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II - A ORDEM DO PAI E A NOVA DES-ORDEM MUNDIAL


Por Arai Daniele

Há que lembrar sempre que o mundo não precisa de uma contra-revolução, mas do contrário de uma revolução. E isto se explica bem na questão da Ordem cristã, conspurcada pelas novas "ordens" mundiais e conciliares, porque estes escritos na defesa da Ordem de Deus Pai, não são tanto um ataque às desordens citadas, mas a exaltação da inestimável importância da verdadeira Ordem, que é denigrada.

Em outras palavras, há que ocupar-se do mal efêmero para fazer resplender o Bem eterno. Ou se ainda não é bastante claro, a ofensiva contra a operação conciliar de prelados desviados, desde João XXIII a Bento XVI, não visam tanto esses homens espiritualmente decaídos, mas a desordem que causa tal queda, consistente na revolução "religiosa" contra a única Ordem, que é divina e portanto indispensável e vital. Nisto, ver o assim chamado "sedevacantismo" como atitude negativista, inclusive face ao Papado, é redondamente errado. Testemunhar a contingente vacância da Sede papal, não é contra, mas a favor da Sede da Verdade, que é o termo mais alto da Ordem divina confiada aos homens: da autoridade de Deus Pai para a ordem no mundo. Esta se revela hoje vazia das verdades católicas neste terrível interregno, em que falsos pastores estão empenhados na homologação da "nova ordem" consistente na fusão de planos revolucionários com os Desígnios divinos, da cidade mundana com a Cidade de Deus, na total confusão do Direito natural e divino com um vão iluminismo de direitos humanos, extensíveis também aos animais, a tudo o mais e também ao mal (veja aborto)!

Quando Deus criou o homem e adotou a analogia de Pai para revelar a Sua Ordem à inteligência humana, foi dado às nossas consciências, formadas nessa Ordem, o poder de dominar a terra para cultivar essa ordem, nunca para que alguma mente humana enveredasse pela loucura de inventar uma nova ordem para a sua vida física ou espiritual. Pode alguém deduzir por si mesmo um fim último de sua existência? Isto seria ainda mais absurdo que inventar uma nova ordem matemática, lógica ou religiosa.

Como poderia o homem, feito de corpo e alma espiritual, guiar a sua vida pessoal ou social para um fim superior, desconhecendo o fim último de sua existência? Para isto nos foi dada a Revelação. E no entanto, justamente "papas" e clérigos que se dizem católicos, que exibem ornamentos para demonstrarem uma autoridade que vem de Deus para confirmar a Fé na Sua única Ordem, vão aí proclamando uma "nova religião mais universal" porque passou a ter por objetivo, por fim último, a união de toda a humanidade acima de qualquer credo especial, a saber: o Cristianismo de Deus Uno e Trino.

Note-se a medonha inversão lógica: a humanidade não deveria mais almejar à unidade no culto do Bem e da Verdade, mas o bem e a verdade estariam a serviço dessa união! Para que? Para o culto da mesma felicidade, segurança e conforto na paz do ser humano nesta terra! Grandioso! Pena que tal objetivo seja justamente o avesso da realidade do homem decaído pela própria rebelião e que na primeira ocasião vai abusar de seu próximo. Logo, precisa ser remido e formar a sua consciência na Palavra e no Sangue do Redentor divino para literalmente deixar de ser besta. Para isto Jesus Cristo instituiu a Igreja e pôs no seu vértice um pastor para a missão de confirmar essa Fé e difundir sua missão de tudo instaurar na Ordem divina, que é cristã.

O Papa é uma autoridade delegada para unir nessa missão o mundo humano.

Imaginem agora um clérigo apresentado e vestido como papa, que dispõe de recursos sem fim para essa missão, mas cuja mente é condicionada pela ereção de uma religião melhor, isto é que inclua todas as idéias, espiritistas ou protestantes, sionistas ou muçulmanas, gnósticas ou agnósticas, e tantas outras, para o "sublime" objetivo de unir os homens numa "nova ordem mundial", fim supremo de sua "nova igreja conciliar". Pode um católico ouvi-lo?

Uma resposta apenas positiva só pode vir de fanáticos que ainda não entenderam terem aderido à "religião do homem", desse homem... por obediência! Fidelidade que implica pelo menos cumplicidade com as suas novas deletérias doutrinas.

