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O Segredo da hecatombe papal




O Segredo da hecatombe papal


Mistério culminante da história moderna


(Arai Daniele)






Admirável é o modo como se manifesta a Providência que confundindo a malícia dos poderosos, faz chegar o pão da verdade aos filhos de Deus; a verdade do Magnificat e do Terceiro Segredo de Nossa Senhora de Fátima, que manifesta a perene intervenção da Misericórdia divina no mundo humano, intervenção excepcional dos nossos tempos.


O que ensinou a Igreja sobre isto? A Fé cristã se funda na intervenção de Deus na história através de Jesus Cristo, seu único Filho, concebido pelo Espirito Santo e nascido da Virgem Maria. E através da Sua Igreja essa intervenção divina na terra continua, na medida da ajuda que necessitam os homens de boa vontade. Ela se manifesta nos Sacramentos, no Magistério dos papas e quando surgem grandes perigos, nos eventos proféticos invocados pela Igreja.


Desde o início do livro do Génesis, é dito que será a Mulher a vencer o Inimigo de Deus e dos homens. Inimigo que, na nossa época, suscitou um leviatã com muitas cabeças mortais, das quais a mais feroz impôs a mentalidade revolucionária que é a um tempo libertária e liberticida. Esta domina no mundo, chegando a infiltrar-se nos vértices da Igreja.


A sociedade humana precisou pois de uma ajuda extraordinária para superar essa insídia mental e moral de dimensões inauditas.


Ora, a Igreja desde sempre invocou com orações ajudas sobrenaturais: sinais de alcance histórico, que desde os primórdios do Cristianismo manifestaram-se em horas crucias para suster a Fé, ameaçada pelo espirito do mundo, que cada vez mais seduz com seu poder as almas. E a intervenção de Maria, Auxilium Christianorum, sempre foi invocada nas horas cruciais com gratidão pelos Papas católicos.


Aqui começa a história do Evento de Nossa Senhora de Fátima.


O papa Bento XV, em plena guerra mundial, invocou publicamente a ajuda de Maria no dia 5 de maio de 1917. A resposta veio no dia 13 de maio seguinte. Para ajudar a humanidade Nossa Senhora, na vigília da revolução bolchevista, confiou a três pastorinhos de Fátima uma mensagem que avisava dos erros espalhados pela Rússia e dos perigos crescentes para o mundo, se os homens e os povos não deixassem de ofender a Deus: depois da devastadora I Guerra mundial viria uma "guerra pior". Se depois desta o mundo não mudasse, viria um terceiro flagelo, mais letal que as guerras; o momento mais crucial da história.


Pode-se deduzir que esse novo flagelo seria de natureza tão tenebrosa, tão incrível nos dias em que foi anunciado, que deveria permanecer como um segredo até a hora em que sua manifestação o tornasse visível à luz da Fé. Quando? Em 1960. Esta data merecia pois toda a atenção.


Era o momento misterioso em que a ameaça final para a Fé surgiria e, ao mesmo tempo, a causa desse perigo letal seria ocultada por uma enxurrada de enganos. Emblematicamente o Segredo ficou desde então encerrado no Vaticano. Não se acreditava mais na ajuda divina para as questões da terra, ou se temia uma intervenção extraordinária do Céu?


Esta dúvida faz vislumbrar um mistério, que precisa ser investigado.


Facto é que por mais de quarenta anos o Segredo ficou arquivado. Agora ele foi finalmente aberto, mas devido ao teor vago de sua interpretação oficiosa, os mistérios em volta dele, ao envés de cessarem, se multiplicaram; dando ensejo à muitas novas dúvidas e várias publicações, que se apoiam nas contradições.vaticanas quanto ao testemunho da Vidente Lúcia. O que haverá atras de tudo isto? Como é possível que a visão simbólica de um massacre a tiros do Papa com os seus séquito fiel, não tenha suscitado dos católicos uma consideração meditada do seu significado, mas que ao envés, prevaleça um conformismo apático diante de explicações que nada explicam ?


De facto, a conclusão do Segredo foi reduzida à lembrança, segundo o então card. Ratzinger, de imagens que as pastorinhas poderiam “ter visto em livros de piedade e cujo conteúdo deriva de antigas intuições de Fé”. Não é mais correcto dizer que são os livros de piedade que derivam de visões na fé? Além disso, o que os pastorinhos viram, o inferno e apos a hecatombe do Papa com o seu séquito, não foi a mesma para todos?


O incrível é que visão para ajudar a Igreja no momento mais crucial da sua história, a terceira parte do Segredo que seria ‘mais clara’ em 1960, agora é apresentada como um quadro fora do tempo.


Devido a este e a outros pontos obscuros na interpretação vaticana do Segredo, grande foi a decepção dos fiéis que esperavam a revelação da verdade assombrosa que viesse sacudir o torpor das consciências, guiando os homens na direcção da Fé. Essa verdade ainda não foi devidamente aquilatada. Ou melhor, algo ainda impede que ela seja reconhecida por todos; algo ligado, de um lado à malícia de alguns, do outro à uma reacção abúlica diante de uma visão que é claramente extraordinária, pela sua origem e conteúdo, não só religioso mas também histórico. Isto também se apresenta como um mistério no mistério.




A actual abertura do Segredo, não será parte do seu mistério ?




Finalmente, depois de quarenta anos, João Paulo II chegou à convicção que poderia levantar o sigilo do Segredo imposto por João XXIII, embora seu sentido, como veremos, lhe seja obscuro. A razão dessa iniciativa tardia parece ligada a uma operação der imagem pessoal. João Paulo sente que, em vista da enorme popularidade que atingiu no mundo, o risco de publicar a misteriosa mensagem poderia ser compensado pelo benefício que este traria à sua imagem de vítima dos perseguidores da Igreja. Foi assim que a recente conferência vaticana forneceu aos meios de comunicação social uma interpretação do Segredo com as forçadas alusões a João Paulo II expostas pelo cardeal Sodano e reforçadas pela nota teológica do então cardeal Ratzinger. Sua interpretação teria um caracter oficioso e definitivo, pois se pretende que com ela a questão do Segredo ficaria definitivamente superada.


O facto é, porém, que os aspectos obscuros dessas “explicações” são tantos que mesmo autores fieis às orientações provindas do Vaticano concluem que muito ficou por esclarecer. Exemplo disso é o livro recente do jornalista italiano António Socci, “Il Quarto Segreto di Fátima” (Rizzoli, Milano, 2006), onde esse autor confessa que, embora tenha inicialmente aceitado que todo o Segredo havia sido publicado e explicado, a grande quantidade de factos obscuros leva a pensar que muito ainda deve ser esclarecido. É disso que o livro passa a tratar.


A interpretação vaticana do Segredo concentrou-se justamente na pessoa que quis a sua abertura, mas sem explicar como esta serviu à sua defesa, e sem fornecer argumentos demonstrativos que a profecia do Segredo ficou exaurida. Reforçou assim a impressão que o objecto dessa operação era evidenciar uma áurea de martírio e de protecção divina sobre João Paulo II e seu pontificado revolucionário, sem responder às questões suscitadas pela visão da hecatombe papal. Esta ficaria em parte reduzida, segundo o então cardeal Ratzinger, a impressões religiosas dos pastorinhos após a visão do inferno - “projeções do mundo interior de crianças, crescidas num ambiente de profunda piedade, mas ao mesmo tempo assustadas pelas tempestades que ameaçavam o seu tempo” - que, privadas de sentido no mundo actual, não mereceriam maior atenção.




A perplexidade geral diante de interpretação do Segredo




A abertura do Segredo perturbou o íntimo de muitas consciências. Isto só pode ser devido a duas razões principais: o uso pessoal de um evento religioso de alcance universal; a percepção do contraste entre a piedade tradicional e a modernidade. Isto vem acentuar o desacordo espiritual entre o conteúdo do Segredo e o decenal aggiornamento da religião com os tempos. Só um espirito anti-profético poderia querer adaptar questões religiosas discordantes, que tanto perturbam as consciências fieis.


Aliás, a tentativa de conciliar questões opostas repugna até as consciências que são sinceramente pela modernidade.


Quanto aos católicos, confiantes que uma mensagem celeste não pode ser nada menos que uma grande ajuda para os homens em geral, como é a outra parte da Mensagem de Fátima, esta interpretação suscita tanto desapontamento como suspeita. De facto é evidente que o Segredo foi aberto não pelo seu conteúdo, que resta impermeável à inteligência do Vaticano actual e do mundo intelectual em geral, mas porque parecia adaptável à uma interpretação conforme à intenção do establishment conciliar. Qual? A desvalorização de análises do Segredo, que do alto de sua competência teológica o cardeal Ratzinger, taxou de especulações.


As principais análises sobre o Segredo tratam de duas questões:


- a grave crise actual da Fé, que é um facto evidente a todos, mas que a apresentação vaticana empenhou-se a ignorar ;


- a descontinuidade do Vaticano II e da sua hierarquia com a Tradição católica e com o Segredo de Fátima, que o actual Vaticano quer neutralizar.


Com isto se quiz ignorar a questão que agora volta à tona: que há uma intrínseca discordância entre a fé que o evento de Fátima recorda e o espírito que suscitou o novo curso religioso do Vaticano. Evitando essa discordância, também a interpretação dada pelas actuais autoridades vaticanas é falsa. E de nada adianta a anuência da Irmã Lúcia, que é a vidente e não a interprete do Segredo, como ela mesma reconheceu.


Diante destas constatações, a tentativa de rearquivar assim o Segredo fornece indicações, para “quem tem olhos para ver”, sobre o misterioso significado de tais operações.


A razão da Mensagem de Fátima só pode ser aquela que ela exprime explicitamente: a contínua intervenção da Divina Providência na vida dos homens, que só não é eficaz devido à oposição humana à verdade. A este ponto pode-se deduzir que até o pretexto que serviu para a abertura do Segredo, isto é apresentar como continuidade o que é na verdade ruptura, responde a um desígnio divino e oferece elementos para ajudar a Igreja de Deus a desmascarar as lacerações que lhe causaram as decenais rupturas modernistas na sua doutrina e liturgia tradicionais.


O ano de 1960 assinalou o início da surda mas clamorosa revolução que demoliu a Igreja católica, para erigir a outra, conciliar. E por isto, quem se propõe demolir a Tradição deve procurar também anular ou adaptar o Segredo de Fátima, que é autêntica porque a ecoa.


Eis um motivo da luta final entre o bem e o mal neste mundo; foi o que a Irmã comunicou ao Padre Fuentes em 1957, mas teve que retratar em 1959, sob a pressão do Bispo de Coimbra; redarguido pelo Vaticano ?




A chave de leitura para o Segredo de Fátima está na antinomia entre continuidade e ruptura; uma é a vida, a outra é a morte do Papa católico.


Vejamos o texto da Mensagem de Fátima para reconhecer a ajuda, até indirecta, para que os filhos de Deus enfrentem os males do mundo.


Faremos isto relendo o texto integral com as palavras de Lúcia que contêm a revelação da primeira e segunda partes do segredo de Fátima:


“O segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar. A primeira foi pois a vista do inferno! Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fôgo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas em os grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios destinguiam‑se por formas horríveis e acrosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu; que antes nos tinha prevenido com a promeça de nos levar para o Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio que teriamos morrido de susto e pavor.


Em seguida, levantámos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza: - Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores, para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar‑se‑ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra peor. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo dos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas.(* Terceira parte)





* Na 3a. Memória este é o lugar em que se situa o 3o. Segredo, ao qual devem seguir as palavras que a Irmã Lúcia acrescentou na 4a. Memória: - Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc.,




Esta frase foi ignorada na actual apresentação da Mensagem. Por que razão se ignorou justamente a frase que fala da preservação da Fé ?





Para entender o Segredo há que responder antes à certas perguntas.





Esta parte conhecida desde 1941 está introduzindo directamente a parte secreta com as palavras: - Se fizerem o que eu disser salvar‑se‑ão muitas almas e terão paz; mas - se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior (a segunda guerra mundial). E continua: Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas.





O condicional implica uma continuação da frase: se não deixarem de ofender a Deus... (no tempo de...) - Deus... vai punir o mundo dos seus crimes, por meio [dos erros da Rússia] e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre: do martírio dos bons e do grande sofrimento do Papa.



A perseguição à Igreja e ao Papa assume forma misteriosa. Como entender que a punição do mundo, que persegue Fé, se efectue através justamente da perseguição da Igreja e do Papa ? Isto pede uma profunda meditação pois implica o castigo evocado no Evangelho de S. Mateus: “Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas” (Mt 26, 31).







O Senhor é a um tempo o Pastor e quem permite o seu abatimento. E permitir que seja abatido quem O representa, não equivale a retirar-se ?


Isto será visto depois, na parte da interpretação católica do Segredo.


A Mensagem de Fátima é bastante completa para lembrar o caminho de harmonia e paz neste mundo e da salvação eterna. Não é hermética, como muitos “teólogos” de hoje a apresentam. Ela indica as causas das guerras, e dos desastres humanos que seguem as revoluções no desprezo e ofensa contra a Lei de Deus. Ela revelou o perigo iminente dos erros que a Rússia difundiria no mundo, e a “guerra pior” daquela que 1917 devastava a Cristandade. E as perseguições da Igreja e do Papa eram preditas como o último e terminal castigo pelos crimes do mundo. Mas Jesus ensinou que “quem recebe um profeta como profeta, terá a recompensa do profeta” (Mt 10, 41).






