteração". Estabelecendo um rito de sentido contrário à Fé, o Papa comete um ato ilícito. Comete-o também pela infração ao "direito de inovar". Se a ignorância inculpável pode desculpar o fiel por certo tempo, pode perdurar sem culpa, por muito tempo, na mente do sacerdote, a ignorância sobre a teologia católica exposta em Trento quanto ao sentido objetivo que o rito confere à forma do sacramento? Nem ao sacerdote nem ao fiel é lícito aderir a um rito que o expõe ao perigo sorrateiro de alterar ou destruir a sua Fé. Este risco em relação aos novos ritos os "frutos maus" o confirmam. Eles atestam a qualidade da árvore que os gerou. A virtude da obediência não pode deixar de ser dirigida superiormente pela virtude teologal da Fé.
Leiamos as Sagradas Escrituras:

"Não fareis adição à palavra que vos falo, não subtraireis dela" e "se
alguém adicionar algo a estas palavras, adicionará Deus sobre ele as pragas
escritas neste livro; e se alguém diminuí-las, tirará Deus a sua parte no livro
da vida".
Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, julga aplicáveis estas palavras divinas aos que realizem mutações na forma do sacramento da Eucaristia "em relação ao sentido", "quantum ad sensum".
Laus Deo Virginique Mariae

* * *


DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA

BULA "QUO PRIMUM" DO SANTO PADRE O PAPA SÃO PIO V SOBRE O MISSAL ROMANO DA TRADIÇÃO MILENAR
— Trechos —

1) O Missal é Perpétuo

Nada jamais deverá ser acrescentado, subtraído ou alterado neste Missal... ("nihiI unquam addendum, detrahendum aut immutandum") sob pena de nossa indignação. Estabelecemos que seja válido perpetuamente ("perpétuo valitura").
2) O Indulto é Perpétuo

Pelo teor das presentes letras, por autoridade dos Apóstolos, concedemos e damos indulto perpétuo ("perpetuo concédimus et indulgemus") para que doravante este Missal seja integralmente seguido no cantar ou recitar da Missa, dando permissão (aos sacerdotes) para usá-lo livre e licitamente, sem qualquer escrúpulo de consciência, sem incorrer em penas, sentença ou censura.



3) A Bula é Perpétua


Os sacerdotes "não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo ("áliter") que o estabelecido por nós. Não sejam coagidos por ninguém ("a quólibet") a mudar este Missal. Estabelecemos igualmente que as presentes letras em tempo algum poderão ser revogadas ou abrandadas ("ullo unquam tempore revocari aut moderari possint") mas que existam sempre firmes e válidas em sua força ("semper firmae et válidae in suo exsistant róbore").

4) Ninguém Pode Contrariá-la


A homem algum sem exceção ("nulli ergo omnino hóminum") seja lícito infringir esta página de nossa Permissão, Estatuto, Ordenação, Mandato, Preceito, Concessão, Indulto, Declaração, Vontade, Decreto e Proibição ou contrariá-la em temerária audácia. Se alguém tiver a presunção de cometer isto, ver-se-á incurso na indignação de Deus onipotente e de seus santos Apóstolos Pedro e Paulo.

"A mudança substancial com relação à forma torna o Sacramento inválido,
não entretanto a acidental, se bem que freqüentemente seja ILÍCITA..."

"Em coisa tão grave (Eucaristia) não parece matéria leve QUALQUER LEVE
MUTAÇÃO deliberadamente feita".

— S. Afonso Maria de Ligório — Compendium Theologiae Moralis, Lugduni, 1853, p. 209 e 245.


"Si aliquod desit non perfícitur sacramentam"
Concílio de Florença


LIÇÃO DO CATECISMO

"Se alguém conseguir provar que uma Igreja no decorrer dos tempos mudou suas
doutrinas, fica automaticamente provado que ela não é a verdadeira Igreja".

— "Catecismo Escolar" do Pe. Spirago — 4.ª edição, página 77. —


"QUEM COMER ESTE PÃO OU BEBER ESTE CÁLICE DO SENHOR INDIGNAMENTE, SERÁ RÉU DO CORPO E SANGUE DO SENHOR... COME E BEBE SUA CONDENAÇÃO, NÃO DISCERNINDO O CORPO DO SENHOR"


(1 Cor. 11,27-29)


— Textos da liturgia da Quinta-feira-santa e da festa de Corpus-Christi eliminados pela "reforma" litúrgica. —

O FALSO TRADICIONALISMO

Duas Entidades: FSSPX e Padres de Campos


O Sr. Pe. Rifan, Pe. Schmidberger, Pe. Possidenti, Homero Johas, Mons. Lefèbvre e Dom Mayer em reunião, em 1983. Os prelados colocaram o “Santo Padre” à frente de uma Declaração preparada pelo Dr. Johas, contra as heresias do Vaticano II, assinada por eles e publicada mundialmente. A partir daí o autor deste livro começou a demonstrar o desvio da fé dessas pessoas.


Introdução

O livro “A Nova Missa de Paulo VI” atribuído a Arnaldo Xavier da Silveira, mas cuja autoria Mons. Antônio de Castro Mayer confessou-me ser dele mesmo, manifesta não só o sentido herético, luterano, dos ritos novos da “nova igreja” instituída pelo Concílio Vaticano II, mas traz também uma parte: “Hipótese teológica de um papa herético”. Ora, quem aprova e impõe um culto de sentido herético, pelo menos na ordem pública, após monições, presume-se que seja herético (Cânon 2315), e que está separado da Igreja “pela natureza do delito de heresia” (Pio XII – Mystici Corporis, D.S. 3803). A doutrina do Magistério da Igreja sobre o delito de heresia não é mera “hipótese teológica”, porém é Magistério infalível, de natureza divina, ao qual, todos estão igualmente subordinados, inclusive um Sucessor de Pedro (D.S. 3114). O Cânon 188,4 sobre o delito público de heresia não é mera “opinião” de uma pessoa privada, porém é uma “norma essendi” dogmática, que rege a todos os membros da Igreja Católica. Ela vem da Tradição, desde os primeiros séculos da Igreja, interpretando o Direito divino. De Celestino I até Pio XII o Magistério da Igreja é o mesmo sobre a natureza desse delito e sobre os seus efeitos naturais “ipso facto”, independentes das penas canônicas impostas posteriormente ao delinquente: pena excomunhão, de declaração de infâmia, de deposição pública do cargo.

Donde tal livro referido já se afasta do Magistério dogmático e canônico da Igreja, desde esse título sobre “Hipótese teológica” até o tratamento de “opiniões” privadas de teólogos. Sem se referir ao Magistério transcendente da Igreja, que está acima de todas as opiniões privadas, até mesmo de um papa, as quais não podem romper a perpetuidade do sentido da doutrina universal já uma vez ensinada pela Igreja (Vaticano I – D.S. 3020) não pode proclamar outro sentido diverso (Vaticano I – D.S. 3043), sob pena de anátema. Tal anátema vem já desde os tempos de São Martinho e do Sínodo de Latrão de 649, Cânon XVIII (D.S. 520)

Entretanto Dom Antônio de Castro Mayer, com Mons. Lefèbvre, com a União Sacerdotal Vianney, dos “Padres de Campos”, com a FSSPX, todos eles rompem com essa unidade de fé da Igreja Católica professando, de modo público e pertinaz, durante décadas, uma doutrina oposta à do Magistério supremo da Igreja Católica. E pretendem falsamente dizerem-se “tradicionalistas” porque inserem os ritos de São Pio V, como fachada na sua aparente fidelidade à Igreja, enquanto não se submetem ao Magistério definido pelos papas da Igreja, à “definição” e norma de Paulo IV na Bula “Cum ex apostolatus”. A jurisdição “inválida” é mudada para “válida”. O herético público e notório é introduzido dentro da Igreja, como regente e docente dos fiéis, em clara oposição ao Direito divino (1 Cor. 6, 1; Tit. 3, 10-11; Mt. 18, 17; Jo 3, 18; etc.).

A “fé universal, comum a clérigos e leigos” (S. Nicolau I – D.S. 639), ensina através de Pio XII: Quem peca contra a fé, “separa-se da Igreja pela natureza do seu delito” (D.S. 3803). E o Direito Canônico ensina que ele: “deixa vacante qualquer cargo da Igreja, sine ulla declaratione, ipso facto, por uma renúncia tácita ao cargo” (Cânon 188,4).Donde, ensina Leão XIII: “É absurdo que presida na Igreja quem está fora da Igreja” (Satis cognitum, 37).

Abstenho-me de julgar se isso ocorreu por imperícia, em boa fé, ou por dolo, em má fé. Tal juízo pertence só a Deus. Mas, desde 1983, viemos fazendo monições caridosas aos dois prelados e depois aos seguidores dessas duas entidades. Donde tem lugar aqui o preceito de Cristo sobre quem não ouvir ao Magistério da Igreja (Mt. 18,17), interpretado pelo Cânon 2315. Não é lícito aos prelados converter o papa herético em simples, “papa mau”, não herético, mudando assim o papa inválido em válido. Não é lícito aos seus seguidores ir buscar na Revelação o caso de São Pedro (Gal. 2,14), que não foi herético, para coloca-lo como “paradigma” livremente escolhido para o caso presente, deixando de lado quer a norma universal da fé sobre o delito de heresia, quer os fatos atuais de inúmeras e livres heresias públicas professadas pelo Vaticano II, em oposição ao Magistério universal e até solenemente definido pela Igreja.

