Páginas

A ORDEM CRISTÃ E A UNITATIS DESINTEGRATIO CONCILIAR

Por Arai Daniele


Ouve-se amiúde a frase “eu não vivo para trabalhar, mas trabalho para viver”, e também: “eu como para sobreviver e não sobrevivo para comer”. E assim por diante, são conclusões obvias de uma sabedoria simples, mas essencial, que implica razões filosóficas de causa e efeito e de uma série de princípios, como o de identidade e de não contradição, o de causalidade etc., que não demandam grandes estudos, mas a honestidade mental de aceitar o que já está na ordem lógica das coisas estabelecida por Deus, das mais simples às mais complicadas, ordenadas ao alto fim da vida do homem; fim para o qual todos deveriam ser unidos e para o qual operava a missão da Igreja.

Tudo isto se reflete na consciência da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, para que dirija sua ação ao bem, que é a perfeição do seu “ser”, criado para o excelso fim querido pelo Pai. Ora, o “ser” humano é de natureza terrena, familiar e social. Há, pois, que entender a essa luz a sua ordem natural, carnal e mental.

Por isto vamos falar da união dos seres humanos como ideal indicado por Deus Pai.

E nesta época da grande comunicação é claro que tal preocupação se torna aguda, pois vemos, num relance televisivo, a vida de nossos semelhantes do outro lado do mundo a rir ou a sofrer, em terras nunca por nós dantes navegadas na internet. Há, pois, um ímpeto ardente de união dos povos, como descrevia Pio XI ao início de sua encíclica importantíssima “Mortalium animos” (Ma) de 1928 que, note-se, era a época em que o mesmo Vaticano passava a utilizar a nova invenção do rádio (inventado pelo Pai, mas) descoberto por Marconi, para desde então falar, a viva voz, na pluralidade das línguas, com todo o mundo.

O Papa Pio XI escrevia sobre a “Ânsia Universal de Paz e Fraternidade”: «Talvez jamais em outra época os espíritos dos mortais foram tomados por um tão grande desejo daquela fraterna amizade, pela qual em razão da unidade e identidade de natureza – somos estreitados e unidos entre nós, amizade esta que deve ser robustecida e orientada para o bem comum da sociedade humana, quanto vemos ter acontecido nestes nossos tempos.»

Essa encíclica não se destinava, porém, a invocar novas unidades, mas a acusar as falsas e perversas, porque envolviam o desprezo da Ordem do Pai, presente na unidade da Fé, na Sua Santa Igreja... « na ordenação da Lei Nova trazida por Cristo, Nosso Senhor... Erram, portanto, e estão enganados os que possuem esta opinião (do pan-cristianismo ecumenista): pervertendo o conceito da verdadeira religião, eles repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem concorda com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se inteiramente da religião divinamente revelada.»
Ora, como se entende estudando, não a tal história da Filosofia (que não existe, porque seria como falar da história da verdade), mas a história do filosofar, o pensamento humano em geral tem IN-voluido e muito, porque justamente na onda da tal “evolução” foi alijando suas bases e seus princípios. Por exemplo, o princípio de “Causa” a favor da idéia de “caso”, e tudo por ódio ao Pai criador do mesmo pensar, de Quem pretendem adquirir autonomia devido a um cientismo galopante e a uma tecnologia embriagante!

Foi assim que a burrice filosófica proliferou no mundo novo como erva daninha, mas encoberta por um viçoso progresso material que a todos enganou. E isto invoca o 2° Capítulo da 2ª Epistola de São Paulo aos Tessalonicences (II, 7-12): “... O mistério da iniqüidade já está em ato. Falta apenas que seja eliminado aquele que por enquanto o impede. Só então se manifestará o ímpio e o Senhor Jesus destruí-lo-á com o sopro da sua boca e aniquilá-lo-á com o esplendor da sua vinda. A vinda do ímpio vai acontecer graças ao poder de Satanás, com toda a espécie de falsos sinais e prodígios, e com toda a sedução que a injustiça exerce sobre os que se perdem, por não terem abraçado o amor da verdade, para serem salvos. Por isso Deus permite que neles opere o poder de sedução, para que acreditem na mentira e deste modo sejam condenados todos os que não prestaram fé na verdade, mas aceitaram a impiedade!”

Era a “liquidação” do “Katéchon”, do papa católico, como está na visão simbólica do Terceiro Segredo de Fátima, que seria mais claro em 1960, quando já estava em ato o plano maçônico da nova ordem mundial, introduzido pelo “pontificado” de João XXIII.