A frase misteriosa, da punição do mundo perseguidor da Fé, através da perseguição contra a Igreja e o Papa, é a chave do Segredo, que vai se desvelar para aqueles que o recebem como uma profecia.




Eis agora o texto publicado do Terceiro Segredo em forma de visão:





“Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda, ao centílar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo, mas apagavam-se com o contacto do brílho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro 0 anjo apontado com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência!


E vimos numa luz emensa que é Deus.‑ "algo semelhante a como se vêm as pessoas num espelho quando lhe passam por diante" um Bispo vestído de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre". Vários outros Bíspos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no címo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao címo do monte, prostrado de juelhos aos pés da grande Cniz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varios tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns atrás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.”


Em seguida à visão os pastorinhos devem ter levantado os olhos para a Senhora, que disse: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. 0 Santo Padre consagrar‑me‑á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz."


O Segredo de Fátima apresenta pois a visão de uma hecatombe papal.


Mas a Profecia se conclui com o triunfo da Fé e de Maria Virgem, que prometeu voltar a Fátima ‘ainda uma sétima vez’, provavelmente num tempo conexo à volta do Papa que por fim satisfará o pedido de consagração de Fátima, que manifestará o triunfo da Fé obtendo a conversão da Rússia e um período de paz para o mundo.


Portanto o triunfo final de Maria prelude uma verdadeira ressurreição depois dessa laceração letal que é a vacância do Papado para a Igreja e também para o mundo.


Para entender o tempo do Segredo de Fátima há que seguir não só o testemunho directo, mas aquele indirecto de Lúcia. Directamente pelas palavras e imagens transmitidas pela Vidente ; indirectamente pelas suas reacções diante dos pastores da Igreja. De facto, visto que o Segredo se refere à escalada da revolução anti-cristã dentro da própria Igreja, que acabará por abater o Papa, este testemunho deveria avisar desse perigo, apesar de todos os subterfúgios e desvios diabolicos de aspecto clerical, dos inimigos da Igreja e executores dos seus vértices.


Perante a visão do Segredo, negar sua evidente dicotomia com o Vaticano II, uma oposição metafísica, na tentativa de concilia-la com a nova ordem religiosa, repugna até ao progressista que prefere a nova ordem mundial. Se negam, serão as pedras a gritar.


Como resultado dessa perplexidade geral muitos falaram de uma nova demonstração da vacuidade de tais mensagens celestes. Outros, entre os quais bispos e sacerdotes, passaram a duvidar da autenticidade do texto.




Há elementos objectivos que indicam a autenticidade desse texto ?




No momento actual não será a autoridade vaticana a poder autenticá-lo depois de te-lo apresentado como reforço à própria obra e causa de martírio. Ninguém pode ser juiz em causa própria. Há pois que voltar à história dessa Mensagem e à suas testemunhas, para depois examinar a atendibilidade dessa visão na história da Igreja.


É importante pois fazer aqui algumas considerações sobre revelações e aparições privadas para que os fieis, seguindo os critérios da Igreja, não sejam enganados pelo que é falso, mas também não sejam confundidos e percam o que, se é autentico, é precioso devido à sua origem divina.


O critério da Igreja para apurar a verdade sobre comunicações divinas inicia pela verificação se o que foi transmitido é correcto do ponto de vista moral e doutrinal e se é oportuno e portanto edificante para os fiéis. Além disso, é preciso aquilatar a credibilidade da mesma vidente.


No caso da Mensagem de Fátima sabemos que as autoridades da Igreja verificaram que nada contém de contrário à fé ou aos costumes. E quanto ao seu pedido, competindo ao papa confirmar os irmãos na fé, é assim de conveniência que seja o santo padre a usar de seus poderes para guiar os bispos e os fiéis quando o interesse da fé e, portanto, da salvação de muitos está em jogo, como pede a mensagem. Para isto foi pedida a prática de uma devoção e um ato de consagração que se harmonizam. com o que a Igreja sempre ensinou e promoveu. Há, por conseguinte, fidelidade católica na forma da Mensagem de Fátima.


Quanto à oportunidade dos pedidos, ela pode ser vista também no simples campo histórico: quanto horror, sofrimento e conflitos teriam. sido evitados neste mundo se a Rússia, repudiando a ideologia perversa da qual se tornou promotora, tornasse ao Cristianismo. Ora, também o modo pelo qual esse pedido é feito segue rigorosamente a teologia sempre ensinada e repetida, por exemplo, por Pio XII na ocasião em que agradecia a intervenção da Virgem na preservação da Cidade Eterna e de seu povo durante a 2a. Grande Guerra contra toda previsão humana:


"Quem quisesse implorar à Virgem a cessação dos flagelos, sem um sério propósito de reforma da vida privada e pública, estaria pedindo simplesmente a impunidade da culpa, o direito de regular a própria conduta não com a Lei de Deus, mas com as paixões desenfreadas. Tal súplica seria a negação e o contrário da súplica crista, seria uma injúria a Deus, uma provocação à Sua justa cólera, um obstinar‑se no pecado, que é o único e verdadeiro mal do mundo." (Homilia de 13 de junho de 1944, na Igreja de S. Inácio)


O pedido de Fátima funda‑se na reparação pelas ofensas e blasfémias, mas também ingratidões contra Deus e os santíssimos Corações, sinais do Infinito Amor, que a tudo atende e perdoa aos que o invocam, mas não permite que prevaleçam impunemente o erro e o pecado.




O testemunho de Lúcia para a credibilidade de Fátima




Mas o que pensar da fidelidade to testemunho de Lúcia ? É claro que a missão da Vidente é ligada à obediência ao Papa e às outras autoridades da Igreja. Mas a obediência, mesmo sem visões sobrenaturais, implica a identificação dessas autoridades, cuja autenticidade é reconhecível pela fidelidade à vontade de Jesus Cristo, de Quem o Papa é o Vigario. O católico obedece e ouve o Papa porque está absolutamente certo que ao faze-lo, ouve e obedece a Deus. Esta certeza moral é necessária à fé e se há contradição no que concerne a Fé entre o que foi sempre ensinado pela Igreja e instruções humanas, seguir estas é desobedecer a Deus.


Lúcia não foi a única testemunha das aparições, cujos sinais muitos viram e a Igreja reconheceu, mas como sobre ela se apoia a mensagem, deve-se comprender a gravidade de seus dilemas de consciência.


Muitos pensam que a credibilidade de Lúcia deve ser a mesma, seja no que concerne as palavras e as visões transmitidas, seja nas implicações que a Mensagem suscita. Assim não é. Pelo contrário suas opiniões demonstram que ela não é a autora do que descreve e pode muito bem ignorar do que se trata. Lúcia criança pensava que a Rússia fosse uma mulher malvada, como Bernadette nada sabia da Imaculada Conceição. Foi-lhe confiada a transmissão da Mensagem e não sua interpretação, como ela mesma reconhece. Esta, quando depende de um juízo doutrinal, compete às autoridades religiosas; mas se depende de questões históricas ou de simples lógica, é universal e todos podem perceber, para crer.




O testemunho dos pastorinhos para a credibilidade do Segredo




A visão do Santo Padre sofredor é autenticada pelos seguintes diálogos entre a Jacinta e Lúcia: ‑ Não viste o Santo Padre? ‑ Não, (diz Lúcia).


‑ Não sei como foi, eu vi o Santo Padre numa casa muito grande, de joelhos diante duma mesa com as mãos na cara a chorar. Fora da casa estava muita gente; e uns atiravam-lhe pedras, outros rogavam‑lhe pragas e diziam‑lhe muitas palavras feias. Coitadinho do Santo Padre! Temos que pedir muito por ele!» (Mm III).


Quem estudou a Mensagem de Fátima sabe que esta visão diz respeito à algo que está no Terceiro Segredo. Por isto Lúcia escreveu: “Foram interrogar-nos dois sacerdotes que nos recomendaram que rezássemos pelo Santo Padre. A Jacinta perguntou quem era o Santo Padre e os bons sacerdotes explicaram quem era (talvez foi quando ouviram a descrição do bispo vestido de branco) e como precisava muito de orações... Quando os dois sacerdotes lhes falaram do Papa a Jacinta perguntou à sua prima: «‑ È o mesmo que eu vi a chorar e de quem aquela Senhora nos falou no segredo? ‑ É ‑ respondeu Lúcia. ‑ Decerto aquela Senhora também o mostrou a estes senhores Padres. Vês, eu não me enganei. È preciso pedir muito por ele!


“Em outra ocasião fomos para a Lapa do Cabeço. Chegados aí, prostrámo‑nos por terra a rezar as orações do Anjo. Passado algum tempo, a Jacinta ergue‑se e chama por mim: ‑ Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente a chorar com fome e não tem nada para comer* ? E o Santo Padre em uma igreja diante do Imaculado Coração de Maria a rezar, e tanta gente a rezar com ele ?


Poucos dias após esta visão, Jacinta perguna à Lúcia: “ - Posso dizer que vi o Santo Padre a toda aquela gente? Lúcia responde: Não. Não vês que isto faz parte do segredo, que por aí logo se decobria? - Está bem! Então não digo nada” (Mm III).


* Nos apontamentos copiados dos manuscritos de Lúcia, o seu confessor, P. José Bernardo Gonçalves, apresenta esta versão: - Não vês tantas estradas, tantos caminhos e campos cheios de gente morta a escorrer sangue? - (Do arquivo do P. António Maria Martins, P. 21, 9).


Para completar estas observações antes de considerar a interpretação vaticana do Segredo, lembremos que os desvios da verdade em matéria religiosa servem ao “mistério de iniquidade”. Qual pode ser este hoje ?


Quando se faz crer que nas revelações privadas tudo è vago e portanto de valor relativo, se confunde vago com velado. A Sacra Escritura é em grande parte velada para os homens, que não podem conhecer tudo do saber infinito, mas nada tem de vago. Pelo contrário, cada palavra que vem de Deus é inestimável e tem um sentido que, mesmo se analógico, é preciso.


Outro exemplo, quando se diz que só a autoridade da Igreja pode entende-las, ou os Videntes confirmar sua interpretação, se confunde o dever de esclarecer e autenticar com a compreensão de um facto cuja realidade na ordem lógica dispensa comentários humanos, porque evidente. Compete certamente à primeira certifica-la com os critérios da Igreja e aos segundos atestar a correspondência com o que foi visto ou ouvido, mas as palavras e os factos não dependem deles.


Se foi pedida a consagração da Rússia, inútil é dizer que esta nação pertence ao mundo, portanto o pedido equivale á consagração do mundo. Este nome não é um caso aberto à interpretação das autoridade, mas da atribuição do valor que têm as palavras de um pedido especial.


A dificuldade no caso do paralelo proposto, que veremos adiante, entre o Rei da França e o Papado, igualmente vítimas da Revolução, encontra solução à luz da Fé. Mais que o aspecto histórico interessa a autenticidade desses representantes de Cristo; o Rei lugar-tenente e o Pontífice-vigário. Esta comparação os acomuna numa falha, não de Fé, que os desqualificaria, mas na execução da vontade de Quem representam. Quanto às pessoas, à legitimidade real deve corresponder a papal, mas tal reconhecimento não é exclusividade de nenhum santo ou vidente, compete a todo fiel, com ou sem mensagens proféticas.


Isto é importante considerar aqui para melhor avaliar o testemunho da Irmã Lúcia, pois há sérios elementos indicativos que ela não segue esse discernimento depois de 1958 sobre o Segredo. Este, mais que revelar a hecatombe papal descrita, teria um sentido sujeito à interpretação das actuais autoridades vaticanas, contra toda coerência e lógica.








Os mistérios da interpretação do Segredo pelo Vaticano actual







A perplexidade que a trama actual em torno do Segredo provoca nas consciencias pode servir melhor para desmascarar as rupturas veladas operadas pelo modernista Vaticano II na Igreja tradicional que muitas análises eruditas sobre desvios e heresias conciliares. Na verdade esta difusa perplexidade deriva da perpepção comum da presença de novos mistérios no mistério. Vejamos quais são e o que encerram.


1° - Falar de “sinal dos tempos” e ignorar o tempo do Segredo.


2° - Mencionar o ponto culminante da história moderna para referi-lo não à algo que concerne a Fé de Deus, mas à imagem de um homem.


3° - Conceber o pedido de consagração da Rússia como um acto de devoção personalisada, isto è, sujeito ao modo de pensar de uma pessoa.


4° - Obscurecer a clareza do Segredo esperada em 1960 e considerar possível a censura de um segredo apocalíptico.


5° - Englobar o Segredo na gestão de um ecumenismo que lhe se opõe.




Iniciemos pela localização da terceira parte do Segredo no tempo. Este foi situado logo antes de 1960, porque só assim seria ‘mais claro’ no ano em que o Segredo deveria ser aberto e revelado ao mundo.