Bastaria aos dois prelados e aos seus discípulos ler em Santo Tomás a diferença entre poder de Ordens, que permanece nos hereges, e o poder de jurisdição ordinária que “não permanece nos hereges” (S.T. 2 – 2, 2, 39, 3). Donde, ensina o Doutor Angélico, os heréticos: “não têm esse poder”. Donde tudo o que fizeram é nulo: “nihil actum est”. O agir segue o ser. Quem não é papa, não tem atos de exercício válido do poder de jurisdição ordinária como papa. É como um não juiz assinando sentenças assentado nas cadeiras dos verdadeiros juízes. Bastaria que lessem a Bula de Paulo IV (Cum ex apostolatus) para que, se agissem de boa fé, saberem que, sem a fé universal, ela não pode ser substituída pelo “juízo próprio” e “critério próprio” individual de cada herético (Tit. 3,10 – 11), conforme quer o Vaticano II (1.2; 11.2). Que o Magistério universal dogmático não pode ser substituído pelo “livre-exame” individual de cada um, como o quis Lutero (D.S. 1479).

Dom Mayer julga a sentença de São Roberto Bellarmino, como uma opinião “boa”. Mas, mesmo assim, não a segue e não olha o Magistério da Igreja. Nem Mons. Lefèbvre. O que é gravíssimo. Movem-se livremente entre opiniões, de “uns” e de “outros”, e de teólogos livremente escolhidos. São Pio X condenou isso nos Modernistas (D.S. 3402) agnósticos; os quais quiseram uma “norma prática” do agir, afastando a “norma do crer” dogmática (D.S. 3426). Donde, aparentando “resistir” ao Vaticano II e aparentando nisso serem “tradicionalistas”, são, na realidade, hereges disfarçados, defendendo uma indefensável separação do poder divino de jurisdição ordinária válido da necessária unidade de fé, fundamento firme e único da Igreja Católica (Trento, D.S. 1500; D.S. 2888). A “operação do êrro”, de Satanás (2 Tess. 2, 1-11) colocou uma aparente resistência ao Vaticano II ocultando uma real resistência ao Magistério universal da fé católica (Vaticano I – D.S. 3011). Aparentam serem membros do Cordeiro, mas “falam como o Dragão” (Ap. 13, 11). Aparentam “Tradicionalismo” pelos ritos de São Pio V; mas agem e pregam como heréticos pela resistência ao Magistério da Igreja sobre a heresia e os hereges públicos. “Não aceitam” o Magistério infalível da Igreja. As diferenças livres de heresias que possam ter em relação ao Vaticano II não retiram que também sejam heréticos, como qualquer outra seita ou falsa religião pagã do Conselho Ecumênico de igrejas. São linha auxiliar disfarçada do Vaticano II.

A ORDEM CRISTÃ E A UNITATIS DESINTEGRATIO CONCILIAR

Por Arai Daniele


Ouve-se amiúde a frase “eu não vivo para trabalhar, mas trabalho para viver”, e também: “eu como para sobreviver e não sobrevivo para comer”. E assim por diante, são conclusões obvias de uma sabedoria simples, mas essencial, que implica razões filosóficas de causa e efeito e de uma série de princípios, como o de identidade e de não contradição, o de causalidade etc., que não demandam grandes estudos, mas a honestidade mental de aceitar o que já está na ordem lógica das coisas estabelecida por Deus, das mais simples às mais complicadas, ordenadas ao alto fim da vida do homem; fim para o qual todos deveriam ser unidos e para o qual operava a missão da Igreja.

Tudo isto se reflete na consciência da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, para que dirija sua ação ao bem, que é a perfeição do seu “ser”, criado para o excelso fim querido pelo Pai. Ora, o “ser” humano é de natureza terrena, familiar e social. Há, pois, que entender a essa luz a sua ordem natural, carnal e mental.

Por isto vamos falar da união dos seres humanos como ideal indicado por Deus Pai.

E nesta época da grande comunicação é claro que tal preocupação se torna aguda, pois vemos, num relance televisivo, a vida de nossos semelhantes do outro lado do mundo a rir ou a sofrer, em terras nunca por nós dantes navegadas na internet. Há, pois, um ímpeto ardente de união dos povos, como descrevia Pio XI ao início de sua encíclica importantíssima “Mortalium animos” (Ma) de 1928 que, note-se, era a época em que o mesmo Vaticano passava a utilizar a nova invenção do rádio (inventado pelo Pai, mas) descoberto por Marconi, para desde então falar, a viva voz, na pluralidade das línguas, com todo o mundo.

O Papa Pio XI escrevia sobre a “Ânsia Universal de Paz e Fraternidade”: «Talvez jamais em outra época os espíritos dos mortais foram tomados por um tão grande desejo daquela fraterna amizade, pela qual em razão da unidade e identidade de natureza – somos estreitados e unidos entre nós, amizade esta que deve ser robustecida e orientada para o bem comum da sociedade humana, quanto vemos ter acontecido nestes nossos tempos.»

Essa encíclica não se destinava, porém, a invocar novas unidades, mas a acusar as falsas e perversas, porque envolviam o desprezo da Ordem do Pai, presente na unidade da Fé, na Sua Santa Igreja... « na ordenação da Lei Nova trazida por Cristo, Nosso Senhor... Erram, portanto, e estão enganados os que possuem esta opinião (do pan-cristianismo ecumenista): pervertendo o conceito da verdadeira religião, eles repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem concorda com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se inteiramente da religião divinamente revelada.»
Ora, como se entende estudando, não a tal história da Filosofia (que não existe, porque seria como falar da história da verdade), mas a história do filosofar, o pensamento humano em geral tem IN-voluido e muito, porque justamente na onda da tal “evolução” foi alijando suas bases e seus princípios. Por exemplo, o princípio de “Causa” a favor da idéia de “caso”, e tudo por ódio ao Pai criador do mesmo pensar, de Quem pretendem adquirir autonomia devido a um cientismo galopante e a uma tecnologia embriagante!

Foi assim que a burrice filosófica proliferou no mundo novo como erva daninha, mas encoberta por um viçoso progresso material que a todos enganou. E isto invoca o 2° Capítulo da 2ª Epistola de São Paulo aos Tessalonicences (II, 7-12): “... O mistério da iniqüidade já está em ato. Falta apenas que seja eliminado aquele que por enquanto o impede. Só então se manifestará o ímpio e o Senhor Jesus destruí-lo-á com o sopro da sua boca e aniquilá-lo-á com o esplendor da sua vinda. A vinda do ímpio vai acontecer graças ao poder de Satanás, com toda a espécie de falsos sinais e prodígios, e com toda a sedução que a injustiça exerce sobre os que se perdem, por não terem abraçado o amor da verdade, para serem salvos. Por isso Deus permite que neles opere o poder de sedução, para que acreditem na mentira e deste modo sejam condenados todos os que não prestaram fé na verdade, mas aceitaram a impiedade!”

Era a “liquidação” do “Katéchon”, do papa católico, como está na visão simbólica do Terceiro Segredo de Fátima, que seria mais claro em 1960, quando já estava em ato o plano maçônico da nova ordem mundial, introduzido pelo “pontificado” de João XXIII.

Ora, a verdade é uma e se manifesta em muitos campos, desde aquele que faz entender a todos que comemos para viver e não o contrário, até aquela pela qual a ordem mental, a lógica através da qual todos os homens pensam e crêem é a mesma. Não seria assim para com a Religião se esta fosse alheia à lógica, e então as religiões poderiam ser muitas, seguindo diversas culturas, épocas, idéias e “lógicas” de vida. Mas para quem abraça o amor da verdade, para ser salvo, a idéia que haja outra lógica de vida, não pode ser mais que um poder de sedução, para que se acredite na mentira e deste modo ser condenado por não ter prestado fé na verdade, mas aceito a impiedade. Em tudo isto se pode distinguir uma “direção” lógica pois, ou se vive come se pensa e se pensa como se crê, ou se crê como se pensa e se pensa como se vive. Neste segundo caso é o precário, o contingente, o acaso da vida que a determina, sem nenhuma razão ou fim lógico, enquanto o primeiro caso é aquele cristão, católico, no qual é Jesus Cristo a direção do caminho da verdade e da vida na Ordem de Deus Pai, Criador também de toda lógica. Esta não pode, pois, ser alheia à Religião, mas parte de sua única Ordem.

Nisto está a única possível UNITATIS, unidade na Fé que pode guiar o pensamento e com este o bem da vida e salva-la para o Bem eterno. Não depende de números.

De fato Jesus ensinou: “Quando dois ou três se reúnem em Meu Nome, Eu estou entre eles” (Mt 18, 20). Note-se a escolha dos números menores, não próprio a multidões.