Ora, a verdade é uma e se manifesta em muitos campos, desde aquele que faz entender a todos que comemos para viver e não o contrário, até aquela pela qual a ordem mental, a lógica através da qual todos os homens pensam e crêem é a mesma. Não seria assim para com a Religião se esta fosse alheia à lógica, e então as religiões poderiam ser muitas, seguindo diversas culturas, épocas, idéias e “lógicas” de vida. Mas para quem abraça o amor da verdade, para ser salvo, a idéia que haja outra lógica de vida, não pode ser mais que um poder de sedução, para que se acredite na mentira e deste modo ser condenado por não ter prestado fé na verdade, mas aceito a impiedade. Em tudo isto se pode distinguir uma “direção” lógica pois, ou se vive come se pensa e se pensa como se crê, ou se crê como se pensa e se pensa como se vive. Neste segundo caso é o precário, o contingente, o acaso da vida que a determina, sem nenhuma razão ou fim lógico, enquanto o primeiro caso é aquele cristão, católico, no qual é Jesus Cristo a direção do caminho da verdade e da vida na Ordem de Deus Pai, Criador também de toda lógica. Esta não pode, pois, ser alheia à Religião, mas parte de sua única Ordem.

Nisto está a única possível UNITATIS, unidade na Fé que pode guiar o pensamento e com este o bem da vida e salva-la para o Bem eterno. Não depende de números.

De fato Jesus ensinou: “Quando dois ou três se reúnem em Meu Nome, Eu estou entre eles” (Mt 18, 20). Note-se a escolha dos números menores, não próprio a multidões.

Mas voltemos às confusões terrenas, porque a tal direção de crer como se pensa e pensar de acordo com a necessidade dos tempos é justamente a maléfica perversão que as filosofias iluministas e potencialmente ateias, abraçadas pelo modernismo introduziram na religiosidade humana para formar uma nova religião “mais universal”.

A este ponto devemos seguir o pensamento de Bento XVI, considerado grande pensador e filósofo, mas que quando impreca contra o atual relativismo, em uníssono com conhecidos políticos “teocon”, conservadores sem fé que apreciam o cristianismo como complemento da ordem política democrática, só pode suscitar espanto.

De fato, o que pode haver de mais relativista que a operação ecumenista conciliar que busca a concórdia de todas as religiões, come se fossem todas inspiradas por Deus.

Deste modo Deus teria revelado uma verdade relativa a cada uma; muitas diversas verdades que seriam mais ou menos reconciliáveis ou adversas, segundo o que estes falsos pastores procuram demonstrar ou ocultar, de modo a colher só o que pode unir os homens, descartando o que os divide (veja-se Deus Pai, Filho e Espírito Santo)!

Toda essa operação tem por base um documento do Vaticano II: “Unitatis redintegratio” (Ur), que demonstrou, pelos seus efeitos, ser uma real “Unitatis desintegratio”, que só poderia vir do tal Diabolis, o príncipe da desunião e danação deste mundo! De fato, Pio XI ensina (Ma): “É manifestamente claro, que a Santa Sé não pode de modo algum participar dessas assembléias (do pancristianismo ecumenista) que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para tais iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo”.


O que não é lícito a nenhum católico poderia ser lícito aos alto prelados conciliares?

Sobre Bento XVI já se escreveu muito, documentando sua estranha “posição teológica”. Aqui há, porém, que limitar-se à sua posição em relação à união na Ordem cristã e nisto posso repetir o testemunho do Arcebispo Marcel Lefebvre que em Albano, de volta de um encontro no Vaticano, se demonstrou aos amigos presentes muito perturbado e nos disse: esses homens não têm nenhuma noção do que seja a verdade! Vinha justamente do encontro com Ratzinger. Pior do que isto! Aliás, principalmente em relação a este “filósofo”, de obscura escola kantiana ou hegeliana, escreveu mais tarde que havia anticristos no Vaticano. Nada menos! Um testemunho deveras crucial! Hoje temos então um papa-anticristo que os católicos deveriam honrar porque, segundo alguns, eleito num conclave canônico! Obscuro “conclavismo” este, formado na densa fumaça do inferno!

Mas vejamos uns discursos inspirados nessas profundezas:

« A minha visita a Turquia ofereceu-me a ocasião para exprimir, também publicamente, meu respeito pela religião muçulmana, respeito, aliás, que o concílio Vaticano II (Nostra ætate, n°3), nos indicou como um dever… o mundo muçulmano se encontra hoje diante da grande urgência de uma tarefa muito semelhante àquela que se impôs aos cristãos a partir do século das Luzes e à qual o concílio Vaticano II trouxe soluções concretas para a Igreja católica, depois de uma longa e difícil procura. Trata-se da atitude a adotar pela comunidade dos fiéis diante das convicções e exigências que foram afirmadas na filosofia das Luzes. (luciferinas !...) Porque é necessário acolher as conquistas reais da filosofia das Luzes, os direitos do homem e em particular a liberdade da fé e de seu exercício, reconhecendo neles igualmente os elementos essenciais para a autenticidade da religião.»