A razão desse sigilo antes de 1960 está em uma clara instrução contida na própria mensagem: “Isto não o digais a ninguém”. Assim é que o segredo ficou selado no coração de Lúcia até os anos quarenta, assim como estava soterrado com os pastorinhos Francisco e sua irmã Jacinta, mortos muito jovens. Em 1943, o bispo de Leiria (Fátima), desejando que tudo o que se referisse à mensagem ficasse registrado, mandou que a vidente escrevesse tudo o que havia ouvido. Lúcia titubeou, mas sabendo que a obediência nesse caso podia significar a vontade de Deus, acabou por faze‑lo, apesar das grandes dificuldades espirituais e morais por que passou. Corria o ano de 1944 e dom José Correia da Silva, de posse do escrito secreto, sem o ler, colocou‑o num envelope selado que guardou no seu cofre com instrução para que à sua morte fosse entregue ao cardeal patriarca de Lisboa, provavelmente para que fosse encaminhado a Roma. Ora, aconteceu que essa notícia, aparentemente limitada e singela, correu mundo e tornou‑se um facto tão clamoroso e sensacional que se considerou prudente enviar o ‘segredo’ o quanto antes à Santa Sé.


Vejamos a sequência dos mistérios em volta do Segredo, conscientes que “... nada há oculto que não se venha a descobrir, nem segredo que não se venha a conhecer.” (Mt 10, 26; Mc 4, 22; Lc 12, 2)




Os preparativos para a ‘interpretação’ vaticana do Segredo




Seguiremos os documentos fornecidos no dia 26 de junho de 2000 pela Congregação para a Doutrina da Fé (Ed. Paulinas, Lisboa).


O primeiro documento é a carta de João Paulo II à Irmã Lúcia de 19 de abril 2000, para que a Irmã confirme certas questões que dizem respeito à interpretação da terceirta parte do ‘Segredo’ ao seu enviado Mons. Tarcisio Bertone.





O encontro teve lugar a 27 de Abril, no Carmelo de Santa Teresa em Coimbra. D. Bertone mostrou à Irmã Lúcia a carta contendo a terceira parte do Segredo de Fátima. “Tocando esta com os dedos, logo exclamou: «É a minha carta», e depois de a ler, acresentou: «é a minha letra». Com o auxílio do Bispo de Leiria‑Fátima, foi lido e interpretado o texto original, que é em lingua portuguesa. A Irmã Lúcia concorda com a interpretação segundo a qual a terceira parte do «segredo» consiste numa visão profética, conparável às da história sagrada. Ela reafirma a sua convicção que a visão de Fátima se refere sobretudo à luta do comunismo ateu contra a Igreja e os cristãos, e descreve o imane sofrimento das vítimas da fé no século XX. À pergunta: «A personagem principal da visão é o Papa? », a Irmã Lúcia imediatamente responde que sim e recorda como os três pastorinhos sentiam muita pena pelo sofrimento do Papa e Jacinta repetia: «Coitadinho do Santo Padre, tenho muita pena dos pecadores! » A Irmã Lúcia continua: «Não sabíamos o nome do Papa; Nossa Senhora não nos disse. Não sabiamos se era Bento XV, ou Pio XII, Paulo VI ou João Paulo II, mas que era o Papa que sofria e isto fazia-nos sofrer a nós também ».





Trata-se pois do Papa, não como pessoa privada, mas no seu cargo de primeiro testemunho da Fé e maior vítima dos ataques que sofre a Fé.





“Quanto à passagem relativa ao Bispo vestido de branco, Isto é, ao Santo Padre ‑ como logo perceberam os pastorinhos durante a «visão» ‑ que é ferido de morte e cai por terra, a irmã Lúcia concorda plenamente com a afirmação do Papa: Foi uma mão materna que guiou a trajectória da baia e o Santo Padre agonizante deteve‑se no limiar da morte» (João Paulo II, 13.5. 94, Meditação com os Bispos italianos, a partir da Policlínica Gemelli,).


Tal associação de ideias e factos é anacrônica, considerando que a data prevista para desvelar o Segredo era 1960, quando seria mais claro. Portanto foi seguida por uma pergunta sobre essa data.


“Uma vez que a Irma Lúcia, antes de entregar ao Bispo de Leiria‑ Fátima de então o envelope selado com a terceira parte do «segredo», tinha escrito no envelope exterior que podia ser aberto somente depois de 1960 pelo Patriarca de Lisboa ou pelo Bispo de Leiria, D.Bertone pergunta‑lhe: «Porque o limite de 1960? Foi Nossa Senhora que indicou aquela data?» Resposta da Irmã Lúcia: «Não foi Nossa Senhora; fui eu que meti a data de 1960 porque, segundo intuição minha, antes de 1960 não sé perceberia, compreender‑se‑ia somente depois. Agora pode‑se compreender melhor. Eu escrevi o que vi; não compete a mim a interpretação, mas ao Papa.»


Na verdade a Irmã Lúcia dizendo que foi ela a colocar a data de 1960 para a abertura do Segredo ao redigi-lo em 1944 o estava interpretando. Mas ela revelou também que devido à sua hesitação para escreve-lo, Nossa Senhora apareceu para autoriza-la, no dia 2 de janeiro de 1944.


Tal evento proeminente indica que nada do que concerne o Segredo, da sua redacção ao momento de sua clareza e abertura, foi deixado ao caso.


E aqui iniciam as contradições que preparam a interpretação vaticana.




1° mistério - um “sinal dos tempos” que estaria fora do tempo.




Para ter a confirmação de que 1960 era o ano indicado à irmã Lúcia para tornar conhecida a terceira parte do Segredo, pode-se recorrer à testemunhos directos de pessoas abalizadas, como os cónegos Galambra e Barthas e os cardeais Cerejeira e Ottaviani, além de dom João Pereira Venâncio, sucessor de dom José na Diocese de Leiria, que chegou a propor a todos os bispos do mundo um dia de oração e penitência na data de 13 de outubro de 1960, para que todos pudessem ouvir e honrar a Mensagem da Mãe de Deus.


Nos seus colóquios com a Irmã Lúcia, nos dias 17 e 18 de outubro de 1946 (publicados em 1952), o canónico Barthas perguntou-lhe quando a terceira parte do Segredo seria revelado. A resposta sem hesitação nem comentário, confirmada também pela anuência do Bispo de Leiria, foi: 'Em 1960.' Continua o Padre. “E quando eu levei a minha ousadia ao ponto de perguntar porque devíamos esperar até então, recebi a mesma resposta da Irmã e do Bispo: Porque a Santíssima Virgem assim o quer”.


No dia 7 de setembro, 1946, no encerramento do Congresso Mariano de Campinas, Brasil, o Cardeal Cerejeira declarou que a terceira parte do Segredo, ainda não revelada, foi escrita e colocada num envelope selado que será aberto em 1960.


Se o Segredo diz respeito a um evento passado e concluído, deveria ser explicado que facto é esse e quando aconteceu. Além disto seria preciso demonstrar a relação desta sua conclusão com o predito triunfo final.


“Em 1967, 50° aniversário das aparições de Fátima e ainda no clima de desilusão pelo silêncio que se fez sobre o segredo dado pela Mãe do Céu à pastorinha Lúcia, segredo esse que nunca foi de nenhum modo esquecido apesar do vento de mudanças soprado pelo espírito conciliar, o prefeito da Sagrada Congregação, para a Doutrina da Fé, cardeal Alfredo Ottaviani, na conferência na Pontifícia Academia Mariana, dia 11.2.67, forneceu algumas noticias, com intenções tranquilizadoras.


“O segredo não devia ser aberto antes de 1960. No mês de maio de 1955 perguntei a Lúcia a razão dessa data e ela me respondeu: porque então será mais claro. Isto me fez pensar que aquela mensagem era de tom profético, visto que, como se lê nas Sagradas Escrituras, é próprio das profecias que haja um véu de mistério.”


Na carta de 24.6.87 que recebi da Irmã Lúcia, esta responde à minha questão, repetindo-a: “O ano 1960, crucial na vida da Igreja e do mundo, por muitos factos ainda invisíveis, era previsto como momento para o conhecimento do Segredo, mas como a Misericórdia divina deu a conhecer a Irmã Lúcia esta data? A Irmã responde: “O como tive conhecimento desta data não estou autorizada a esplicá-lo aqui, mas tenhamos presente que, a autorização dada para que a Igreja podesse abrir a minha carta, não foi uma ordem para que a públicasse.”


Parece impossível conciliar aqui as duas coisas. Se foi a mesma Lúcia que estabeleceu o ano 1960 para a abertura da terceira parte do Segredo, como pode ela referir-se aqui à uma autorização à si mesma e depois à uma outra autorização e possível ordem dada para a Igreja ? Mistério !


E pretendem que hoje se acredite que o véu desta data, que manteve suspensa a atenção da Cristandade e do mundo por mais de meio século, não seja indicação do mesmo segredo, mas de uma intuição da Vidente?


De qualquer modo, não é possível mudar os factos da história desse período. Na Igreja tudo mudou e não há dúvida que essas mutações no mundo católico causaram uma radical mudança na sociedade humana, que foi constatado por históricos e também por sociólogos e filósofos, e registado nos campos da justiça e da segurança social de todo o mundo.


Trata-se pois da mutação silenciosa mas evidente que abriu as portas da sociedade à uma revolução social de enormes proporções, que mudou o modo de pensar e de viver do nosso tempo. E como é sempre o mundo espiritual a guiar o social, há que responder à questão de qual teria sido este evento para a Igreja? Compete pois a quem nega a importância desta data explicar a clamorosa coincidência pela qual justamente neste período começou a descristianização do mundo e a apostasia universal. Como escreve um teólogo (riv. Roma, Buenos Aires, n.88): “Podemos afirmar sem fornecer provas que a causa de toda a crise da Igreja é o próprio Vaticano II (convocado naquele período). Quem deve fornecer as provas é quem nega ser o ‘concílio’ a causa eficiente do desastre eclesial. Mas se quer ser credível deverá revelar qual seria esse outro evento que superou o Vaticano II pelas suas mutações e consequências.


“O único evento devastador que o precedeu nesse período e que deixou o mundo cristão perplexo, foi a negativa de João XXIII de publicar o Segredo da Mãe celeste para a salvação de seus filhos.”


Como se pode concluir, se a terceira parte da mensagem de Fátima ficasse privada da referência de uma data, a sua natureza profética ficaria, se fosse possível, neutralizada para prevenir perigos para a Fé.


Como acreditar pois que 1960 foi um ano inventado pela Irmã Lúcia?


Se assim fosse, como é possível que em 1959 o Bispo de Leiria-Fatima, Mons. Venancio, se tenha dirigido a todos os bispos do mundo, para propor a preparação ao evento da publicação da Terceira parte do Segredo com uma universal novena de oração. O apostolado de Fátima, feito de oração e penitencia para obter a ajuda divina, concordava plenamente com a ortopraxis católica para os momentos difíceis, que quer os fieis atentos aos sinais divinos através da palavra do Chefe da Igreja. Mas no Vaticano a posição - ainda velada - era contrária a Fátima, como se verá.


Em 1959 a campanha para informar o mundo sobre Fátima era intensa, mas só era apoiada ao nível de alguns bispos. Mesmo assim o mundo cristão se preparava para conhecer em 1960 o Segredo com grande piedade e interesse. Na Itália, no dia 13 de setembro de 1959, no fim do XVI Congresso Eucarístico Nacional de Catania, o inteiro episcopado, em nome de todo o povo italiano, consagrou a Itália ao Coração Imaculado de Maria, segundo o pedido de Fátima, com as palavras: "Eis, o Mãe nossa e Rainha da Itália, a suplica que, com filial esperança, dirigimos e confiamos ao Vosso Coração pedindo que venha logo a hora, por Vos prometida, em que o Vosso Coração Imaculado triunfara nesta nossa terra e em todo o mundo".


Na América houve iniciativas importantes como aquela do milionário John Haffert que, testemunha de grandiosos milagres em Fátima em 1940, e tendo tomado conhecimento dessa data ouvindo a Irmã Lúcia, organizou um imponente programa de comunicação que mobilizou até um canal de televisão por um ano inteiro. Cada sábado ás 9 da tarde, no horário nobre, ia em onda Zero 1960, que depois tomou o nome Crisis e teve a participação de conhecidas personalidades, como John Kennedy e o senador Humphrey, suscitando um enorme interesse popular em Nova York e em todos os Estados Unidos.


O que começava a ser claro, então, se não o início de uma mutação na vida da Igreja depois da morte de Pio XII ?


Porque um segredo para 1960 ? Porque então será mais claro!


Ao envés de manter a rota se procurava muda-la, se não inverte-la.


A questão central era justamente impedir à Igreja de intervir na vida da sociedade, convocando os homens às sua responsabilidades diante da Lei de Deus; obrigar a Igreja a assistir simplesmente às mudanças de um mundo que evolue com os tempos.




2° mistério: o ponto culminante da história foi personalisado.




Na sua Introdução ao Segredo Mons. Tarcisio Bertone SDB declara:


“Na passagem do segundo para o terceiro milénio, João Paulo Il decidiu tornar público o texto da terceira parte do «segredo de Fátima». Depois dos acontecimentos dramáticos e cruéis do século xx, um dos mais tormentosos da história do homem, com o ponto culminante no cruento atentado ao «doce Cristo na terra», abre‑se assim o véu sobre uma realidade que faz história e a interpreta na sua profundidade segundo uma dimensão espiritual, a que é refractária a mentalidade actual, frequentemente eivada de racionalismo.”