Mas voltemos às confusões terrenas, porque a tal direção de crer como se pensa e pensar de acordo com a necessidade dos tempos é justamente a maléfica perversão que as filosofias iluministas e potencialmente ateias, abraçadas pelo modernismo introduziram na religiosidade humana para formar uma nova religião “mais universal”.

A este ponto devemos seguir o pensamento de Bento XVI, considerado grande pensador e filósofo, mas que quando impreca contra o atual relativismo, em uníssono com conhecidos políticos “teocon”, conservadores sem fé que apreciam o cristianismo como complemento da ordem política democrática, só pode suscitar espanto.

De fato, o que pode haver de mais relativista que a operação ecumenista conciliar que busca a concórdia de todas as religiões, come se fossem todas inspiradas por Deus.

Deste modo Deus teria revelado uma verdade relativa a cada uma; muitas diversas verdades que seriam mais ou menos reconciliáveis ou adversas, segundo o que estes falsos pastores procuram demonstrar ou ocultar, de modo a colher só o que pode unir os homens, descartando o que os divide (veja-se Deus Pai, Filho e Espírito Santo)!

Toda essa operação tem por base um documento do Vaticano II: “Unitatis redintegratio” (Ur), que demonstrou, pelos seus efeitos, ser uma real “Unitatis desintegratio”, que só poderia vir do tal Diabolis, o príncipe da desunião e danação deste mundo! De fato, Pio XI ensina (Ma): “É manifestamente claro, que a Santa Sé não pode de modo algum participar dessas assembléias (do pancristianismo ecumenista) que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para tais iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo”.


O que não é lícito a nenhum católico poderia ser lícito aos alto prelados conciliares?

Sobre Bento XVI já se escreveu muito, documentando sua estranha “posição teológica”. Aqui há, porém, que limitar-se à sua posição em relação à união na Ordem cristã e nisto posso repetir o testemunho do Arcebispo Marcel Lefebvre que em Albano, de volta de um encontro no Vaticano, se demonstrou aos amigos presentes muito perturbado e nos disse: esses homens não têm nenhuma noção do que seja a verdade! Vinha justamente do encontro com Ratzinger. Pior do que isto! Aliás, principalmente em relação a este “filósofo”, de obscura escola kantiana ou hegeliana, escreveu mais tarde que havia anticristos no Vaticano. Nada menos! Um testemunho deveras crucial! Hoje temos então um papa-anticristo que os católicos deveriam honrar porque, segundo alguns, eleito num conclave canônico! Obscuro “conclavismo” este, formado na densa fumaça do inferno!

Mas vejamos uns discursos inspirados nessas profundezas:

« A minha visita a Turquia ofereceu-me a ocasião para exprimir, também publicamente, meu respeito pela religião muçulmana, respeito, aliás, que o concílio Vaticano II (Nostra ætate, n°3), nos indicou como um dever… o mundo muçulmano se encontra hoje diante da grande urgência de uma tarefa muito semelhante àquela que se impôs aos cristãos a partir do século das Luzes e à qual o concílio Vaticano II trouxe soluções concretas para a Igreja católica, depois de uma longa e difícil procura. Trata-se da atitude a adotar pela comunidade dos fiéis diante das convicções e exigências que foram afirmadas na filosofia das Luzes. (luciferinas !...) Porque é necessário acolher as conquistas reais da filosofia das Luzes, os direitos do homem e em particular a liberdade da fé e de seu exercício, reconhecendo neles igualmente os elementos essenciais para a autenticidade da religião.»


Com estas palavras Bento XVI demonstra-se convencido que a Ordem cristã era falha naquilo que a « filosofia da Luzes », isto é o iluminismo, introduziu em matéria de direito e liberdade com as grandes revoluções, intentas justamente a destruir o Cristianismo, a “écraser l’infâme” ! como dizia Voltaire, visando não só a Ordem cristã, mas o Papado! Aqui se ouve então um clérigo, em nome do papado, dar razão ao seu inimigo! Não só, mas fazer uma apologia definitiva, porque dada por necessária e obrigatória, do que para Igreja até ontem era considerada a “filosofia” do Anticristo. Por cúmulo do delírio, Bento XVI indica aos Muçulmanos que devem o mais cedo seguir o mesmo caminho revolucionário, isto é aquele que o Vaticano II empreendeu para inverter a consciência dos católicos com respeito ao ensinamento dos Papas sobre os direitos e as liberdades modernas, em especial de Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII e São Pio X.

Haveria que perguntar a certos tradicionalistas que aceitam isto e impõem a autoridade papal de tal falso profeta, se com isto também aceitam inverter o Magistério anterior ou se entendem conviver e gerir ambos como se não fossem opostos, o que só é possível pensando em modo modernista! Isto é pensando como se vive, o que significa adaptar-se aos poderes e às modas dominantes no mundo!

Nesse sentido Bento XVI, para agradar esse mundo, embrenha-se no incrível dilema, para quem se diz católico, de explicar com que critério alude aos direitos do homem e em particular a liberdade da fé e de seu exercício, para reconhecer nestes, elementos essenciais para a autenticidade da religião. Porque dessa autenticidade seria falho o Cristianismo precedente, do qual ele se diz continuador, elaborando para isto uma vã e pedante “hermenêutica da continuidade”. Ou uma ou outra! Mas seria pedir demais para quem professa e pretende até ensinar a pseudofilosofia idealista, geradora de idéias de sentido inverso ao cristão, definir algo. É de fato um paradoxo que um clérigo com uma forma mentis segundo a dialética de Hegel, da - tese, antítese, síntese -, queira batizar essa “filosofia” constitutiva do devir, da evolução do pensar, fazendo da idéia humana a realidade mesma, ou como ensinou São Pio X, da consciência a Revelação, e tudo isto como católico. Seria como dizer que alguém pode pensar como um luterano, ou um liberal, ou até como um comunista ateu, mas conservar a fé católica. O problema é que esta contradição radical faz parte desse mesmo pensamento absurdo em que os extremos se encontram na final equivalência e unidade dos contrários! Trata-se de uma “fé” de sentido inverso à cristã, pela razão que o processo dialético que segue a ordem: tese, antítese e síntese, é uma gestão humana de opostos que pretende criar uma síntese final, enquanto a Religião revelada já é a síntese do Autor divino e por isto não precisa de elucubrações cerebrinas para sintetizar a Verdade sobre a Ordem humana.

Na idéia de Ratzinger, porém, a Igreja, para atingir a verdade sobre os direitos e liberdades humanas, precisa seguir um processo de reconciliação com o mundo moderno dos idos de 1789. A tese conciliar seria a fé católica, a antítese seria o liberalismo, a síntese seria a evangelização da nova pastoral operada pelo espírito de “unificação” do Vaticano, que opta pela homologação de ambos estes opostos. Sim porque à fé católica faltaria a síntese da reconciliação com os valores do mundo, como sejam os direitos humanos, a liberdade religiosa, a igualdade ecumenista, a emancipação feminina, etc. Eis uma explicação de Ratzinger: «Nós sentimos uma responsabilidade neste mundo e desejamos dar-lhe nossa contribuição de católicos. Não entendemos impor o catolicismo ao Ocidente, mas queremos que os valores fundamentais do cristianismo e os valores liberais dominantes no mundo hodierno possam encontrar-se e fecundar-se mutuamente» (Cardeal Ratzinger ao jornal Le Monde, 17/1/1992).

Daí que, para Ratzinger, a “tese” da «Gaudium et Spes» do Vaticano II, que sendo uma espécie de anti “Syllabus” do Papa Pio IX, (sua “antítese”), chega através de iluminados conciliares, come ele se deve considerar, à síntese do que falta à “verdadeira religião universal” que, apóstolos ignorantes e santos fanatizados não teriam conseguido até hoje sintetizar para a fecundação da paz na terra.

Ai se vê que Ratzinger não tem nenhuma intenção de explicar o que entende por « autenticidade da religião » nem de precisar nada sobre a “fé ”, o que conta é a “síntese” da união e da paz idealizadas pelo aggiornamento do Vaticano II.

Agora, visto que até aqui seguimos raciocínios segundo uma só lógica, vejamos como enquadrar o delírio ilógico da estrutura conciliar do Vaticano II, modernista e ecumenista a favor de uma nova ordem mundial para a união de todo gênero humano.

Essa utopia “unionista” como necessidade dos tempos modernos, que condiciona o modo de pensar, que pretende determinar o modo de crer, e portanto a nova “religião mais universal”, tropeça diante daquela frase que se ouve amiúde. De fato, os homens devem viver para unir-se ou unir-se para viver? Qual a prioridade civil e religiosa? Quem deve determiná-lo e com quais termos? Ora, se o objetivo final é a vida na paz, parece justo que os homens devem unir-se para viver, mas também viver para unir-se, que aparece como pensamento dos pacifistas conciliares, de acordo com a nova ordem da ONU e de outros poderes ocultos. Mas pode ser esta utopia o ideal da Igreja de Cristo?

Não certamente pois Nosso Senhor sendo a Verdade encarnada no mundo não trazia a paz, mas a espada e a sua Paz, que não é a paz deste mundo.

Como definir essa Paz senão a tranqüilidade na ordem, na Ordem de Deus Pai?