Com estas palavras Bento XVI demonstra-se convencido que a Ordem cristã era falha naquilo que a « filosofia da Luzes », isto é o iluminismo, introduziu em matéria de direito e liberdade com as grandes revoluções, intentas justamente a destruir o Cristianismo, a “écraser l’infâme” ! como dizia Voltaire, visando não só a Ordem cristã, mas o Papado! Aqui se ouve então um clérigo, em nome do papado, dar razão ao seu inimigo! Não só, mas fazer uma apologia definitiva, porque dada por necessária e obrigatória, do que para Igreja até ontem era considerada a “filosofia” do Anticristo. Por cúmulo do delírio, Bento XVI indica aos Muçulmanos que devem o mais cedo seguir o mesmo caminho revolucionário, isto é aquele que o Vaticano II empreendeu para inverter a consciência dos católicos com respeito ao ensinamento dos Papas sobre os direitos e as liberdades modernas, em especial de Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII e São Pio X.

Haveria que perguntar a certos tradicionalistas que aceitam isto e impõem a autoridade papal de tal falso profeta, se com isto também aceitam inverter o Magistério anterior ou se entendem conviver e gerir ambos como se não fossem opostos, o que só é possível pensando em modo modernista! Isto é pensando como se vive, o que significa adaptar-se aos poderes e às modas dominantes no mundo!

Nesse sentido Bento XVI, para agradar esse mundo, embrenha-se no incrível dilema, para quem se diz católico, de explicar com que critério alude aos direitos do homem e em particular a liberdade da fé e de seu exercício, para reconhecer nestes, elementos essenciais para a autenticidade da religião. Porque dessa autenticidade seria falho o Cristianismo precedente, do qual ele se diz continuador, elaborando para isto uma vã e pedante “hermenêutica da continuidade”. Ou uma ou outra! Mas seria pedir demais para quem professa e pretende até ensinar a pseudofilosofia idealista, geradora de idéias de sentido inverso ao cristão, definir algo. É de fato um paradoxo que um clérigo com uma forma mentis segundo a dialética de Hegel, da - tese, antítese, síntese -, queira batizar essa “filosofia” constitutiva do devir, da evolução do pensar, fazendo da idéia humana a realidade mesma, ou como ensinou São Pio X, da consciência a Revelação, e tudo isto como católico. Seria como dizer que alguém pode pensar como um luterano, ou um liberal, ou até como um comunista ateu, mas conservar a fé católica. O problema é que esta contradição radical faz parte desse mesmo pensamento absurdo em que os extremos se encontram na final equivalência e unidade dos contrários! Trata-se de uma “fé” de sentido inverso à cristã, pela razão que o processo dialético que segue a ordem: tese, antítese e síntese, é uma gestão humana de opostos que pretende criar uma síntese final, enquanto a Religião revelada já é a síntese do Autor divino e por isto não precisa de elucubrações cerebrinas para sintetizar a Verdade sobre a Ordem humana.

Na idéia de Ratzinger, porém, a Igreja, para atingir a verdade sobre os direitos e liberdades humanas, precisa seguir um processo de reconciliação com o mundo moderno dos idos de 1789. A tese conciliar seria a fé católica, a antítese seria o liberalismo, a síntese seria a evangelização da nova pastoral operada pelo espírito de “unificação” do Vaticano, que opta pela homologação de ambos estes opostos. Sim porque à fé católica faltaria a síntese da reconciliação com os valores do mundo, como sejam os direitos humanos, a liberdade religiosa, a igualdade ecumenista, a emancipação feminina, etc. Eis uma explicação de Ratzinger: «Nós sentimos uma responsabilidade neste mundo e desejamos dar-lhe nossa contribuição de católicos. Não entendemos impor o catolicismo ao Ocidente, mas queremos que os valores fundamentais do cristianismo e os valores liberais dominantes no mundo hodierno possam encontrar-se e fecundar-se mutuamente» (Cardeal Ratzinger ao jornal Le Monde, 17/1/1992).

Daí que, para Ratzinger, a “tese” da «Gaudium et Spes» do Vaticano II, que sendo uma espécie de anti “Syllabus” do Papa Pio IX, (sua “antítese”), chega através de iluminados conciliares, come ele se deve considerar, à síntese do que falta à “verdadeira religião universal” que, apóstolos ignorantes e santos fanatizados não teriam conseguido até hoje sintetizar para a fecundação da paz na terra.