O século vinte teria então por momento culminante o atentado contra a vida de João Paulo II, que por isto decidiu publicar a Terceira parte do Segredo, abrindo assim o véu sobre sinais sobrenaturais, que influenciam o desenrolar dos acontecimentos humanos e acompanham o caminho do mundo, surpreendendo crentes e descrentes.


Certamente estas manifestações não podem contradizer o conteúdo da fé, mas existem justamente para confirmar a fé e suscitar nos homens a conversão e a penitencia. De facto se elas não forem ordenadas à fé, ou são falsas, ou é falsa a interpretação que se dá delas; especialmente no caso de Fátima, reconhecida ser “a mais profética das aparições modernas”.


Quando se fala pois do evento culminante do século ligado à profética mensagem de Fátima, o assunto não pode ser outro que a mesma Fé.


Ora, se fosse demonstrável que o atentado à vida de João Paulo II foi directamente contra a Fé, porque esconder a visão dessa grave ameaça, representada no Segredo? Não sendo possível provar que no caso o alvo fosse a Fé, atribuindo-se ao atentado contra uma pessoa a relevância de momento culminante do século e centro do Segredo de Fátima, se dá mais atenção à pessoa que àquilo que ela representa; se eleva um facto humano acima das questões da Fé. É a mesma atitude que levou à decisão de ocultar o Segredo, cuja razão precípua é a defesa da Fé na Igreja. Ao arquiva-lo se alegava implicitamente uma razão superior a esta, o que já revelava outra razão, contrária.


E de facto o atentado culminante deste século foi contra a Fé católica, para que a Igreja deixasse de “clamar dos tectos” o dogma fundamental da Fé; do vínculo entre a Palavra divina e os valores humanos. A Igreja deveria passar a acolher a modernidade e a sua ideia de evolução para que os homens atinjam uma emancipação das leis eternas. Neste sentido a imagem da Igreja como única ponte que permanece no mundo para a volta a Deus deveria ser substituída pela imagem de um trampolim para um salto na direcção de uma nova era. A esse salto referiu-se João XXIII ao inaugurar o Vaticano II.


Visto que a Igreja existe para guiar o homem e a sua sociedade segundo o mandato recebido, tal dilema só subsiste para os modernistas. Para estes uma intervenção mariana como Fátima era repudiada, embora fosse reconhecida e venerada pela Igreja. Eis porque no comportamento diante desse Sinal divino pode-se medir a fidelidade ou a mutação dos clérigos em relação à Fé católica. E é claro que quem professa uma nova fé almeja uma nova igreja. Mas para essa substituição encontravam o obstáculo enorme da devoção mariana e a Mensagem de Fátima. Vista a impossibilidade de negar a sua autenticidade e o grande milagre do sol, presenciado por dezenas de milhares de pessoas (também por jornalistas ateus) e reconhecido pela Igreja, negavam a parte que dizia respeito à Mensagem, que chamavam Fátima 2, para distingui-la da outra Fátima 1 aceitável. Um sinal sobrenatural significava para eles só uma chamada à oração e penitencia, jamais a intervenção divina nos eventos humanos: milagres e aparições não seriam sigilos extraordinários da Vontade de Deus, mas sinais para animar a religiosidade popular. Qual o resultado dessa nova pastoral ?


Tudo se passou como se essa abertura tivesse introduzido na Igreja um gás asfixiante dos sentidos espirituais dos fiéis. Entre a atmosfera anterior à morte de Pio XII e a desse novo ambiente há uma dicotomia vistosa. Eis o que se deve investigar, conscientes que estamos diante de um atentado final à espiritualidade humana que resume toda a história passada, algo de apocalíptico que descerra um futuro que diz respeito a todos nós, porque escrito no livro dos desígnios divinos.


Mas é justamente pelas Escrituras Sagradas que ficamos sabendo que a abominação consiste na elevação de um ídolo humano sobre tudo o que é devido a Deus; desde a ocupação do Lugar sagrado, até o uso do Seu Nome. De maneira que o atentado ao que é de Deus será feito em nome do próprio Deus, Senhor da história !


Será então o culto da personalidade feito em nome da Religião.




3° mistério - A ‘impossível’ consagração da Rússia






Em 1981, depois do atentado que sofreu na Praça de S.Pedro no dia 13 de maio, João Paulo II pensou na consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria e compôs ele mesmo uma oração para o designado “Acto de Entrega”, que seria celebrado em Roma a 7 de junho de 1981. Ele inteirou-se da gravidade da Mensagem de Fátima para estranhamente deduzir que se aplicava à sua vida pessoal. Depois do que, o a pedida consagração da Rússia ficava reduzida à acto sujeito às possibilidades de uma devoção e a um modo de pensar pessoal; João Paulo II deve pois ter pensado que podia confeccionar para resolver o pedido universal de conversão da Rússia uma solução de acordo com as suas possibilidades.





Na documentação do Vaticano é apresentada a carta da Irmã Lúcia a João Paulo II de 12 de Maio de 1982, como uma orientação para a interpretação do «segredo»: “A terceira parte do segredo refere‑se às palavras de Nossa Senhora: - Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas ‑. A terceira parte do segredo é uma revelação simbólica, que se refere a este trecho da Mensagem, condi-cionada ao facto de aceitarmos ou não o que a Mensagem nos pede: - Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter‑se‑á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, etc., -.


Porque não temos atendido a este apelo da Mensagem, verificamos que ela se tem cumprido, a Rússia foi invadindo o mundo com os seus erros. E se não vemos ainda, corno facto consumado, o final desta profecia, vemos que para aí caminhamos a passos largos. Se não recuarmos no caminho do pecado, do ódio, da vingança, da injustiça atropelando os direitos da pessoa humana, da imoralidade e da violência., etc. E não digamos que é Deus que assim nos castiga; mas, sim, que são os homens que para si mesmos se preparam o castigo. Deus ape­nas nos adverte e chama ao bom caminho, respeitando a liberdade que nos deu; por isso os homens são responsáveis”.


Pode-se supor que a Irmã não considerou necessário dizer nesta carta a João Paulo II o que a Religião católica ensina sobre a origem dos males humanos, que é sempre de ordem espiritual. Por isto também a responsabilidade dos homens se situa em níveis diversos, sendo que a mais alta é do líder espiritual, o Pontífice (Jo, 19, 11), o Papa católico.


Isto è parte integrante da Mensagem e adiante veremos que há um comunicado de Nosso Senhor dado à Irmã Lúcia para “Seus ministros”, comparando-os ao Rei da França, que ignorou os Seus pedidos.


Na catástrofe acima, a Rússia è descrita como um instrumento do mal, um flagelo que è ao mesmo tempo flagelado por erros dos quais deve ser convertido. Conversão ao bem e à verdade da Fé. Mas hoje João Paulo II fala da conversão da Rússia à paz! Hoje se fala do novo bem de uma justiça e paz indiferentes quanto às religiões e ideologias. É a nova crença do Vaticano II, que nada tem de católico. Como poderiam tais ideias compor um acto de consagração para a conversão da Rússia?





Na verdade esse acto foi repetido outras vezes, até aquele do dia 25 de março de 1984, mas sem a explícita menção da Rússia nem uma efectiva união dos bispos, como requerido na Mensagem. O misterioso obstáculo que impede a realização dessa consagração verificou-se na tentativa de 1984, quando João Paulo II, que não consegue pronunciar o nome da Rússia, tentou um patético expediente dizendo: “Confiando-Vos, ó Mãe, o mundo, todos os homens e todos os povos, nós Vos confiamos também a própria consagração do mundo, depositando-a no vosso Coração materno. Para resolver o problema da omissão das condições requeridas para um ato real e condigno, ele entregou a própria consagração à Mãe de Deus!





O facto é que para João Paulo II o nome da Rússia parece arder muito, chegando a dizer que “havia feito o que lhe era possível” (Mons. Cordes) e também que não tem jurisdição religiosa sobre aquele pais ! (Mons. Pavel Hnilica) O que significa negar, ou o poder universal de Jesus Cristo, o que é herético, ou de sentir ser Seu Vigário nesse poder, o que é compreensível.





Ora, o acto pedido não pode ser menos que uma preeminente profissão de Fé apostólica diante do mundo, da Igreja com todos os seus bispos. Não se compreende pois como se possa considerar um acto pessoal e estranho ao testemunho da Igreja católica, adequado para corresponder ao pedido celeste de consagração para a conversão da Rússia. Ao envés, pode-se dizer que diante do apelo de Nossa Senhora de Fátima para a participação activa e responsável dos fiéis no reconhecimento de valores esquecidos tudo resta por fazer e é falso que “a decisão de João Paulo II de tornar pública a terceira parte do «segredo» de Fátima encerra um pedaço de história, marcado por trágicas veleidades de poder e de iniquidade.





Muito ao contrário, ficou claro que vivemos o momento histórico em que a iniquidade tocou o mundo religioso e a representação simbólica disto é dada pela visão da hecatombe do Papa com seus fiéis seguidores, como mostra o `Segredo'.





É neste testemunho para a defesa da Fé os católicos devem ter parte activa e responsável, atentos aos sinais do amor misericordioso de Deus e da vigilância de Maria.





Quanto à afirmação que “a Irmã Lúcia confirmou pessoalmente que este acto, solene e universal, de consagração correspondia àquilo que Nossa Senhora queria: - Sim, está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25 de Março de 1984 - (carta de 8.11.1989)”, tem que ser verificada.





Há razões para duvidar que a Irmã Lúcia tenha concordado com a versão acima espontaneamente. Se o fez foi após insistentes instruções do Vaticano. Note-se que a carta de 8 de novembro de 1989, tem um atraso de mais de cinco anos do tal “acto”. Porque? Pela simples razão que ela não poderia imaginar que tal acção, que deveria ser um solene e universal testemunho da fé na intervenção de Deus neste mundo, com o apelo de Seu Vigário, poderia ser a acção indicada pelo Vaticano.


De facto nos anos anteriores a 1989 a Irmã Lúcia, sempre que podia, declarava claramente que a Consagração pedida ainda devia ser feita.





Posso acrescentar o meu testemunho pessoal aos diversos outros dessa posição da Vidente. Tenho o privilégio de ter uma casa em Aljustrel, ter sido vizinho de sua irmã Carolina e estar em relação com seus parentes e por isto tive a ocasião de ouvir directamente deles a atitude da Irmã em relação à Consagração. Em 1989 recebi até um recado da Irmã através de sua sobrinha, como resposta ao envio de meu livro “Entre Fátima e o Abismo”, publicado em São Paulo em 1988. Moravam então na casa de Nazareth o sacerdote inglês Robert Bellwood e a religiosa francesa, Irmã Marie Lucie. Desta visita falarei mais adiante. Agora importa lembrar que, na companhia deste sacerdote, tive um encontro muito revelador em Fátima com o Padre Messias Coelho. Foi num quarto da Pensão Solar da Marta de Fátima que este nos informou, de modo tão explicito como ingénuo, que o Vaticano havia enviado instruções à Irmã Lúcia e a alguns clérigos ligados ao apostolado de Fátima, como ele mesmo, o Padre Pierre Caillon e outros, que a consagração da Rússia já havia sido realizada e que o Céu se dignara de aceitá-la. Portanto não se devia mais importunar o Santo Padre com esse pedido. Estavam também presentes nessa ocasião o proprietário da pensão e o editor inglês Tindal-Robertson (editor da Apologia de Mons. Lefebvre) que ficou feliz com as instruções vaticanas e desde então se distanciou do testemunho de Fátima que recusava acomodações, como a CRC do Abbé de Nantes e da revista do Rv. Nicholas Gruner e outros. No caso do Padre Coelho há que lembrar que no seu livro, “O que falta para a conversão da Rússia” (Fundão, 1959), ele diz que ela “só pode entender-se, no sentido do retorno à fé católica, De resto, só esta é a verdadeira conversão(p.286).





É o que se deve pensar da profetizada conversão. O que mudou foram as instruções vaticanas sobre a consagração, ouvi-as também em Roma do cardeal Gagnon, muito irritado porque o seu Conselho para a Família ficara obstruído por milhares de cartas pedindo a consagração da Rússia e a publicação do Segredo. Mas o colóquio foi bruscamente cortado quando falei da atenção devida pelos fieis à profecia de Fátima.





Ora, as caixas com as cartas chegaram no Vaticano graças ao cardeal ucraniano Lubachinsky que, embora a contra gosto, me confessou que o fez por sentir-se ligado ao desejo de seu predecessor que em vida sempre testemunhou sua fidelidade à Mensagem de Fátima. Trata-se do cardeal Slipyi e é justo lembrar que o heróico prelado, diante da grave crise de fé da Igreja em Roma, lá consagrou dois bispos sem informar Paulo VI.


Já em 1989, considerando a gravidade do facto que o novo Vaticano usava sua autoridade para ditar à consciência da Irmã Lúcia e de outros o que deviam dizer da Mensagem de Nossa Senhora, procurei alertar as pessoas que seguiam a questão de Fátima deste facto. Mas então como hoje prevaleceu, o desejo de ignorar as graves implicações a que estas contradições podiam levar, envolvendo também a Irmã Lúcia.