Ora, a operação ecumenista maçônica e conciliar quer que a Igreja viva para unir a humanidade para a paz da ONU e dos tais poderes ocultos que planejaram a “nova ordem mundial” justamente para substituir, ou pelo menor reduzir a simples “animadora espiritual” do MASDU (movimento de animação da democracia universal), aquela ordem já “obsoleta” e “fracassada” de um intragável Cristianismo! Eis a traição e eis então o tropeço abissal dos conciliares, do poder de sedução, que faz acreditar na mentira e deste modo ser condenado por não ter prestado fé na verdade, mas aceito a impiedade. E com isto arrastam no engano de perdição inteiros povos que os seguem.

A liberalidade culposa de escolher o erro, a dialética do absurdo de justificar a falsidade “religiosa”, nunca foi direito que confirma alguma autoridade; é malícia satânica porque perde as almas e arruína os povos em nome da religião Católica! E querem que tais mestres de perversão sejam recebidos como papas; enviados de Deus para salvar!

Contra essa impiedade São Paulo diz na sua Epístola: «Nós, porém, devemos sempre agradecer a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, porque, desde o início, Deus vos escolheu para serdes salvos pelo Espírito que santifica e pela fé na verdade. Para isso é que Ele vos chamou por meio do nosso Evangelho, a fim de possuirdes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, irmãos, permanecei firmes e conservai as tradições que vos ensinamos de viva voz ou por meio da nossa carta». (Ib. 13-17).

Aqui é preciso deixar um grave apelo a quem reconhece as doutrinas perversas do Vaticano II, que desonra a Igreja e perde as almas, mas aceita a autoridade de quem as promove em modo pertinaz. Se até hoje pode ter havido uma resistência invencível a discutir a legitimidade de tudo que está coberto, bem ou mal, pelo aspecto papal, esta não mais pode ser justificada na fé se, depois de um próximo conclave, se persevera em reconhecer como Vigário de Cristo, quem for eleito, não para confirmar a Sua Palavra e Ordem cristã, mas para substituí-la com uma nova ordem mundial anticristã. Isto deve ser desde já considerado, antes que seja tarde para a salvação própria e do próximo.

« Por fim, irmãos, rezai por nós, a fim de que a palavra do Senhor rapidamente se propague e seja glorificada, como acontece entre vós. Rezai também para que Deus nos livre dos homens ímpios e maus, porque a fé não é de todos. O Senhor, porém, é fiel. Ele vos manterá firmes e vos guardará do Maligno. Temos plena confiança no Senhor de que fazeis e continuareis a fazer o que mandamos. Que o Senhor vos dirija o coração para o amor a Deus e a perseverança de Cristo.» (Ib. 3, 1-5).

Tudo indica que não nos resta hoje outro recurso oferecido por Nosso Senhor, que apelar-nos ao Imaculado Coração de Maria, nosso refúgio, e cujo triunfo foi prometido, porque desde a aurora dos tempos, sabemos que será a santa Mãe, a Mulher da Gênesis e do Apocalipse a abater a cabeça da serpente demoníaca; a vencer toda pérfida heresia desse mundo religioso de unidade desintegrada pelos seus falsos pastores!

II - A ORDEM DO PAI E A NOVA DES-ORDEM MUNDIAL


Por Arai Daniele

Há que lembrar sempre que o mundo não precisa de uma contra-revolução, mas do contrário de uma revolução. E isto se explica bem na questão da Ordem cristã, conspurcada pelas novas "ordens" mundiais e conciliares, porque estes escritos na defesa da Ordem de Deus Pai, não são tanto um ataque às desordens citadas, mas a exaltação da inestimável importância da verdadeira Ordem, que é denigrada.

Em outras palavras, há que ocupar-se do mal efêmero para fazer resplender o Bem eterno. Ou se ainda não é bastante claro, a ofensiva contra a operação conciliar de prelados desviados, desde João XXIII a Bento XVI, não visam tanto esses homens espiritualmente decaídos, mas a desordem que causa tal queda, consistente na revolução "religiosa" contra a única Ordem, que é divina e portanto indispensável e vital. Nisto, ver o assim chamado "sedevacantismo" como atitude negativista, inclusive face ao Papado, é redondamente errado. Testemunhar a contingente vacância da Sede papal, não é contra, mas a favor da Sede da Verdade, que é o termo mais alto da Ordem divina confiada aos homens: da autoridade de Deus Pai para a ordem no mundo. Esta se revela hoje vazia das verdades católicas neste terrível interregno, em que falsos pastores estão empenhados na homologação da "nova ordem" consistente na fusão de planos revolucionários com os Desígnios divinos, da cidade mundana com a Cidade de Deus, na total confusão do Direito natural e divino com um vão iluminismo de direitos humanos, extensíveis também aos animais, a tudo o mais e também ao mal (veja aborto)!

Quando Deus criou o homem e adotou a analogia de Pai para revelar a Sua Ordem à inteligência humana, foi dado às nossas consciências, formadas nessa Ordem, o poder de dominar a terra para cultivar essa ordem, nunca para que alguma mente humana enveredasse pela loucura de inventar uma nova ordem para a sua vida física ou espiritual. Pode alguém deduzir por si mesmo um fim último de sua existência? Isto seria ainda mais absurdo que inventar uma nova ordem matemática, lógica ou religiosa.

Como poderia o homem, feito de corpo e alma espiritual, guiar a sua vida pessoal ou social para um fim superior, desconhecendo o fim último de sua existência? Para isto nos foi dada a Revelação. E no entanto, justamente "papas" e clérigos que se dizem católicos, que exibem ornamentos para demonstrarem uma autoridade que vem de Deus para confirmar a Fé na Sua única Ordem, vão aí proclamando uma "nova religião mais universal" porque passou a ter por objetivo, por fim último, a união de toda a humanidade acima de qualquer credo especial, a saber: o Cristianismo de Deus Uno e Trino.

Note-se a medonha inversão lógica: a humanidade não deveria mais almejar à unidade no culto do Bem e da Verdade, mas o bem e a verdade estariam a serviço dessa união! Para que? Para o culto da mesma felicidade, segurança e conforto na paz do ser humano nesta terra! Grandioso! Pena que tal objetivo seja justamente o avesso da realidade do homem decaído pela própria rebelião e que na primeira ocasião vai abusar de seu próximo. Logo, precisa ser remido e formar a sua consciência na Palavra e no Sangue do Redentor divino para literalmente deixar de ser besta. Para isto Jesus Cristo instituiu a Igreja e pôs no seu vértice um pastor para a missão de confirmar essa Fé e difundir sua missão de tudo instaurar na Ordem divina, que é cristã.

O Papa é uma autoridade delegada para unir nessa missão o mundo humano.

Imaginem agora um clérigo apresentado e vestido como papa, que dispõe de recursos sem fim para essa missão, mas cuja mente é condicionada pela ereção de uma religião melhor, isto é que inclua todas as idéias, espiritistas ou protestantes, sionistas ou muçulmanas, gnósticas ou agnósticas, e tantas outras, para o "sublime" objetivo de unir os homens numa "nova ordem mundial", fim supremo de sua "nova igreja conciliar". Pode um católico ouvi-lo?

Uma resposta apenas positiva só pode vir de fanáticos que ainda não entenderam terem aderido à "religião do homem", desse homem... por obediência! Fidelidade que implica pelo menos cumplicidade com as suas novas deletérias doutrinas.

Passemos então, de novo, ao conteúdo dessas doutrinas ordenadas à nova fé no homem que deve fraternizar com todos neste mundo de muitas confissões e conflitos.

Com o Vaticano II novas idéias foram instauradas a partir de novas "teologias", consideradas mais adultas, porque iam além do velho e "acanhado" cristianismo!

O mestre principal disto foi o jesuíta Rahner, que elaborou a nova ficção religiosa do "cristão anônimo", tipo universal que era cristão sem precisar nem de sabê-lo!

A "coisa" já havia sido condenada pela Igreja, mas agora aparecia proposta por um doutor de aspecto respeitável e ajudado por fátuos "pensadores" religiosos, como De Lubac, Schillebeeckx, Ratzinger, Congar, o triste "humorista" Hans Kung, e outros mascarados no palco que representava a rebelião "católica". Sim, porque só no teatro de nosso "século do nada", como escreveu Gustavo Corção*, se viram tantos teólogos erigir as próprias idéias a "revelação" e elucubrações pessoais a realidade, na modernística "equivalência entre consciência e Revelação".
A comédia desta aberração delituosa, acusada por São Pio X, mas reiterada por João XXIII, foi recitada com aplausos na assembléia do Vaticano II.

* Gustavo Corção declarou depois que o título justo do livro seria "Século da Mentira"!


A antropocêntrica Redenção universal
Que todos os homens persigam a felicidade ninguém pode negar, mas no que essa consista e quais os meios para atingi-la nenhum homem pode sabê-lo por si, sem ouvir Quem sabe e o revelou. A Revelação dada com a autoridade de Deus é, em teologia, o principio objetivo do conhecimento, daquilo que todos precisam saber para seguir os caminhos do Bem e da Verdade na vida pessoal e social.