Ai se vê que Ratzinger não tem nenhuma intenção de explicar o que entende por « autenticidade da religião » nem de precisar nada sobre a “fé ”, o que conta é a “síntese” da união e da paz idealizadas pelo aggiornamento do Vaticano II.

Agora, visto que até aqui seguimos raciocínios segundo uma só lógica, vejamos como enquadrar o delírio ilógico da estrutura conciliar do Vaticano II, modernista e ecumenista a favor de uma nova ordem mundial para a união de todo gênero humano.

Essa utopia “unionista” como necessidade dos tempos modernos, que condiciona o modo de pensar, que pretende determinar o modo de crer, e portanto a nova “religião mais universal”, tropeça diante daquela frase que se ouve amiúde. De fato, os homens devem viver para unir-se ou unir-se para viver? Qual a prioridade civil e religiosa? Quem deve determiná-lo e com quais termos? Ora, se o objetivo final é a vida na paz, parece justo que os homens devem unir-se para viver, mas também viver para unir-se, que aparece como pensamento dos pacifistas conciliares, de acordo com a nova ordem da ONU e de outros poderes ocultos. Mas pode ser esta utopia o ideal da Igreja de Cristo?

Não certamente pois Nosso Senhor sendo a Verdade encarnada no mundo não trazia a paz, mas a espada e a sua Paz, que não é a paz deste mundo.

Como definir essa Paz senão a tranqüilidade na ordem, na Ordem de Deus Pai?

Ora, a operação ecumenista maçônica e conciliar quer que a Igreja viva para unir a humanidade para a paz da ONU e dos tais poderes ocultos que planejaram a “nova ordem mundial” justamente para substituir, ou pelo menor reduzir a simples “animadora espiritual” do MASDU (movimento de animação da democracia universal), aquela ordem já “obsoleta” e “fracassada” de um intragável Cristianismo! Eis a traição e eis então o tropeço abissal dos conciliares, do poder de sedução, que faz acreditar na mentira e deste modo ser condenado por não ter prestado fé na verdade, mas aceito a impiedade. E com isto arrastam no engano de perdição inteiros povos que os seguem.

A liberalidade culposa de escolher o erro, a dialética do absurdo de justificar a falsidade “religiosa”, nunca foi direito que confirma alguma autoridade; é malícia satânica porque perde as almas e arruína os povos em nome da religião Católica! E querem que tais mestres de perversão sejam recebidos como papas; enviados de Deus para salvar!

Contra essa impiedade São Paulo diz na sua Epístola: «Nós, porém, devemos sempre agradecer a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, porque, desde o início, Deus vos escolheu para serdes salvos pelo Espírito que santifica e pela fé na verdade. Para isso é que Ele vos chamou por meio do nosso Evangelho, a fim de possuirdes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, irmãos, permanecei firmes e conservai as tradições que vos ensinamos de viva voz ou por meio da nossa carta». (Ib. 13-17).

Aqui é preciso deixar um grave apelo a quem reconhece as doutrinas perversas do Vaticano II, que desonra a Igreja e perde as almas, mas aceita a autoridade de quem as promove em modo pertinaz. Se até hoje pode ter havido uma resistência invencível a discutir a legitimidade de tudo que está coberto, bem ou mal, pelo aspecto papal, esta não mais pode ser justificada na fé se, depois de um próximo conclave, se persevera em reconhecer como Vigário de Cristo, quem for eleito, não para confirmar a Sua Palavra e Ordem cristã, mas para substituí-la com uma nova ordem mundial anticristã. Isto deve ser desde já considerado, antes que seja tarde para a salvação própria e do próximo.

« Por fim, irmãos, rezai por nós, a fim de que a palavra do Senhor rapidamente se propague e seja glorificada, como acontece entre vós. Rezai também para que Deus nos livre dos homens ímpios e maus, porque a fé não é de todos. O Senhor, porém, é fiel. Ele vos manterá firmes e vos guardará do Maligno. Temos plena confiança no Senhor de que fazeis e continuareis a fazer o que mandamos. Que o Senhor vos dirija o coração para o amor a Deus e a perseverança de Cristo.» (Ib. 3, 1-5).

Tudo indica que não nos resta hoje outro recurso oferecido por Nosso Senhor, que apelar-nos ao Imaculado Coração de Maria, nosso refúgio, e cujo triunfo foi prometido, porque desde a aurora dos tempos, sabemos que será a santa Mãe, a Mulher da Gênesis e do Apocalipse a abater a cabeça da serpente demoníaca; a vencer toda pérfida heresia desse mundo religioso de unidade desintegrada pelos seus falsos pastores!

Nenhum comentário:

 
Real Time Web Analytics