Para alguns estes factos teriam prejudicado a credibilidade da inteira Mensagem. Na verdade a sua omissão só alimentou disparates, como dizer que havia duas Irmãs, ou um complô secreto para falsificar o que ela dizia, distorcendo todo o seu testemunho, etc. Teria sido mais fácil reconhecer que a Irmã, diante da gravidade do Segredo e sob a pressão das autoridades actuais, ligadas, passiva ou activamente à hecatombe papal da sua “visão”, preferiu obedecer-lhes. Trata-se de dois diferentes testemunhos de Lúcia em duas épocas diversas; um autentico e original antes da morte de Pio XII, outro depois desta, que se lhe opõe porque seguiu o aggiornamento conciliar. Mas isto não altera a credibilidade do Segredo, cuja real interpretação não pode ser mudada pela contradições de Lúcia; antes, estas podem nos fazer deduzir as outras, intrínsecas ao Segredo, que evidenciam os que participam no “mistério de iniquidade”.


Este é o mistério tremendo que levou a pobre Irmã à aceitar em nome de uma falsa obediência o que lhe era ditado. Assim minha comunicação não interessou e restou como uma pequena nota (pg. 474) do livro do Irmão François da CRC, "Fatima Joie Intime, Événement Mondial."




4° mistério - Censura de um segredo apocalíptico pelo obscurecimento da clareza esperada em 1960




A "nova ordem religiosa" do Vaticano conciliar, com suas distorções doutrinais e litúrgicas, e revisões da Mensagem de Fétima, continuou sem obstáculos seu curso até a presente "interpretação" do Segredo. Eis a misteriosa história dessa “instrução” dada em 1989 a alguns sobre a “consagração já feita”, que se estende hoje a todos e a todo o Segredo:


“Por isso, qualquer discussão e ulterior petição não tem fundamento.”


Com a interpretação vaticana do Segredo tudo foi desviado para o campo de suspeitas projecções religiosas, isto foi desvelado pela menção elogiosa ao jesuíta Edouard Dhanis, autor da ‘análise teológica’ que, negando o que chamou de ‘Fátima 2’, negou a autenticidade do Segredo.


Seria esta uma segunda tentativa de arquivar a Profecia, se não no seu texto, no seu alto sentido? O facto é que tal publicação evidenciou que o Vaticano actual não consegue explicar o sentido da mensagem profética, da razão do seu longo sigilo e portanto não pode deixar de provocar uma difusa perplexidade. A Senhora de Fátima queria o Segredo desvelado desde 1960, porque então seria mais claro, os novos chefes vaticanos, porém, temendo tal clareza não quiseram que o Segredo viesse à luz, antes no seu texto, hoje na sua dimensão apocalíptica. Será que para o cardeal Ratzinger também o Apocalipse deve ser arquivado ?


Nos anos anteriores a 1960, quando se esperava que a terceira parte do Segredo seria dado ao conhecimento do mundo, houve um natural “crescendo” de interesse e excitação da opinião pública diante das revelações de Fátima. Afinal, tratava‑se de anúncios sobre o destino da humanidade dados pela Mãe Celeste. Ora, o que concerne à salvação das almas sempre foi central na predicação e ensino católicos, e o interesse universal por um segredo que vinha completar uma luminosa mensagem já em grande parte conhecida teria sido, se bem utilizado, um precioso auxílio para convocar as multidões à oração e preparar os homens à penitência que salva. Mas assim não foi. Deveras estranhamente, os prelados e o clero católico, que nunca temeram nem evitaram a predição sobrenatural, desta vez pareciam muito mais preocupados em desviar a atenção dos fiéis de revelações e segredos do que utilizá‑los para um bom fim. Havia mais fé da parte do povo que se interessava pela mensagem do que nos religiosos e sacerdotes que dela desviavam, como se Fátima fosse sinal de ilusão e superstição em grande escala. Mas, não seria difícil ver que se essa atitude foi geral entre os homens da Igreja, era porque o exemplo vinha de cima.


E o resultado inevitável quando há um vazio mental, ou quando se propicia um vazio de fé, é que esses sejam preenchidos pelo que de vulgar e de mau está sempre à espreita para infiltrar‑se. Foi assim que as piores tendências e interesses que permeiam os meios de comunicação social puderam conduzir o assunto, fazendo fermentar uma atmosfera de sensacionalismo que alimentou uma mórbida curiosidade pelo mistério e pavores de catástrofes materiais, num sentido pouco católico e, portanto, alheio à mensagem.


O modo como foi acolhida a publicação da entrevista ao padre Fuentes da vidente Lúcia, que veremos adiante, é exemplo disto, e a reacção do aparato eclesiástico que achou por bem condenar a reacção do público às palavras que advertiam o mundo, deixa à mostra o grau de aversão de muitos homens da Igreja a tudo que tenha carácter sobrenatural e, portanto, envolva suas responsabilidades religiosas. Ora, as mensagens marianas e também os milagres, que são graças para os homens, deste modo acabam por ser verdadeiros desafios para eclesiásticos esquecidos dos seus deveres.


Em 1967, o clima de desilusão pelo silêncio que se fez sobre o segredo dado pela Mãe do Céu o cardeal Alfredo Ottaviani, na conferência já mencionada do dia 11.2.67, forneceu noticias sobre o Segredo: “Quanto ao envelope contendo o 'Segredo de Fátima', foi recebido fechado pelo bispo de Leiria e embora Lúcia lhe tenha dito que poderia lê-lo, não quis fazé‑lo. Quis respeitar o segredo também por deferência para com o Santo Padre. Mandou‑o ao núncio apostólico, então monsenhor Cento, agora cardeal e aqui presente, que o enviou fielmente à Congregação para a Doutrina da Fé que lho havia requisitado para evitar que questão tão delicada, não destinada a ser dada ao apetite do público, caísse por qualquer razão, fortuita em mãos estranhas. Assim chegou o segredo. Foi trazido à Congregação e, fechado como estava, foi levado a João XXIII. O papa abriu‑o. Abriu o envelope e leu. Embora em português, disse‑me depois que havia entendido tudo. Ele mesmo em seguida colocou o segredo num outro envelope, selou‑o e encaminhou‑o a um daqueles arquivos que sendo como um poço no qual os papeis afundam profundamente no escuro, escuro onde ninguém vê mais nada.


“Eis porque presentemente é difícil dizer onde esteja o 'Segredo de Fátima' Mais adiante, acrescenta: "Eu, que tive a graça e o dom de ler o que consta do texto do segredo, ao qual portanto estou vinculado, posso dizer que tudo o que há em circulação a respeito é fantasia."


Como se vê, a existência desse segredo não é fantasia, como não se pode negar que o seu conteúdo se dirigia às consciências católicas como um testamento, que não pode ser de nenhum modo indiferente aos fiéis.


Quem censurou e desvia dessa Mensagem sobrenatural, de João XXIII em diante, só pode faze-lo porque tem um plano contrário à Fátima.


Ora, o cardeal Ratzinger conclui sua nota teológica dizendo:


Chegamos assim a uma última pergunta: O que é que si­gnifica no seu conjunto (nas suas três partes) o «segredo» de Fátima? O que ela nos diz ? Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que «os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do "segredo" de Fátima parecem pertencer já ao passado». Os diversos acontecimentos, na medida em que Ia são representados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece ‑ dissemo‑lo logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do «segredo» ‑ é a exortação à oração como caminho para a «salvação das almas», e no mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão.


Sobre a ‘curiosidade’ - Ora, ocupar-se de reconhecer os sinais do tempo em que se vive não é passatempo nem curiosidade gratuita, mas uma inalienável precaução diante da vida social e espiritual de cada um; é vigilância sobre o que pode ameaçar o nosso decurso terreno, momento em que se decide o nosso destino eterno. Nosso Senhor disse: "Sabeis julgar o aspecto do céu e da terra, como é que este tempo não sabeis julgar ?” (Mt 16:4; Lc 12:56)


João Paulo II por ocasião da viagem à Alemanha em 1981 fez alusões ao Segredo que foram registadas e publicadas pela revista Stimme des Glaubens (10‑81), e reproduzidas e comentadas por Dom Francesco Putti (Si si no no, Jan. 82): “Ter silenciado o segredo equivaleu a acusar a Rainha do Céu de imprudência e de inoportunidade e a considerar a prudência humana superior à celeste.” Quanto à frase de João Paulo: “Muitos querem saber por simples curiosidade e sensacionalismo mas se esquecem de que saber comporta também responsabilidade...”: Não é um fato real, nem demonstrável que muitos querem saber só por curiosidade e sensacionalismo. Além disso, de uma natural curiosidade pode nascer um sincero arrependimento e propósito de emendar-se.


“É doutrina comum da Igreja, que Deus move as criaturas segundo seu comportamento natural. Ora, sendo a curiosidade mola do conhecimento os homens, é claro que a graça divina não deixará de mové‑los partindo justamente do limite extremo dessa curiosidade natural. È verdade que conhecer comporta responsabilidade. Isto em relação ao livre‑arbítrio, que pode decidir rejeitar o bem conhecido. Mas o conhecimento em si é um bem, porque aumenta as possibilidades de agir rectamente. Por isto, instruir as almas é um dever, e quem se nega a fazê‑lo é culpado de omissão e co‑responsável da ruína do próximo. Enfim, visto que o castigo pende sobre toda a humanidade, é lógico pensar que a Virgem Santíssima queria que cada assumisse suas próprias responsabilidades. Existe, portanto, um direito dos homens de conhecer a mensagem celeste que nos diz respeito e cujo desprezo pode trazer‑nos consequências apocalípticas. As revelações de Fátima não se destinam ao bem pessoal de irmã Lúcia ou do sumo pontífice, mas a toda a humanidade. Quem pode negar à Mãe dos santos e dos pecadores o direito de comunicar algo a seus filhos? O papa, dir‑se‑á, é juiz das aparições e de suas revelações, na Igreja. Mas a aparição e as revelações de Fátima foram declaradas autênticas justamente pelo papa. Eis a incoerência: de um lado, reconhece‑se que em Fátima a Mãe de Deus falou para a salvação da humanidade; de outro, acrescenta‑se: mas o que revelou não é prudente dar‑se a conhecer.” Assim esses prelados insistem em levantar a objecção da ‘curiosidade’.


O Cardeal termina falando de: “uma outra palavra chave do «segredo» que justamente se tornou famosa: « o Meu Coração Imaculado triunfará ». O que significa ? Segue uma ‘explicação’ vaga que evita o facto principal: que este triunfo não pode ser outro que o retorno à Fé, íntegra e pura, pela qual foram traspassados o Sagrado Coração de Jesus e o Coração Imaculado de Maria; para que fossem desvelados os pensamentos secretos de muitos” (Lc 2, 35).




5° mistério - O Segredo englobado pelo novo ecumenismo




Desde a Introdução vimos assinalando as insídias e os erros com que a Revolução assalta a Igreja, por fora e por dentro, para destruí‑la (e eliminar o Papado), Mas, mesmo quando seus inimigos em 1914 dominavam quase todo o mundo civil e estavam. infiltrados em seu seio em posições importantes, como revelou S. Pio X, as defesas doutri­nais e litúrgicas estavam íntegras e continuava vivo o espírito missionário de tudo instaurar em Cristo. Espírito que não deriva de uma atitude pessoal de algum papa, mas é inerente à doutrina evangélica e à Tradição de que emana o Magistério papal pelo qual as leis humanas devem submeter‑se às leis divinas, aos princípios revelados e ensinados pela Igreja. Estes não são optativos e não há liberdade civil ou religiosa dos homens quanto à Lei imutável de Deus. Os Estados estão, como os indivíduos, vinculados a ela. Por isso, a chamada separação entre o Estado e a Igreja, que é a depositária da Revelação única, corresponde à separação deliberada dos homens em relação a Deus. Facto diante do qual um católico não pode ficar impassível e muito menos uma autoridade da Igreja calar‑se. Vai nisto uma questão doutrinária, e S. Pio X levantou sua voz e exerceu sua acção para dirimir toda confusão a respeito. Preferiu suportar as represálias materiais do governo liberal‑maçónico da França e depois de Portugal, antes que aceitar qualquer compromisso acerca do princípio da união da Igreja com o Estado.


Depois de 1914 começou a declinar o testemunho intransigente do direito de Deus. As guerras e desgraças do mundo sopravam. um hálito de pavor e morte, suscitando nos líderes religiosos uma nova política de concordatas alimentadas por uma tendência aos compromissos a todo transe. Pareceu possível ao Vaticano dos anos vinte propor concordatas e acordos com potências do ateísmo militante, abertamente inimigas da Igreja. Certamente não era o que mais se coadunava com a Mensagem de Fátima, que por esta razão nunca foi inteiramente acolhida. Isto foi fruto de uma política arriscada, mas jamais desviada da Fé, pela qual os papas católicos sempre estiveram prontos a morrer. A visão do Segredo confirmou isto. Mas o que sucedeu depois da morte de Pio XII ?


Tudo se passou no Vaticano como se a Revolução tivesse ocupado a Igreja, em cujo nome fizeram documentos e actos inimagináveis. E os venenos conciliares continuam a agir com força sobre João Paulo II, que desde então operou uma escalada ecuménica além de toda decência. Isto vai entremeado de actos de índole mariana e conservadora que, longe de rectificar as mudanças, agrava-as no contraste com a tradição religiosa.