Com a Redenção, a vontade do homem, ajudada pela Graça, recuperou a capacidade de aderir ao Bem e à Verdade. A Redenção aplica-se a todo homem que, convertido, acolhe com a própria vontade a Vontade divina para ser salvo. Por tê-la anunciada, a Igreja sempre enviou seus missionários, dos quais muitos foram martirizados.

A poluição desta fonte de conhecimento essencial, que é principio da autoridade, é letal para a formação das consciências de todos os homens e por isso, para o governo da sociedade humana. Mas infelizmente o que aconteceu com a Reforma protestante, contra a autoridade católica, foi ampliado com a "nova teologia", já condenada em 1950 pela Humani generis, mas introduzida festivamente com o Vaticano II.

Mencionamos antes os teologoides colegas de Rahner. Agora há que falar de um seu discípulo que, vestido de cardeal, dispôs de maior poder. Trata-se de Karol Wojtyla, promotor da nova "teologia" do Padre Henri de Lubac, que já em 1938 dizia que Cristo, com a sua revelação, revelou o homem ao homem. Esse Jesuíta, atingido pelo veredicto de Pio XII, seria, porém, elevado a cardeal por Wojtyla, feito João Paulo II. Isto suscitou vivazes reações. Na França o jornal Présent, 7/1/1983, releva o contraste entre a complacente apresentação atual de "um dos maiores teólogos franceses", com a sua suspensão do ensino por parte de Pio XII. "Pergunta-se com freqüência porque o padre Wojtyla, que fez em Roma seus estudos teológicos sob Pio XII, não se referiu quase nunca aos ensinamentos doutrinais do grande Papa". A razão é que ele escolhera a teologia de De Lubac contra Pio XII e com isto as noções da "nova teologia" descabelada, que o cardeal Siri (Gethsemani) acusou dizendo: "Que sentido tem tal afirmação? Ou Cristo é unicamente homem ou o homem é divino".

Isto hoje é parte do Vaticano II. Mas quando foi que esta idéia entrou num documento vaticano? Foi com a Gaudium et Spes (GS), da velada lavra de Karol Wojtyla, que hoje não é mais capítulo de livros pouco conhecidos, mas tema da primeira encíclica do dito cujo: Redemptor hominis (Rh), onde domina a frase: "Pela sua encarnação o Filho de Deus uniu-se de certo modo a cada homem".

Hoje a idéia de "redenção universal" aliena sutilmente a responsabilidade final da vontade do homem, que passou a crer na salvação através de uma pessoal "boa vontade", pela qual a objetividade divina é interpretada, não como conhecimento absoluto, mas na luz incerta da razão humana. É a base velada da atual crença ecumenista; um naturalismo religioso que propõe para resolver todo problema e confusão do homem contemporâneo, uma fé pessoal segundo as próprias idéias.

Esta saída ecumenista vai além do que os heresiarcas e desviados do passado ousaram propor. O caminho seguido por Pelágio, Erasmo, Lutero, foi retomado e ampliado por "teólogos" como Rahner, De Lubac e uma miríade de neo-modernistas, para serem aprovadas por clérigos e "papas" que se quer tenham autoridade para mudar os termos da salvação do homem, que implica sua inteligência e vontade.

Ora, "Deus que nos criou sem o nosso concurso, não pode salvar-nos sem este", pela razão que é a alma espiritual que deve salvar-se com a vontade associada à inteligência. E a existência destas capacidades, à diferença da alma que é eterna, depende do cérebro e dos sentidos. Morto o corpo, ficou concluída para sempre a escolha. Não há retorno, nem outra prova, nem fictícias reencarnações. A adesão ao Bem ou ao mal, através da vontade, é definitiva, quanto a mesma morte.

A inteligência e a vontade livres do ser humano podem e devem ser ordenadas à Ordem revelada pelo Pai, são os Mandamentos da Lei, os ditames do Evangelho, o ensinamento da verdadeira Igreja, que não são implícitos nas consciências, mas verdades cristãs que devem ser objetivamente apreendidas.

Portanto o tal cristão anônimo, remido sem seu conhecimento e vontade pessoal porque, segundo a nova religião da GS e da Rh, é nada mais e nada menos que uma mentira forjada pelos artífices conciliares da nova ordem mundial para a animação "cristã" desta na fraternização ecumenista de toda crença, ideologia e besteira!

Se no passado o alvo principal da revolução mundial passou a ser o Cristianismo que ensinava que o mal provém do íntimo do mesmo ser humano, decaído no uso da sua inteligência e vontade para seguir a ordem divina do bem, com a revolução conciliar isto assumiu a direção de uma atualização, às avessas, do Cristianismo, que dispensava a vontade humana. Tanto, a Encarnação do Verbo resolvia o problema na base da tal "dignidade humana", pela qual crer ou não no Bem revelado não importa quanto ter um sentimento, dito sincero, do bem geral.

Não é mais somente o germe da "religião" do homem que por orgulho se faz deus, em luta com a Religião de Deus que se fez Homem para remir-nos de nossa atávica obscuridade, mas a "fé" no poder do homem de remir-se no entorpecente incenso da própria "dignidade".

A real guerra do mundo: entre a cidade do homem rebelde e a Cidade do amor de Deus; entre as duas ordens opostas: a rebelde e a cristã, ficava virtualmente, mais que resolvida, cancelada por obra dos novos "salvadores conciliares" que haviam paciente e hipocritamente nidificado sua revolução para transformar a mesma Igreja a partir de seu interior, de suas veias e entranhas, como havia advertido São Pio X cem anos atrás. Tudo para proclamar o direito humano à liberdade até de escolher qualquer credo e ordem de concepção humana, incluindo a liberdade deles mesmos de mudar a religião que dizem professar. Tudo em nome daquela dignidade humana para cuja garantia Jesus Cristo teria sofrido Sua Paixão e morte, deixando Sua Igreja para explicá-lo, não logo com os Apóstolos, mas dois mil anos após com estes falsos cristos!

Há quem assegure a dignidade papal de tais falsários, enfurecendo-se se ouvem que católicos "ousam" não aceitar tais falsos profetas como enviados de Deus!

Essa clamorosa contradição da hora presente haveria que testemunhar dos tetos, mesmo sabendo que há atiradores selecionados, cabeças de couro voluntários, que há tempo se ativam para abater quem puser em dúvida a validade na fé de tais reformistas, que em verdade seriam detestados até pelo mesmo Lutero. Para este o homem se salva pela fé, mesmo sem obras. Para conciliares como João Paulo II, o homem já está salvo pela boa vontade da redenção universal, mesmo sem a fé! E aqui seria justo lembrar que São Pio X menciona que os modernistas eram detestados pelos mesmos protestantes.

O Vaticano atual às vezes lembra a fórmula dogmática de que não há salvação fora da Igreja (Dominus Iesus), mas com que sentido? Isto porque pouco tempo depois, João Paulo II, que quis esse documento, declara numa audiência: "todos os justos da terra, mesmo quem ignora Cristo e a sua Igreja e que, sob o influxo da graça, procuram Deus com o coração sincero são, chamados a edificar o Reino de Deus" (João Paulo II, 6.12. 2000, referindo-se ao documento Lumen Gentium -16). Isto indica que a salvação seria possível mesmo para quem está fora da Igreja e ignora a fé de Jesus Cristo, que ele deveria transmitir. Trata-se de uma contradição religiosa que na verdade representa a adaptação da verdade católica a um liberalismo religioso, que a todos quer agradar. Descarta-se a questão da "vontade", como se essa não fosse central na Religião do Filho que veio para fazer a Vontade do Pai e nisto dar-nos um exemplo inestimável. Questão central também na definição da Doutrina, que ocasionou tantas heresias como a monofisita e a condenação do Papa Honório.

A Religião alterada
Eis a verdadeira novidade, que se deveria testemunhar a "tempo e contratempo": a idéia herética de uma terceira via à salvação, aberta a todos porque alijou as razões doutrinais referidas à vontade humana, ficando só numa vaga boa vontade.

Isto não pode deixar de perturbar as consciências formadas na Tradição. Além disso, a questão de Fátima acentua esse desvio. Para os católicos, confiantes que uma mensagem celeste não pode ser nada menos que uma grande luz sobre a vida dos homens em geral, como foi a outra parte da Mensagem, a interpretação vaticana suscitou decepção e suspeita. Os fiéis esperavam a revelação de uma verdade assombrosa que sacudisse o torpor das consciências e iluminasse a Fé. Mas assim não foi, pelo contrário, a interpretação de Ratzinger foi orientada a desvalorizar as palavras do Segredo, em especial a de "conversão", que implica a reta vontade.

Para guiar o processo de formação do Reino de Deus, na Sua Ordem, foi constituído o Seu Povo e depois a Sua Igreja de conversão na religião que cultiva a Fé, a Esperança e a Caridade que são as fontes das Virtudes e do Amor, para consolidar uma sociedade harmoniosa e justa, na Ordem revelada do Pai que deve reinar nas consciências. Mas, depois da morte de Pio XII, o tema dominante passou a ser a necessidade de uma "nova consciência da Igreja", compreensível à luz da "nova evangelização" conciliar, em vista da "nova ordem mundial"!