A lista é longa (FA, pp. 200ss.) e atingiu seu ápice com a cerimónia do dia 27 de outubro de 1986, um encontro de oração pela paz em Assis para a qual João Paulo II convocou os representantes das grandes religiões do mundo e ali declarou: "Que tantos líderes religiosos estejam aqui juntos para rezar... a fim de que o mundo tome consciência de que existe outra dimensão da paz...




“Não é o resultado de compromissos políticos e acordos económicos, mas o resultado da oração que, na diversidade das religiões, exprime uma relação com um poder supremo que está por cima de nós. ... Nosso encontro só testemunha ... que na grande batalha em favor da paz, a humanidade, com sua grande diversidade, deve tirar sua motivação das fontes mais profundas e vivificantes nas quais a sua consciência se plasma e sobre as quais se fundamenta a acção moral de toda pessoa. ... Daqui iremos a diferentes lugares de oração. Cada religião terá o tempo e a oportunidade de exprimir‑se em seu próprio rito tradicional."


Foi assim que o mundo assistiu ao espectáculo de bonzos incensando um Buda colocado sobre o Sacrário de um altar católico, pois na igreja de S. Pedro em Assis havia sido removido o crucifixo.


Concluindo as orações pela paz, João Paulo II diz: "Eu professo de novo minha convicção, condividida por todos os cristãos, de que em, Jesus Cristo, salvador de todos, pode‑se encontrar a paz. ... Repito aqui humildemente a minha própria convicção: ‑ a paz leva o nome de Jesus Cristo. "


Como conciliar a ‘convicção’ expressa nestas palavras com o convite de oração pela paz feito aos representantes de crenças não cristãs ? Pode um papa ignorar sua missão de ensinar e confirmar a fé que só há paz verdadeira e universal na fidelidade à Vontade divina de Jesus Cristo?


O Grande Oriente da Itália declarou (abril 1987): "O nosso inter- confessionalismo nos causou a excomunhão de 1738 por parte de Clemente XII. Mas a Igreja estava certamente em erro se é verdade que dia 27 de outubro de 1986 o actual pontífice reuniu em Assis homens de todas as confissões religiosas para rezar pela paz. Que procuravam de diferente nossos irmãos quando se reuniam. nos templos senão o amor, a tolerância, a solidariedade e defesa da dignidade humana, considerando-se iguais acima de todo credo político e religioso ?"


A Maçonaria dava razão a João Paulo II, que dava razão a esta e a imitava em detrimento de tudo quanto a Igreja ensinou.


Ora, para quem cré que é possível pedir pela paz sem invocar o santo nome de Deus e professar Sua fé, também a Mensagem de Fátima, pela qual Deus confiou a paz do mundo ao Imaculado Coração de Maria, não pode ter sentido, ou pelo menos importância. De facto, o ecumenismo de Assis não é conciliável como o verdadeiro ecumenismo fiel de Fátima que convida ao retorno à fé, à esperança e à caridade católicas.


A prova disto é que uma imagem de Nossa Senhora de Fátima levada a Assis por ingénuos peregrinos da Calábria ficou na ocasião excluída das igrejas católicas; as fotos mostram-na num relvado distante.




A interpretação católica do Segredo de Fátima




A visão terrível do inferno e dos crimes do mundo, culminantes na hecatombe do Papa católico, filtrados pelo olhar singelo dos pastorinhos, chama, acima da malícia de alguns e do escárnio de muitos, a ouvir a grande Profecia de 1917. E visto que tudo o que vem do Alto é para a conversão dos homens ao bem, fazendo tesouro dessa visão apocalíptica de nosso tempo, poderemos testemunhar, na fé, esperança e na caridade da penitência cristã, a força para que seja removido o que impede e dado o que falta para edificar o reino sublime que regerá um mundo pacífico: o amor imaculado ao Bem e à Verdade do Coração de Maria.


Para atingir essa meta insuperável os homens receberam a Mensagem evangélica. A ignorância e o desprezo dela nos tempos modernos foi a causa dos terríveis males preditos nos avisos marianos, que culminaram no Evento de Fátima, mas a fé de então não bastou para fazer com que o mundo reconsiderasse seu curso perverso, voltasse ao bem e tomasse consciência do fim espiritual da vida humana. Deve-se pois iniciar todo discurso sobre esse sinal que foi sancionado pelo Milagre do Sol; “para que todos pudessem crer”, acentuando sua suprema importância. Isto depende do modo como é recebido porque “quem recebe um profeta como profeta, terá a recompensa do profeta” (Mt 10, 41). Mas quem, ao contrário, nega a relevância profética do Segredo de Fátima, assume uma posição anti-profética diante dos verdadeiros sinais dos tempos.


Visto o texto da Mensagem de Fátima para reconhecer a ajuda aos filhos de Deus, para que reconheçam os males do mundo, passemos à sua interpretação segundo o Magistério da Igreja e o senso comum.





Que foi feito da frase que a Irmã Lúcia acrescentou na 4a. Memória: - Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc., ignorada na actual apresentação do Segredo. A razão porque se ignorou a frase que fala da preservação da Fé foi desvelada pelas mudanças do Vaticano II.





Para entender o Segredo tivemos que enfrentar novos mistérios. Mas o que deve interessar acima de tudo è o mistério próprio de sua mensagem.





Vimos que a parte conhecida introduziu a parte secreta com frases em que Nossa Senhora repete quatro vezes a palavra ‘Se’. O condicional implica uma continuação dos progressivos flagelos anteriores pelos quais ‘se não deixarem de ofender a Deus... (no tempo de...) - Deus... vai punir o mundo dos seus crimes, por meio de perseguições à Igreja e ao Santo Padre: do martírio dos bons e do grande sofrimento do Papa.





A perseguição à Igreja e ao Papa evoca uma passagem evangélica em S. Mateus: “Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas” (Mt 26, 31). Quando o Senhor é a um tempo o Pastor e quem permite o seu abatimento, não faz entender que isso equivale a retirar-se ?


De facto há que distinguir entre duas formas de perseguição à Fé: uma directa, dolorosa mas edificante para a Igreja porque participa na agonia de Jesus e na subida pela escabrosa montanha da Cruz; nela se edificou a Cristandade para o bem do mundo. A outra da conciliação mundial das crenças numa paz sem Cristo É a apostasia dos pastores, que seguindo pela estrada larga das liberdades humanas, abatem a verdadeira Igreja para edificar uma ‘religião universal’ que leva o mundo à perdição.


A Terceira parte do Segredo vai mostrar essa perseguição, diversa das anteriores, que fará com que o mundo, pela própria acção, vá ao encontro de um desastre pior que as terríveis guerras do último século.





Compreende-se isto considerando que quando o mundo, em nome da liberdade, suprime a Autoridade da Palavra divina, ele está cortando o oxigénio da vida espiritual, o alimento da vida social, o amor pelo bem e pela verdade que rege a sociedade. Em outras palavras, sem a voz livre do Papa e da Igreja de Jesus Cristo, que é a Verdade, o mundo fica enredado pelas suas ilusões, erros, imoralidades, violências e delitos mortais; é reduzido à uma cegueira moral que o impede de defender o verdadeiro bem do mal, que se alastra então desencadeado.




Como distinguir as duas diversas formas de perseguições à Fé.






Todo o poder da Igreja provem da agonia, paixão e morte na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Papa católico ensina que tal perseguição é uma das notas constantes da Igreja. Esta se manifesta com a violência para destruir a Igreja materialmente, mas jamais a venceu, ao contrário serviu sempre para reforçar a Fé e com ela a Igreja. Como a paixão e a morte de Jesus, todo esse sofrimento na Fé santificou muitas almas.


Há pois que distinguir esta de uma outra forma de perseguição, que introduz ataques internos à Igreja: heresias, cismas, e a erosiva aversão à luta contra o mal, que leva à ideia de sua conciliação com o mundo. É a perseguição que vai contra a razão mesma da Autoridade da Igreja e do Papa, cujo poder das chaves provém do Sangue de Cristo, sem o qual a força da Igreja esvai-se e ela é levada ao seu aniquilamento.


A nova perseguição se manifesta com compromissos estranhos ao espírito da Igreja e ao dogma da Fé e traições internas.


Eis o que é o mistério da iniquidade: o abuso da Palavra, com a cobertura de uma autoridade que se apresenta como divina para pregar a conciliação, não mais ao nível de pessoas, mas de religiões; uma contradição metafísica. Prega a conciliação com o mundo para evitar a inevitável perseguição da parte de seus erros mortais. Esta forma de perseguição à Fé se realiza pela supressão da sua defesa que reside, como se lembrou, na agonia, paixão e morte na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Seus executores, externos e internos à Igreja, almejam a eliminação do Papa que sofre pela Fé. Eis a perseguição contra o zelo pela Fé, cuja sedução de engano aumenta de modo inimaginável a alienação das almas da Cruz, em favor do espírito do mundo.


Para conhecer a natureza dessas perseguições da Igreja e do Papa há que ouvir os próprios papas nas horas cruciais da história moderna.



A pior perseguição da Igreja
é aquela pela qual “a Esposa santa e imaculada de Cristo, fora da qual não há salvação, é nivelada às seitas, e também à perfídia judaica, com o estabelecimento da liberdade de culto sem distinção, pelo que se confunde a verdade com o erro” (Enc. Post tam diuturnas, 29.4.1814) do Papa Pio VII.


Na encíclica Mirari Vos do Papa Gregório XVI, contra: "O delírio do indiferentismo religioso... pelo qual em qualquer profissão de fé pode a alma conseguir a salvação eterna, conformando‑se ao que é justo e honesto"; "O erro venenosíssimo de que se deva admitir e garantir a cada uni a liberdade de opinar, a liberdade de consciência, diante da religião..." Trata‑se do conceito moderno de liberdade religiosa e direitos humanos sancionado pelo Vaticano II e apregoado desde então. Contra ele o Papa diz: "Removidos os limites que contém no caminho da verdade os homens, que pela sua natureza propensa ao mal já estão atraídos ao precipício, podemos dizer que em verdade foi aberto o poço do abismo, do qual São João viu sair uni tal fumo que obscureceu o sol, saindo dele incontáveis gafanhotos para devastar a terra. " É a menção do Apocalipse (9, 1): “E o quinto anjo tocou a trombeta; E vi uma estrela cair do céu sobre a Terra. E foi‑lhe dada a chave do poço do abismo. E abriu o poço do abismo...


A este ponto a estrela é o ‘bispo com a chave’, que abriu o poço. Uma autoridade que abriu a Cristandade à ideia de um direito à liberdade religiosa. Um falso profeta que abriu a Cidade de Deus à demolição do mundo, para que o testemunho cristão de fidelidade e penitência fosse eliminado em favor de uma pastoral baseada na justiça e paz da ONU.



O Papa Pio IX na época do Concílio Vaticano I
, avisou do grande perigo - (27.11.1871):Hoje não é mais com a heresia, não é mais com o martírio de sangue que se depara a Igreja para combate-la, mas é, direi assim, o martírio intelectual e moral. Hoje não se faz mais a guerra a uma parte da Igreja, a um aspecto da sua fé, a algum de seus dogmas. Hoje se faz guerra à Igreja inteira. Hoje está contra a Igreja a incredulidade, o ateísmo, o materialismo. Hoje não há que lutar mais com heresias que não existem, ou que não têm importância nenhuma; mas com a indiferença, com a impiedade, que visa arrancar do coração de todo Católico a fé; visa arruinar desde os fundamentos a Igreja de Jesus Cristo, e esta Cidade, tornada preciosa pelo sangue de tantos Mártires, a cair de novo nos miasmas da antiga corrupção, reduzindo-a como sob os Neros, ou melhor Julianos Apóstatas. Para que enfim, a sede venerada da verdade, Roma, tornar-se-ia enfim outra vez, centro de todos os erros. Mas não conseguirão isto, pois Deus defende a sua Igreja.



Portae inferi non praevalebunt.
Uni-vos cada vez mais, meus filhos: nem vos deixeis enganar momento nenhum por vozes mentirosas de uma impossível conciliação. É inútil falar de conciliação, pois que a Igreja não se poderá jamais conciliar com o erro, e o Papa não se pode separar da Igreja”. A inconciliabilidade da Igreja com o mundo moderno é questão de fé. Tal conciliação foi condenada no Syllabus.



A Cristandade
que defendeu por vinte séculos o primado do espiritual e sobreviveu a todo ataque, mesmo às brutais revoluções francesa e russa, foi aluída nos nossos dias pela sedição que reservara para o fim seu aguilhão mais mortal: um aggiornamento clerical. Isto foi possível porque a hierarquia eclesiástica, cujo dever precípuo é preservar a Fé e defender a Cidade cristã, deixou-se seduzir pelo espírito que nutre as utopias modernistas, associadas aos poderes terrenos segundo a palavra de ordem: conciliação com o mundo. O establishment conciliar apoiado pelos media da nova ordem mundial, isolou as vozes que denunciavam publicamente essa evidente oposição. Seguiu a descristianização do mundo com um processo de inversão dos valores sociais, que encontram o seu lógico desenlace num próspero satanismo. A Revolução realizando o seu plano de demolição da Cristandade, substitui os sistemas violentos por métodos culturais que apartaram o pensamento da moral.


Os Papas condenaram esse espírito revolucionário, inclusive o do modernismo, como perversos, porque, em todas as suas variações, se opõem à verdade e ao bem da humanidade, rompem nas consciências a ordem dos princípios divinos acarretando toda uma série de ideias desviadas e comportamentos criminosos que levam a horrores de uma intrínseca desumanidade. A abissal inimizade entre tal espírito e o catolicismo, é descrita pelo Papa Pio XII (Disc. à ACI, 12.10.52): "Ele encontra-se em toda parte e no meio de todos; sabe ser violento e sub-reptício. Nos últimos séculos tentou operar a desagregação intelectual, moral e social da unidade no organismo misterioso de Cristo. Quis a natureza sem a graça; a razão sem a fé; a liberdade sem a autoridade; por vezes a autoridade sem a liberdade. É um 'inimigo' que tornou-se cada vez mais concreto, com uma falta de escrúpulos que deixa ainda atónitos: Cristo sim, a Igreja não. Depois: Deus sim, Cristo não. Finalmente o grito ímpio: Deus morreu; aliás: Deus nunca existiu. Eis a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que Nós não hesitamos em apontar como as principais responsáveis pela ameaça que pende sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um direito sem Deus, uma política sem Deus. O 'inimigo' empenhou-se e empenha-se para que Cristo seja um estranho nas universidades, nas escolas, nas famílias, na administração da justiça, nas actividades legislativas, no consenso das nações, onde determina-se a paz ou a guerra. Ele está corrompendo o mundo com uma imprensa e com espectáculos, que eliminou o pudor nos jovens e destroem o amor entre os esposos; inculca um nacionalismo que só pode conduzir à guerra".




Pio XII via, já então, este processo tão avançado ao ponto de considerar inútil "ir ao seu encontro para bloqueá-lo e impedi-lo de semear a ruína e a morte". Considerava mais urgente "vigiar, orar e operar, para que o lobo não penetrasse no redil para capturar e dispersar a rebanho".


Depois da sua morte, porém, tal espírito, que é a Revolução de sempre em veste modernista, abriu as portas de um Vaticano sem defesas. Como este espírito de abertura para o mundo é reconhecível nos conciliares? Porque estes, ao contrário dos papas católicos, declaram que o processo revolucionário, civil e religioso, é animado por um espírito profundo e generoso que prepara a fraternidade universal.


Trata-se da revisão completa da Religião da Fé Trinitária; de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, da qual procedem fraternidade e unidade.


Quem nega esta Fé nega que a fraternidade comum proceda do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, do qual, toda a paternidade nos céus e na terra toma nome (Ef 3,14-15); pensa que uma união humana pode determiná-la; professa uma fé noutra fraternidade; de qual pai?


O período em torno a 1960 é referência histórica para a consciência no mundo moderno: houve então a mais radical revolução, que, alterando a religiosidade humana, iria invisivelmente envolver todas as sociedades. Poderia isto ser alheio à Mensagem de Fátima, cujo terceiro segredo, se fosse então revelado, seria mais claro? Não avisava este de um evento sem precedentes históricos, que, sucessivo às duas Guerras mundiais, seria ainda mais avassalador que a Revolução russa? O que senão uma revolução universal de inspiração e origens ocultas, e de proporções e consequências desconhecidas? Sintomaticamente a divina Mensagem que falava de tais erros foi censurada pelos clérigos que preferiam seguir outra voz. Disse Jesus (Jo 5, 43): «Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; quando vier outro em seu próprio nome recebê-lo-eis. Como podeis crer vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que só de Deus vem?». Devemos pois reconhecer a voz deste ‘outro’.


Veremos em seguida a sua operação para cancelar a ideia de Deus nas consciências pelo ateísmo e agnosticismo. Mas atenção, ele já passou à fase sucessiva dessa pura negação de Deus: à fase da substituição; não mais uma nova ideia religiosa, mas a religião universal que revelará como Deus deve ser, para o bem e a paz de todos, para a liberdade e a dignidade do homem em caminho para a nova ordem da divinização da nova humanidade.


A nova justificação: da contestação universal. Os ideólogos dessa nova ordem na esfera religiosa ignoravam porém seu efeito boomerang. O que ela acarretou para a sociedade foi qualquer coisa de devastador também no plano moral e mental. Os anos sessenta, com a contestação social e estudantil e na onda da campanha de desdém pelos princípios cristãos, gerou uma alienação entre a vida civil e a vida espiritual, entre o pensamento e a verdade, entre o homem e Deus. Os erros da revolução levam o homem a alienar, com as verdades existenciais e o culto a Deus, sua própria alma. Destes erros e de suas consequências terríveis fala a Mensagem de Fátima, que não foi acolhida. Ela volta a apresentar-se agora na forma das perguntas suscitadas pelo Segredo.


Além dos erros políticos há os graves erros religiosos da revolução modernista, condenada pela Igreja até os anos cinquenta, que hoje dopa os homens e o mundo católico como um ópio dos povos.


O perigo real para a Igreja é que seus filhos, temendo a agonia de um sofrido embate com os cultores do mundo, para a defesa da fé católica, esmoreçam na intransigência da verdade atraídos pela falsa paz de uma ilusória conciliação. Para a Igreja católica esse seria o momento letal em que essas ideias liberais lhe seriam inoculadas veladamente pelos seus próprios clérigos num ‘concílio ecuménico’ em Roma. Não é acaso o que iniciou João XXIII e foi completado pelo Vaticano II na declaração Dignitatis humanae, para promover um desviado conceito de ‘liberdade religiosa’ e estabelecer uma inaceitável ‘conciliação’ com os erros do mundo? Eis a pior perseguição da verdade de que falaram os papas.




Os textos papais acima e a profecia de Pio IX são pois atinentes à uma perseguição presente, que pode ser reconhecida na ruptura operada pelos documentos do Vaticano II com o Magistério papal. Por exemplo, a declaração citada implica a negação da razão mesma da autoridade papal, que é declarar o império da Lei divina sobre toda a sociedade humana; tudo com a perversidade de ser pronunciada em nome de Deus.


Esse processo eclesiástico para uma conciliação com o mundo, que destroi a Igreja, Cidade de Deus, e aniquila a mesma razão do Papado, poderia ser estranha ao Terceiro Segredo de Fátima ?


Diante da desastrosa realidade religiosa depois de Pio XII, vamos ainda lembrar as mais pertinentes deduções concernentes o conteúdo do Terceiro Segredo , ligadas à Mensagem de La Salette.




Os factos centrais de Fátima estão ligados à Roma e ao Papa.




Quanto à doutrina, é fato revelado que a abominação de desolação se dará no lugar mais alto, no Trono do Lugar santo, na Roma que se tornou a Babilónia prostituída aos poderosos da terra (Apl 17-18, IITs 2) e este conceito foi repetido pelos próprios papas, que acolhendo a Mensagem de La Salette: “Roma perderá a fé e tornar-se-á a sé do Anticristo”, invocaram a ajuda divina contra esse supremo perigo.


Leão XIII compôs um especial exorcismo dizendo ali onde está constituída a sé do beatíssimo Pedro... ali colocaram o trono da abominação de sua impiedade’ (FA, p.165). E seu sucessor, S. Pio X, na sua primeira alocução papal disse ser lícito pensar que o anticristo já estava presente. Para reconhece-lo devemos ter em vista seus objectivos: Roma, o Lugar santo onde ‘imaginará que pode mudar os tempos e as leis’ (Dn 7, 25); o ecumenismo de conciliação das crenças do mundo, para realizar uma paz e uma liberdade autónomas de Cristo. Esta apostasia tácita está nos documentos do Vaticano II.


Considerando o gravíssimo aviso dado em La Salette em 1846 para o futuro, poderia a Mãe de Deus deixar de repeti-lo ao aproximar-se o seu tempo, indicando a hora fatal da realização desse engano máximo? Impossível. O véu permanece sobre o flagelo sem precedentes só porque nas questões de fé cabe à fé desvendá-lo. Eis que o Terceiro segredo vai fazer ver o que já foi anunciado, no tempo presente: “Roma perdeu a fé e tornou-se a sé do Anticristo”. Como ? S. Paulo fala aos Tessalonicences (2Ts, 2) da sequência dessa manifestação do “homem do pecado” que ocupará o trono de Deus: a apostasia geral e uma remoção especial.




O que impedia aos católicos entender a importância da Aparição e da Mensagem de Fátima para acolhe-la, honra-la e segui-la devidamente ?


Temos uma referência no Magistério de Pio XII, chamado o ‘Papa de Fátima’. porque no dia em de sua consagração episcopal em Roma, pelo Papa Bento XV, Nossa Senhora aparecia pela primeira vez em Fátima.


Pio XII recorreu em parte a este recurso durante a II Guerra mundial. Mas só se prestou maior atenção a ele depois que meia Europa caiu sob o domínio soviético. Cinquenta anos após a revolução russa, o sinal dado pela Mãe de Deus foi reconhecido pelos chefes comunistas como o "principal deterrente do avanço da revolução ateia no mundo", como assinalou o ex. comunista convertido Hamish Fraser (suppl. Approaches - 95, "Fátima - o quarto segredo",).


O problema é que a geral “apostasia” permite ao inimigo que, sem resistência, seja “tirado do meio quem o retém”; a remoção de quem representa o poder de Deus na terra. O Papa católico ? A Terceira parte da Profecia de Fátima, cujo aviso jazia arquivado no Vaticano, completa o quadro de um mundo apóstata sobre cujos erros e crimes já pesava a espada do juízo divino. Ele mesmo desencadeou sobre si o flagelo final. Trata-se da perseguição mortal à autoridade do Bem e da Verdade; do “pastor ferido” cuja ausência deixará a grei na dispersão e o mundo numa babélica confusão.


Para a compreensão de que tudo isto se liga à Mensagem de Fátima há que seguir as questões que pertencem à sua história e ao que se lhe opõe, isto é, o curso histórico da Revolução que difunde os erros da Rússia. Às suas etapas correspondem, como veremos, as da história do Segredo.




Uma hecatombe? Porque, quando e quem são os seus executores?




Para entender quais são as forças que miravam tirar o Papa católico do meio e o momento da consumação desse facto mostrado na visão da hecatombe papal do Segredo, há que rever a historia à luz do Evangelho.


Antes de fazê-lo devemos porém lembrar que a visão simbólica se confirma como um aviso sobrenatural que, avalizado pelo Milagre do Sol, é de extrema gravidade: o Papa morto representa Cristo, a Igreja católica e o Papado. A hipótese que a visão se refira a um determinado pontífice, visto que a um papa sucede outro, reduziria a sua importância; negaria a sua natureza de aviso extraordinário sobre um evento histórico culminante e decisivo na história da Igreja. Para o católico consciente que o Papado sempre será, pela sua natureza, alvo dos inimigos da Igreja de Cristo, a única interpretação plausível da visão de Fátima é de uma hecatombe não redutível à pessoas ou a factos. Mas João Paulo II interpreta essa visão à luz do atentado falhado de 1981 contra si mesmo. Não só, mas ainda faz dizer que se trata de um facto superado.


Só a indiferença diante da defesa da Fé e da Igreja poderia minimizar o perigo desses atentados letais, sugerindo que não são mais actuais num mundo liberal que até aplaude e exalta o chefe do Vaticano hodierno.


Na verdade o que não é mais actual é a atenção às questões da Fé. O que demanda dos fiéis uma redobrada atenção para com tudo o que lhe diz respeito, como é neste caso o Segredo de Fátima, que deve ser visto na dimensão que se apresentou como Sinal da Providência.


E temos hoje novos sinais em torno desse Sinal. Um destes se revelou no pretexto para a abertura do Segredo com a tentativa de apropriar-se da sua importância e da atenção que lhe atribui o mundo católico; outro sinal vem da surda perplexidade que esta apresentação provocou. Ora, o fiel que recebe o Segredo como Sinal da Providência, por causa desses novos indícios, pode ser solicitado a aprofundar a justa compreensão de seu sentido real, que desde 1960 seria “mais claro”, como havia dito a Vidente Lúcia ao Cardeal Ottaviani. Em outras palavras, a manipulação actual dessa Profecia, pode surtir o efeito oposto, no sentido de provocar uma geral tomada de consciência da grave mutação eclesial hodierna.


Aprofundar pois a Mensagem de Fátima é vital para a vida da Igreja e o bem dos homens. Por isto deve-se responder às suas questões, que reflectem a extrema actualidade do aviso sobrenatural, confirmado pela história, mas que a interpretação do Vaticano actual tenta esvaziar.


Nisto alegam a anuência da Irmã Lúcia. Para essa investigação havia pois que verificar o valor do testemunho fundamental da Irmã Lúcia. Isto foi visto aqui, verificando o que encobre a insistência do documento editado sobre o Segredo de Fátima pela Congregação para a Doutrina da Fé e a posição desta diante de duas questões misteriosas: - negando que o Segredo deveria ser revelado a partir de 1960; - afirmando que a pedida consagração da Rússia já fora satisfeita e a paz voltou ao mundo.




A hecatombe moral e a desordem do mundo.




Qual a situação moral do mundo contemporâneo à luz da Profecia?