É claro que se a tal "redenção universal" era uma chave indispensável para a operação ecumenista, em que todos os "anônimos" já estariam salvos pela tal boa vontade, havia ainda que considerar a chave principal da liberdade religiosa pela qual cada um escolhe a religião da verdade que mais lhe agrada. A este ponto é importante notar que o Vaticano II com a sua "liberdade religiosa" foi além do "Sillon" de Sangnier, condenado por São Pio X na sua "Notre Charge apostolique".

A revolução demo-cristã entendia reduzir o cristianismo a meio, a instrumento ao serviço de um novo humanismo. Essa redução, ou melhor, inversão da missão da Igreja e da Cristandade, é um grave desvio religioso que se traduz num desastroso erro social. No meu livro "L’Esprit désolant de Vatican II" (Delacroix, Dinard, 1997), trato da questão reproduzindo parte da encíclica Notre Charge Apostolique sobre o ‘Sillon’ e os ‘sillonnistes’, simplesmente trocando estes nomes por ‘Vaticano II’ e ‘conciliares’. Surpreende a justeza da descrição paralela das intenções e sentimentos desses conjurados de duas épocas sucessivas. Mas há uma questão em que os ‘sillonnistes’ foram superados pelos mais ousados ‘conciliares’. Vejamos então o texto em que o Papa São Pio X trata dos desviados que: «se proclament des idéalistes irréductibles, qu'ils prétendent relever des classes laborieuses en relevant d'abord la conscience humaine, qu'ils ont une doctrine sociale et des principes philosophiques et religieux pour reconstruire la société sur un plan nouveau, qu'ils ont une conception spéciale de la dignité humaine, de la liberté, de la justice et de la fraternité, et que, pour justifier leurs rêves sociaux, ils en appellent à l'Evangile, interprété à leur manière, et, ce qui est plus grave encore, à un Christ défiguré et diminué. [...] leur idéal étant apparenté à celui de la révolution, ils ne craignent pas de faire, entre l’évangile et la révolution, des rapprochements blasphématoires [...]». O original é em francês, mas há uma frase que deveria ser entendida em todas as línguas pelo estupor que revela: "Le premier élément, de cette dignité est la liberté, entendu en ce sens que, sauf en matière de religion, chaque homme est autonome". (O primeiro elemento desta dignidade é a liberdade, entendida no sentido que, salvo em matéria de religião, cada homem é autónomo".) Pois bem, o Vaticano II vai ampliar a teoria condenada do Sillon além dessa excepção limite que o mesmo Sillon ainda excluía "em matéria de religião". A declaração Dignitatis humanae (Dh) do Vaticano II, proclamando o ‘direito à liberdade de religião’, isto é, a autonomia de cada um em matéria de religião, consagra esse "direito" que sempre foi negado pelo Magistério da Igreja e pelos Papas até Pio XII, mas foi aprovado pelo abominável Vaticano II. E tal direito estaria acima de todos os outros, porque a mesma Dh do Vaticano II declara que o direito à autonomia de todo homem, também em matéria de religião, está fundada na Revelação! Nada menos! Deus quer a liberdade religiosa! Que é como dizer: Deus quer a rebelião humana; quer que caia em tentação e rapine o fruto proibido! Isto na maior confusão entre a liberdade psicológica dada por Deus à Sua criatura, e a liberalidade culposa de escolher o erro e o mal, que nunca foi direito. Quanta malícia que perde as almas e arruína os povos em nome da religião Católica! E querem que tais mestres de doutrinas pervertidas sejam recebidos como papas!

O silêncio dos que nunca deveríam ter falado...


O Falso catolicismo dos que vestem pele de Cordeiro





Ultimamente temos visto acontecimentos estrondosos no âmbito da religião e política mundias. De um lado temos uma tremenda crise econômica, que perdura até o dia de hoje e que tem a Obama como o seu redentor, e de outro temos Ratzinger com a sua nova "encíclica", que deposita sua fé na autoridade de um governo mundial para resolver os problemas da humanidade.





Rifan e Ratzinger: Eis a verdadeira volta dos que não foram... Dos que nunca foram católicos!


O ponto mais interessante para nós é o referente à religião. Ora, diante de tal dilema ecumenista e mundialista - que é confirmado pela Igreja Conciliar -, onde estão os "defensores" da dita Tradição? Onde estão os lefebvristas e fedelistas nesta hora?



A atitude deste homem corresponde ao seu sobrenome?


Fellay em 1999: "No Vaticano há quatro Lojas Maçônicas." Em qual delas ele pretenderá entrar?


O que vemos é que eles simplesmente se calam, pois querem omitir aquilo que não lhes agrada. Assim tomam eles uma atitude idêntica à dos modernistas, ou seja, aderem somente àquilo que interessa para a sua "Tradição" fundada em figuras humanas. Para eles o adágio é o seguinte "extra fraternitas (FSSPX) nulla salus". Eles, que se consideram os únicos combatentes, na verdade, não passam de um desvio do alvo verdadeiro.


Basta! Muito tempo foi perdido com as contradições lefebvristas. Agora é o momento favorável para uma reação verdadeira, genuína. Chega de conversa fiada:


"Ah, não podemos julgá-los, só um papa no futuro poderá determinar..."

"Ah, mas você esta equivocado, Bento XVI está restaurando a tradição..."


Ora, este primeiro argumento é falacioso, pois vai contra o Direito Divino que ensina que todo o que não crê 'JÁ ESTÁ JULGADO'. Pio XII ensinou que o delito de heresia separa pela sua natureza da Igreja (suapte natura) e Paulo IV afirmou que o papa desviado (a fide devius) está privado do cargo sem que seja necessária alguma declaração ("sine ulla declaratione"), pois, segundo o que também ensinou Leão XIII, "é absurdo que presida na Igreja quem está fora dela".


Estes que dizem que Bento XVI está restaurando a Tradição Apostólica, deveriam olhar para a oração na Mesquita e para a sua nova "encíclica" que clama por uma Nova Ordem Mundial do Anticristo. Não adianta. Esta "encíclica" é indefensável!


Agora podemos dizer - após tanta perda de tempo com FSSPX, Padres de Campos, Fedeli e Cia - que este silêncio pertence àqueles que nunca deveríam ter falado, pois o verdadeiro espírito católico está firmado no cumprimento de uma ordem de Deus em relação à prostituta conciliar que a todos se entrega: "Sai dela povo meu!" (Ap 17)


Estes cães que não ladram diante de tal apostasia, não merecem a consideração de um católico em sã consciência, mesmo que sejam possuidores de certa erudição. A erudição isenta de sabedoria só servirá para a condenação dos mesmos. Se eles fossem verdadeiros combatentes, estariam denunciando a grande apostasia que grassa em nossos dias sob o falso pontificado de Joseph Ratzinger!


Que a verdadeira resistência católica se fortaleça e que, por meio dela, Nosso Senhor Jesus Cristo reine nas almas.


Que se multipliquem os fiéis, sacerdotes e bispos sedevacantistas pelo mundo.


Que o Evangelho verdadeiro, e não o ecumenista, seja pregado para que, enfim, Cristo venha para destronar o Anticristo.



"Ut inimicus Sanctae Ecclesiae humiliare digneris"



Indigno servo de Cristo Deus,

Fernando H. Lopes+

A ORDEM DO PAI E A NOVA DES-ORDEM CONCILIAR

Por Arai Daniele

A Fé cristã formada na sublime analogia de Deus que se revelou Pai revela o grande desígnio divino de formar a família universal dos homens, seres livres, criados a imagem e semelhança de Deus, para o culto de conhecê-Lo e amá-Lo.
Se aqui a palavra "família" parece estreita para um "projeto" de tal dimensão, pode-se usar o termo "reino", mas sempre para significar o povo inumerável de filhos que, à imitação do Filho perfeito, se unem com a intenção de cumprirem a vontade do Pai e participarem da excelsa Aliança, segundo a Sua Ordem.

Assim, a inteligência e a vontade livres do ser humano podem ser ordenadas a tal idéia superior. Seguindo a Ordem revelada pelo Pai, as almas e as sociedades podem encontrar já na terra harmonia, progresso e paz, na Verdade, no Bem e no Belo. Se, porém, transgridem essa Ordem, não edificam outra "ordem", mas só confusão, conflitos e guerras.

Desgraçadamente foi este o ponto de partida de nossa espécie.

O desejo de ordem e paz pessoal, familiar, nacional ou internacional, ficou assim mesmo como promessa remota para uma humanidade decaída.

Ora, no plano histórico, os reinos e os grandes impérios do passado miravam a impor a própria idéia de ordem no mundo conhecido; esta era imperfeita, mas de teor tradicional, no sentido que os princípios e valores, reconhecidos para o bem geral, provinham dos pais e antepassados e portanto de Deus.