A decadência do mundo contemporâneo é geral e profunda, atinge todos os campos a todos os níveis: da família ao estado, da justiça à política. Onde não há guerras iníquas há violência e corrupção infrene. Convive-se com a imoralidade e o delito. Nunca a autoridade foi tão necessária; nunca tão ausente. Jamais houve controles tão potentes, jamais tal desgoverno. No plano dos fatos a tentação moderna a substi­tuir a ordem cristã por uma nova ordem redunda num descalabro: não há mais como recorrer a poderes humanos para conter desordens nacio­nais e massacres internacionais. Negada a origem divina da ordem e da autoridade, a sociedade humana não è mais livre, mas degradou-se.


- Quando não há Deus, tudo é permitido -


Qual a relação causa-efeito entre a fé em Deus e a desordem social?


O bem do ser humano e de sua sociedade é conexo com sua razão de ser: com o seu princípio e fim. Como poderíamos conhecer o nosso bem durável, desconhecendo o nosso fim último?


Como poderia o bem da sociedade humana ser alheio ao fim último de seus membros? O homem pode distinguir um bem de um mal imediato, mas não pode conhecer por si mesmo o próprio bem permanente, ligado ao fim da vida humana. Eis que precisamos do Logos, do Princípio de todo saber, para discernir o nosso fim último e acolher o bem e afastar o mal para que a sociedade humana se governe na justiça. Ao negar a Verdade que a Igreja ensina, o homem se priva da lei para a distinção entre o bem e o mal, e torna mendaz sua detecção do mal que, como uma infecção da alma humana, se alastra causando crises morais e mentais, provocando uma desordem universal de desfecho letal para a sociedade.


Eis o resultado da perseguição demolidora da Igreja e do Santo Padre.


Seguindo estas palavras somos conduzidos à visão do desenlace de uma inteira época histórica: se não forem atendidos os pedidos divinos, mas se continuar na ofensa a Deus, depois da guerra pior, o mundo será punido dos seus crimes... por meio dessa perseguição (devastadora) da Igreja e do Santo Padre. Castigo que vai também aniquilar várias nações (cristãs); Portugal (somente?) conservará o dogma da Fé. Esta excepção, provavelmente obtida pela penitência de muitos peregrinos, não é pura e simplesmente a conservação da Fé, mas do seu cerne, o dogma. À luz de Fátima, Portugal se demonstra fiel ao que implica a penitência cristã e à recusa de votar sobre o que ofende a Lei divina (no caso a lei do aborto).


A destruição moral e religiosa do mundo é hoje um facto evidente.


Esse desastre havia sido previsto em termos inflamados por Pio XII, especialmente no fim do seu Pontificado. Quando o Vaticano actual, na sua conferência sobre o Segredo de Fátima, evita alusões à ruinosa situação moral e religiosa que se verificou nos novos tempos, reforça o seu contraste com o Pontificado precedente, mesmo se diz continuá-lo. É a razão porque a sua interpretação suscita uma geral reacção de suspeita da parte, seja dos progressistas que desejando uma nova igreja querem a ruptura completa com as profecias de desgraça, quer dos tradicionalistas que esperavam a reconsideração vaticana da gravidade dessa profecia.


A presença de cadáveres na visão do Segredo, que não são de mártires, poderia reflectir a ruína romana manifestada na apostasia geral, epílogo do declínio seguido pela eliminação do testemunho católico neste século.


Há que continuar a investigação verificando mais três questões que fornecem indicações sobre o Segredo:


- A ordem dada à Lúcia por Nosso Senhor em 1931 de comunicar aos Seus ‘ministros’ as consequências por não terem atendido ao pedido de consagração da Rússia, comparando o destino destes com a desgraça que a Revolução fez abater-se sobre o Rei da França;


- As indicações fornecidas pela Irmã Lúcia sobre a forma e o período em que começou a ruína eclesiástica, agora desvelado pelo Segredo na visão da hecatombe das testemunhas católicas com o Papa. Para isto há que rever o ‘caso’ da entrevista de Lúcia ao Padre Fuentes de 1957, tempo de Pio XII, que ela teve que negar publicamente em 1959, nos novos tempos de João XXIII’;


- Os textos evangélicos, especialmente do Apocalipse, que Lúcia, junto ao cardeal Ratzinger, dizem fazer parte do conteúdo do Segredo, de tal modo que as ‘metáforas’ apocalípticas se ajustam admiravelmente a eventos de nosso tempo.


Ora, diante da universal apostasia é lícito pensar que Deus daria um último sinal antes de permitir que Sua voz se calasse por um tempo no mundo que não quis ouví-Lo. De facto a visão inicia com o apelo angélico à penitência, que também ficou censurado junto à hecatombe que se seguiu por falta de penitência.


A simbólica morte do Papa sob os tiros e as flechas dos seus inimigos corresponde à realidade de sua eliminação e consequente vacância da sua voz e autoridade na Igreja e no mundo. Isto avaliza a interpretação de que Deus vai permitir (por um tempo) uma eclipse da Sua luz na sociedade humana; Segue a escalada e ocupação do Templo de parte dos promotores do culto do homem e de suas hordas armadas de erros fatais. A profecia dessa suspensão está no Livro do Profeta Daniel e foi confirmada pelo Senhor (Mt 24, 15-25): "Quando vereis a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, posto no lugar santo - quem lê entenda - ... surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão grandes portentos e milagres, ao ponto de induzir em erro, se possível, até os eleitos. Eis, Eu vos predisse".


Trata-se do engano introduzido no que é sagrado; na ruptura culminante na "fortaleza do Céu", no lugar do Santo Sacrifício; no ato perpetuado na Missa católica, "sacrifício quotidiano suspenso quando se levantará a abominação da desolação" (Dn 12, 11).


De facto o Sacrifício perpétuo "é para a vida espiritual e moral de todos os povos do mundo o que é o sol para a vida natural da terra” (S. Francisco de Sales); ele é a razão vital do Papa católico, primeiro confessor da regra da oração na Santa Missa, que é a lei da Fé da Igreja. Contra ela foram projectadas as setas mortais da Lumen Gentium e de outros documentos do Vaticano II que, emblemáticos da ruptura velada com a Fé da Igreja, o são também do atentado mortal ao Papa católico.


Ora, antes de 1960 a Santa Missa católica não havia sido tocada, mas um inovador já ocupava a Santa Sé e convocara o Vaticano II, fulcro de uma revisão litúrgica da ideia de sacrifício. Isto servia ao ecumenismo aceitável para os Protestantes, conscientes da lição de Lutero de que abolir o Sacrifício da Missa católica era abolir o Papa.


A Mensagem representando a continuidade católica, isto é a Tradição, mostra a revolução que se lhe opõe: o modernismo conciliar, contrário a esse triunfo da Fé. Muitas vozes católicas tentaram mostrar ao mundo a evidente dicotomia entre a Fé católica e o Vaticano II.


Hoje temos, de um lado o plano conciliar de uma paz obtida pela união de todas as religiões e ideologias do mundo, do outro, o plano de Fátima, cuja visão mostra a morte do Papa e que conclui lembrando as razões da verdadeira esperança no triunfo final do Imaculado Coração de Maria sobre as portas do inferno. Estas não prevalecerão sobre a Fé da Igreja e o Papa que, por fim cumprirá a consagração da Rússia e vai guiar o mundo a um tempo de paz.


Mas onde está o Papa católico hoje?




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Apêndice:




O livro citado de padre Alonso sobre o segredo de Fátima, apesar das muitas informações objectivas e comentários ponderados, não dei­xa de conter um conformismo exagerado tendente a justificar, a todo transe, a decisão papal de arquivar no silencio o Terceiro Segredo. Con­sidera o autor, por exemplo, que a atmosfera de curiosidade e espera ansiosa, criada em torno dessa parte desconhecida da mensagem, seria razão suficiente para não torná‑la pública, evitando assim que fosse exposta a manipulações sensacionalistas, bem como a deformações de seu conteúdo. Na verdade, as deformações ocorrem em consequência da pouca ou má luz, não da clareza. Além disso, não faltam à Santa Sé recursos e meios para explicar o que possa considerar necessário, também sobre a própria parte em relação a uma mensagem que não foi até agora considerada mais que uma revelação privada, apesar de a aparição que a trouxe ser reconhecida autentica pela Igreja. Se deve haver cuidado e prudência, isto é devido mais ao valor que à forma das palavras, e se tudo o mais da mensagem é inatacável, e nem por isso tem o aval oficial da Igreja, por que isso seria problema para a parte menor? Não se explica.


Há em toda essa questão uma espécie de inversão lógica, pois uma mensagem, assim como uma notícia, é dada em função do que deve comunicar. Não pode uma comunicação objectiva, nem deve deixar de existir, ou ser manipulada, em função de supostas reacções subjectivas a evitar. Tais métodos podem hoje ser comuns nas mãos de manipuladores da opinião ou profissionais da propaganda, mas são indignos se aplicados pelos vigilantes eclesiásticos da verdade. É a pior censura, que cedo ou tarde vai desmascarar seus autores: não mais a proibição do que è objectivamente mau e nocivo à moral dos povos e à edificação das almas, mas supressão de uma notícia que, sendo de origem celeste é essencial e necessária, com a hipócrita desculpa de proteger as gentes de uma turbação espiritual e de avisos que, sacudindo as consciências, são a razão mesma da mensagem. É como censurar o aviso de desgraças porque perturbador, a visão do inferno porque horrenda, o alerta contra falsos profetas porque subversivo, o mistério da iniquidade porque iminente e espantoso.


Seria oportuno considerar, a propósito, o mau uso feito da palavra “apocalipse”, que depois de tantas más leituras, distorções e abusos, deu lugar a uma literatura fantástica e quase sempre falsificada com esse nome. Dela muitos se apartarão, desconfiados. Seria insano, porém, por causa disso, censurar ou arquivar o próprio Apocalipse, livro sagrado porque inspirado por Deus e que contém ensinamentos preciosos reservados também para o nosso tempo. Se o mundo, à imagem e semelhança desse livro profético, acumulou escórias religiosas e falsas profecias, o mesmo fez com os Evangelhos, dados para quem tem ouvidos para ouvir. Mas a falsificação não altera os originais, ao contrário, os confirma quando estes advertem contra os erros e seduções dos falsos profetas que pensam e falam como o mundo.


E tudo isto se aplica igualmente à mensagem de Fátima e ao seu Terceiro Segredo, dados para o bem dos homens desta nossa época aflita por uma espantosa crise de fé. Considerou‑se, porém, necessário ocultar essa mensagem preciosa. Ficaremos sabendo, seguindo os comentários de padre Alonso, que para a nova ‘pastoral’ esse segredo não deverá ser nunca publicado e portanto continuar como um peso nos arquivos vaticanos. Parcial confirmação disso teve‑se com a entrevista de agosto de 84, dada pelo actual prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, como veremos mais adiante.




Mas vejamos se no conteúdo do Segredo encontramos essas razões.


A primeira e a segunda parte do «segredo», que são publicadas em seguida para ficar completa a documentação, dizem respeito antes de mais a visão pavorosa do Inferno, à devoção ao Imaculado Coração de Maria, à Segunda Guerra Mundial, e depois ao prenúncio dos danos imensos que a Rússia, com a sua defecção da fé cristã e adesão ao totalitarismo comunista, haveria de causar à humanidade. Em 1917 ninguém poderia ter imaginado tudo isto...”




O que se diz aqui da Rússia pertence à segunda parte, já conhecida do Segredo. Fica por responder ao que respeita o Ocidente: apostatando da Fé cristã, este não está indo ao encontro de uma catástrofe total de modo mais irremediável que se estivesse submetido ao nefasto comunismo ?


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A descrição desse período histórico é imprecisa. Não se pode afirmar que o povo russo abandonou inteiramente a fé cristã, nem com o grande Cisma, nem depois do ateísmo imposto pelo comunismo. Seu actual grau de apostasia deve ser grave, mas não menos o do Ocidente, após suas novas revoluções morais e religiosas. Ora, o Segredo alude a um delito universal de tal gravidade que um anjo com uma espada de fogo parecia querer incendiar o mundo. Qual esse delito senão a grande apostasia?


Mas diante de tão grave delito e de tão extraordinário aviso, pode-se ignorar que a acção de ocultar a visão do Segredo, que adverte contra o abandono da Fé, e a escalada dessa geral e fatal apostasia, são ligadas ? Haveria alguma razão para censurar o aviso ? Aqui esta não é exposta. O facto é que João XXIII, Paulo VI e depois João Paulo II, recebendo a Terceira parte do Segredo de Nossa Senhora de Fátima, anunciado por um anjo... decidiram “enviar de novo o envelope selado para o Santo Oficio e não revelar a terceira parte do «segredo». Visto que não explicam a razão desta censura pode-se deduzir que temiam a revelação de uma verdade oculta. Mas os danos imensos causados pelo comunismo à humanidade eram conhecidos, logo só restam as mutações operadas na Igreja, cujos frutos nefastos em 1917 ninguém poderia ter imaginado, mas podiam ser deduzidos em 1960, também pela censura aplicada ao Segredo de Maria.


Porque então se quer hoje suprimir a data de 1960?


A única possível resposta é que essa data corresponde ao período da “supressão” do papa católico por um longo tempo... mas no fim o Coração Imaculado de Maria triunfará; será o triunfo da Fé da Igreja.
 
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