Guerras, violências e desordens foram sempre uma constante na história, mas só nos séculos mais recentes alguns homens começaram a cogitar que afinal a ordem antiga, de teor religioso, não conseguira evitar os males das guerras e outros, portanto seria, se não falsa, inútil. Além disto, ou principalmente em vista de progressos conquistados no modo de viver, os homens começaram a pensar que poderiam também produzir valores aptos a banir a inclinação humana ao mal. Afinal – pensaram - o homem selvagem é naturalmente bom, pacífico e generoso; deviam ser, pois, as estruturas tradicionais, repressivas e inibitórias, a degradá-lo. E com isto começou a fase moderna da crescente contestação da tal velha ordem tradicional, a favor de uma nova ordem de consistência evolutiva, revolucionária.

Foi o avanço da grande "descoberta" dos tempos modernos, ou seja, que a causa dos males terrenos estaria justamente na dependência social de valores de ordem tradicional e religioso, que assim se demonstrariam falsos.

E assim se chegou ao tempo das grandes revoluções e guerras para eliminar para sempre as supostas "causas religiosas" do atraso humano, fator de ódio, guerras e conflitos! O alvo principal passou a ser o Cristianismo, que ensinava que o mal provém do íntimo do mesmo ser humano, decaído na origem dos tempos por causa da rapina de uma liberdade letal, porque de conseqüências ignoradas.

Era o germe da "religião" do homem que por orgulho se faz deus, em luta com a Religião de Deus que se fez Homem para remir-nos de nossa atávica obscuridade.

Esta è a real guerra do mundo: entre a cidade do homem rebelde e a Cidade de Deus descrita por Santo Agostinho. Entre duas ordens opostas: a rebelde que se tornou Revolução mundial contra a Fé da Cristandade e a Igreja de Deus Pai.

Mas atenção, aqui há recorrer à sabedoria católica. Quem a preserva não pode que identificar nos nossos tempos ter nidificado dentro da mesma Igreja esta revolução para mudá-la, ao ponto que de seu interior se proclamasse o direito humano à liberdade até de escolher qualquer credo e ordem de lavra humana.

É dessa clamorosa contradição da hora presente que vamos falar aqui, voltando ainda à questão fundamental da Ordem cristã, que, como a verdade, é uma e não se limita à Igreja, mas por meio desta ao mundo inteiro; é universal.

De fato, para guiar o processo de formação do Reino universal de Deus, segundo a Sua Ordem, foi constituído o Seu Povo e depois a Sua Igreja. E’ o campo da Religião que cultiva a Fé a Esperança e a Caridade que são as fontes das Virtudes e do Amor, que por sua vez são o cimento de toda sociedade que se preze.

Tudo isto em relação direta com o projeto divino, razão porque na vida humana e nas consciências, tudo está ligado, no bem como no mal, ao conceito da Ordem revelada pelo Pai, preservada, a liberdade para acolhê-La ou para transgredi-La.

Tenhamos isto em mente, porque uma vez que o Criador adotou a analogia do Pai para revelar a Sua Ordem à inteligência humana, como imaginar que algo neste mundo de consciências possa ser alheio ao Seu desígnio paternal? Não foi dado às consciências humanas, formadas nessa Ordem, o poder de dominar a terra? Ou poderia alguma mente humana inventar uma nova ordem física ou matemática, biológica ou lógica? Nesse sentido, não seria ainda mais absurdo que fosse o ser humano mesmo a inventar a razão da origem e do fim último de sua existência?

Não envolve a Ordem revelada tudo na vida familiar e social, nacional e mundial?

E que pensar de clérigos que inventam uma "nova religião mais universal"?

Pois bem, nos tempos modernos, ecoaram vozes dentro da mesma Igreja de Deus, no sentido de separar, como era moda política, o ser humano espiritual do carnal, a ordem do estado temporal, leigo, mundano, da Ordem para a qual existe.

Era o monstrengo da "nova ordem mundial", em cujo nome se pretendia arquivar a Ordem cristã como obsoleta! Um seu paladino foi o "Sillon cristão", que então foi prestes condenado por um papa santo e de visão lúcida sobre os seus efeitos.

Vejamos o que escreveu São Pio X na "Carta sobre o Sillon": Não se poderá edificar a cidade do mundo em modo diverso de como Deus a edificou; não se poderá edificar a sociedade, se a Igreja não tiver nela estabelecido as bases e não dirige suas tarefas; não! A civilização não de inventa e a nova cidade não se edifica entre as nuvens. Esta foi, esta existe: é a civilização cristã, é a civilização católica. Se trata só de instaurá-la e de restaurá-la sem cessar sobre as bases naturais e divinas contra os ataques sempre recorrentes da malsã utopia, da rebelião e da impiedade: OMNIA INSTAURARE IN CHRISTO"!

Esta Carta era a resposta a uma das mais insidiosas revoluções que estavam penetrando no interior mesmo da Cristandade e da Igreja para transformá-las, adaptando-as às novas ideologias para uma "nova ordem do mundo", fundada nas idéias revolucionárias de liberdade, como valor supremo, de igualdade, como utopia obrigatória, de fraternidade, que dispensa toda paternidade divina.

Seus resultados eram historicamente conhecidos e nada apreciáveis, razão porque as revoluções se sucedem, degradando os homens e as sociedades.

A paz e a justiça não podiam, pois, ser um fruto nem da civilização do homem rebelde, nem, menos ainda, de suas elucubrações de "ordens" revolucionárias, iluministas, liberais, materialistas, nesse Frankenstein horrendo que é a ONU, intenta a substituir o Direito natural e divino com suas malsãs utopias!

Veja-se como opera para implantar o aborto entre as nações.

Mas nada disso é considerado, porém, pelos novos clérigos e papas conciliares, que desde João XXIII foram instalados no Vaticano para operar as aberturas modernistas tipo Sillon, que procuram acordos de todo tipo com o objetivo de obter finalmente uma nova ordem de democracia mundial com animação cristã!

Este o programa que já desde meio século não é segredo para quem quer ver.

De fato o Vaticano II foi convocado para, por meio de mil ambigüidades, instalar a nova doutrina ecumenista requerida pelas lojas e poderes do mundo. O próprio líder vaticano, Joseph Ratzinger o confessou numa entrevista a V. Messori: que o fim do Vaticano II era «incorporar os valores de duzentos anos de Iluminismo»!

Isto é lembrado para quem ainda não compreendeu que tudo foi nessa direção desde a hora em que elegeram Roncalli o modernista filo mação, que, conforme fora instruído, assumiu o nome de João, do antipapa João XXIII. Prelado de uma "simplicidade genial" segundo Jean Guitton, ele fora ali guindado também para assumir o plano, elaborado desde há tempo, para transformar o Cristianismo. Clérigo de poucas letras ele se limitou a retocar ambiguamente encíclicas revolucionárias como a "Pacem in terris", base da liberdade conciliar de consciência e religião, mas não só. Testo inspirado na "Declaração dos Direitos do Homem": direitos a "liberdade", ao bem de uma "paz universal" independentes da Ordem natural e divina, mas segundo princípios maçônicos e assim divulgada e aplicada logo em todo o mundo!

Não por acaso um autor mundano, mas de formação católica, como o escritor Anthony Burgess, reconheceu logo e testemunhou contra o pelagianismo ínsito na obra de Roncalli, para quem o homem era essencialmente bom. Idéia que se demonstrava de periculosidade mais que obscura, razão porque João XXIII seria um personagem mais nefasto que Hitler: «o homem mais perigoso que o século produziu» (O Estado de S. Paulo, 10.1.1982). Tal exame, mandado para o Vaticano, foi desenvolvido no romance "Os Instrumentos das trevas", (Rizzoli, Milão, 1983).

O Discurso de abertura do Vaticano II de João XXIII, no dia 11 de Outubro de 1962, foi pelo menos inspirado pelo Arcebispo de Milão, Mons. G. B. Montini! Nele Roncalli e Montini, depois Paulo VI, claramente manifestaram a chave da heresia modernista: "... esta doutrina cristã seja estudada e exposta através das formas de pesquisa e formulação literária do pensamento contemporâneo".

Serve tal "princípio" para fazer passar qualquer testo e até um concílio de "dogmático" (verdade divina) a "pastoral" (necessidade dos tempos), substituindo à certeza da "verdade católica" (intragável), as amenas utopias dos novos exegetas. Isto porque a Tradição devia "aggiornarsi" às conquistas das ciências obtidas com o intelecto do homem, cada vez mais progredido e adulto.

Verdades mais credíveis seriam uma real necessidade tanto para a vida religiosa, como civil, cujo governo carecia de uma "nova ordem" de teor mais científico!

Os novos clérigos tinham por certo que os princípios cristãos devidamente retocados podiam ajudar, mas não mais guiar uma sociedade civil, livre de escolher seus princípios religiosos e morais, eliminando toda imposição de verdades dogmáticas. Com isto promoviam o redimensionamento da autoridade da Igreja - que é a autoridade de Deus mesmo - que pretendiam representar!

É claro que isto evoca a 2ª Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses sobre o "mistério da iniqüidade". Mas também esta, ou especialmente esta, deveria ser revista como todo o resto!
Todavia, Roncalli não era muito mais que o "bom" precursor de outros "mestres" da desvairada revolução conciliar, a começar por Montini, eleito como Paulo VI.

Agora este podia rasgar a fantasia com a sua revolução de Outubro no Vaticano e suas declarações incríveis, abertamente contrárias ao Magistério precedente.

Leia-se: "... Nós desejamos assumir as palavras importantes empregadas pelo Concílio; palavras que definem seu espírito e, numa síntese dinâmica, formam o espírito de todos os que a ele se referem, que estejam ou não na Igreja. A palavra "novidade", simples, muito cara aos homens de hoje … nos foi dada como um programa… nos chega diretamente das páginas da Sagrada Escritura… Jesus, nosso Mestre, não foi Ele mesmo um inovador? … É justamente assim que o Concílio se apresentou a Nós (ainda se usava!). Dois termos o caracterizam: "RENOVAMENTO" e "AGGIORNAMENTO"… Este responde à característica de nosso tempo, todo engajado numa enorme e rápida transformação que cria novidades em todos setores da vida moderna. De fato, não se pode deixar de fazer espontaneamente esta reflexão: se o mundo inteiro muda, a religião não mudará também? Entre a realidade da vida e o cristianismo, especialmente o catolicismo, não há um desacordo, uma indiferença, uma incompreensão, uma hostilidade recíproca? A primeira, corre; a outra, não se move, como podem ir de acordo? Como poderá o cristianismo pretender, hoje, ter influência sobre a vida? É por esta razão que a Igreja empreendeu reformas, especialmente depois do Concílio. O episcopado está para promover a "renovação" correspondente às necessidades presentes… a Liturgia é reformada … a educação cristã reexamina os métodos da sua pedagogia; estamos para revisar e renovar todas as legislações canônicas.»

Ele quer ser inovador para imitar Jesus. Assim inova a Doutrina da Igreja, que vai além das necessidades dos tempos porque é de Jesus. Renova, pois, Jesus mesmo, e assim abjura também de passagem ao juramento dos vigários de Cristo de nada inovar na essência da Igreja imutável! E quanto à Ordem cristã e divina, esse alucinado apóstata, despeja contra ela toda a sua aversão revolucionária, demo-cristã e progressista. Quem ainda não havia entendido qual é o teor da peçonha modernista, tem uma sua amostra nesta página de Paulo VI.

No "diálogo" da "Ecclesiam Suam", apóia o seu novo Cristianismo na capacidade e "meios humanos", excluindo a necessidade fundamental da Graça divina a fim de que a Palavra Revelada do Plano divino seja fecunda. Com o Vaticano II tudo isto deve ser apresentado como razão de diálogo humano em que a autoridade da Igreja se inclina à opinião do homem, "centro de tudo"! É o culto do homem!

Paulo VI dizia: "Nós todos, convencidos que a paz deve ter por base a justiça, seremos advogados da justiça." (4.X.65). Mas qual justiça? Pois Nosso Senhor ensinou: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e Sua Justiça e todo o resto vos será dado por acréscimo" (Mt 6,33). São João Crisóstomo comenta: "O Reino de Deus é o prêmio das boas obras, e a sua justiça é o caminho da piedade, pela qual se chega ao Reino." (Catena Áurea de S. Tomás de Aquino). Mas então o verdadeiro centro de tudo deve ser o culto da Vontade de Deus, à qual está ordenada a piedade humana; só dessa Vontade decorre todo bem, dado por acréscimo.

Para se compreender melhor a idéia à origem da revolução conciliar é preciso ler o discurso de Paulo VI na conclusão do Vaticano 2 (7.12.65) :

"A Igreja do Concílio se ocupou sobretudo de si mesma e da relação que a une a Deus e também sobre o homem tal qual ele se mostra realmente no nosso tempo: o homem vivo, o homem ocupado só de si, o homem que não só se julga centro de todo interesse, mas ousa afirmar-se princípio e razão de toda realidade [...] O humanismo leigo e profano por fim apareceu na sua terrível estatura, e pareceu desafiar o concílio. A religião de Deus que se fez Homem encontrou-se com a religião (porque tal é) do homem que se faz deus. Que ocorreu? Um choque, luta, anátema? Poderia acontecer, mas não se deu. A antiga história do Samaritano foi o padrão que orientou o concílio. Uma simpatia imensa o penetrou. A descoberta das necessidades humanas (tanto maiores, quanto maior se torna o filho desta terra) absorveram toda a atenção do nosso Sínodo. Vós, humanistas modernos, renunciantes das verdades transcendentes, dai-lhe ao menos mérito nisto, e reconhecei o nosso novo humanismo: também nós, nós mais do que ninguém, somos cultores do homem… Quanto aos "valores" do mundo contrário à transcendência: "foram não só respeitados, mas honrados, e suas iniciativas apoiadas, e suas aspirações purificadas e abençoadas."

Foi o lançamento da "Igreja do concílio" com seu novo humanismo que bendiz e honra os "valores" do mundo moderno: a liberdade, a igualdade e a fraternidade, em sentido anticristão, em nome do termo "amor" usado ambiguamente.

Diz Paulo VI: "Arriscamos um termo que pode parecer ambíguo, mas que se deve considerar na exigência de sua profundidade. É um termo sublime, de amor: amor pelo homem, primeiro valor da ordem terrestre… A paz, a verdadeira paz, a paz humana é um efeito do amor… Se queremos a paz, devemos reconhecer a necessidade de fundá-la sobre bases mais sólidas… A verdadeira paz deve ser fundada sobre a justiça, sobre o sentimento de uma intangível dignidade humana, sobre o conhecimento de uma inefável e feliz igualdade entre os homens, sobre o dogma (!) fundamental da fraternidade humana, isto é sobre o respeito e o amor devido a todo o homem na sua qualidade de homem" (14.11.70).

Logo, para Paulo VI, as "bases mais sólidas" para obter a paz e a fraternidade, não são as do respeito à Vontade de Deus Pai e da Sua Lei natural e divina, mas "o sentimento de uma intangível dignidade humana"… mesmo de ofende-Lo; "o reconhecimento de uma inefável e feliz igualdade entre homens", baseada no "dogma fundamental da fraternidade humana…" livre de ignorar Deus Pai!

As idéias de João XXIII, de Paulo VI e sucessores, não são outras que as do condenado "Sillon" demo-cristão, isto é, da revolução inoculada na Igreja para operar a mutação do cristianismo, por um estranho amor do homem!

À luz dos numerosos textos, atos e discursos conciliares, transparece agora sem véus este plano para que o mundo seja governado por um poder central que seja um produto democrático que reúna numa nova ordem as diversas ideologias revolucionárias que se impuseram no mundo, bem como um conjunto ecumenista de religiões que dialogam sem distinções. Mas tudo sem contar com a verdadeira natureza do homem e seu destino sobrenatural.

É verdade que de tanto em tanto os conciliares falam de Tradição, mas para voltar logo às "novidades" com a linguagem ambígua, própria dos modernistas.

Na leitura de suas "encíclicas", tanto se encontra disfarçada ruptura com o Magistério, quanto continuidade conciliar, baseada nas suas encíclicas anteriores.

Aqui há que citar a "Populorum progressio" de Paulo VI, na seqüência da proposta de governo central com referência na ONU, da atual "Caritas in Veritate" de Bento XVI, para entender que tal estranha dualidade de idéias iluministas, radicalmente incompatível com a doutrina católica, segue, porém, a regularidade de um plano que transparece no interior da Igreja há meio século; é a utopia da nova ordem: tentativa de associar o plano humanista da Maçonaria com os desígnios de Deus.

Estes autores revelam-se assim modelos atualizados dos clérigos imbuídos "de utopias"; dos prelados que "perseguem ilusões, sonhos pródigos, mas irreais!"… como São Pio X descrevia os "Chefes do Sillon há um século: "… a exaltação de sentimentos, a cega bondade de seus corações, o misticismo filosófico mesclado de Iluminismo… os havia arrastado para um novo evangelho no qual eles creram ver o verdadeiro Evangelho do Salvador…". Eis o "identikit" da nova velha classe clerical hoje no poder para executar o velho projeto modernista já condenado!

Isto através da ereção de uma "nova consciência da Igreja" que arraste as gentes para a "nova religião ecumenista mundial", que continuam a chamar "cristã"!

E agora sabemos que a operação ecumenista, que iniciou tendo em vista os tais "cristãos separados", hoje se estende a muitas religiões, em especial as do Livro, come se estas confessassem o mesmo Deus, que, porém não é Pai nem Trinitário.

Ora, justamente o Pai é negado, por exemplo, pelo Islamismo, professando a distância absoluta entre Deus e o homem, também no plano da palavra e imagem. Também o Judaísmo nega a existência e o exemplo do Filho encarnado, que fundou a Ordem divina do Cristianismo. Qual diálogo então é possível?

Logo, antes de prosseguir com a segunda parte desta exposição, que tratará das idéias de João Paulo II, para chegar ao projeto conciliar continuado por Bento XVI, há que concluir que este não tem realmente caráter religioso, mas anti-religioso porque para ele a religião é uma peça a serviço de um projeto iluminista de união da humanidade, sem distinções religiosas; projeto ao qual a Igreja católica está sendo subordinada pelos seus supostos chefes, na mais abominável inversão da Vontade de Deus Pai para o Seu Reino de salvação neste século.
 
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