Passemos então, de novo, ao conteúdo dessas doutrinas ordenadas à nova fé no homem que deve fraternizar com todos neste mundo de muitas confissões e conflitos.

Com o Vaticano II novas idéias foram instauradas a partir de novas "teologias", consideradas mais adultas, porque iam além do velho e "acanhado" cristianismo!

O mestre principal disto foi o jesuíta Rahner, que elaborou a nova ficção religiosa do "cristão anônimo", tipo universal que era cristão sem precisar nem de sabê-lo!

A "coisa" já havia sido condenada pela Igreja, mas agora aparecia proposta por um doutor de aspecto respeitável e ajudado por fátuos "pensadores" religiosos, como De Lubac, Schillebeeckx, Ratzinger, Congar, o triste "humorista" Hans Kung, e outros mascarados no palco que representava a rebelião "católica". Sim, porque só no teatro de nosso "século do nada", como escreveu Gustavo Corção*, se viram tantos teólogos erigir as próprias idéias a "revelação" e elucubrações pessoais a realidade, na modernística "equivalência entre consciência e Revelação".
A comédia desta aberração delituosa, acusada por São Pio X, mas reiterada por João XXIII, foi recitada com aplausos na assembléia do Vaticano II.

* Gustavo Corção declarou depois que o título justo do livro seria "Século da Mentira"!


A antropocêntrica Redenção universal
Que todos os homens persigam a felicidade ninguém pode negar, mas no que essa consista e quais os meios para atingi-la nenhum homem pode sabê-lo por si, sem ouvir Quem sabe e o revelou. A Revelação dada com a autoridade de Deus é, em teologia, o principio objetivo do conhecimento, daquilo que todos precisam saber para seguir os caminhos do Bem e da Verdade na vida pessoal e social.

Com a Redenção, a vontade do homem, ajudada pela Graça, recuperou a capacidade de aderir ao Bem e à Verdade. A Redenção aplica-se a todo homem que, convertido, acolhe com a própria vontade a Vontade divina para ser salvo. Por tê-la anunciada, a Igreja sempre enviou seus missionários, dos quais muitos foram martirizados.

A poluição desta fonte de conhecimento essencial, que é principio da autoridade, é letal para a formação das consciências de todos os homens e por isso, para o governo da sociedade humana. Mas infelizmente o que aconteceu com a Reforma protestante, contra a autoridade católica, foi ampliado com a "nova teologia", já condenada em 1950 pela Humani generis, mas introduzida festivamente com o Vaticano II.

Mencionamos antes os teologoides colegas de Rahner. Agora há que falar de um seu discípulo que, vestido de cardeal, dispôs de maior poder. Trata-se de Karol Wojtyla, promotor da nova "teologia" do Padre Henri de Lubac, que já em 1938 dizia que Cristo, com a sua revelação, revelou o homem ao homem. Esse Jesuíta, atingido pelo veredicto de Pio XII, seria, porém, elevado a cardeal por Wojtyla, feito João Paulo II. Isto suscitou vivazes reações. Na França o jornal Présent, 7/1/1983, releva o contraste entre a complacente apresentação atual de "um dos maiores teólogos franceses", com a sua suspensão do ensino por parte de Pio XII. "Pergunta-se com freqüência porque o padre Wojtyla, que fez em Roma seus estudos teológicos sob Pio XII, não se referiu quase nunca aos ensinamentos doutrinais do grande Papa". A razão é que ele escolhera a teologia de De Lubac contra Pio XII e com isto as noções da "nova teologia" descabelada, que o cardeal Siri (Gethsemani) acusou dizendo: "Que sentido tem tal afirmação? Ou Cristo é unicamente homem ou o homem é divino".

Isto hoje é parte do Vaticano II. Mas quando foi que esta idéia entrou num documento vaticano? Foi com a Gaudium et Spes (GS), da velada lavra de Karol Wojtyla, que hoje não é mais capítulo de livros pouco conhecidos, mas tema da primeira encíclica do dito cujo: Redemptor hominis (Rh), onde domina a frase: "Pela sua encarnação o Filho de Deus uniu-se de certo modo a cada homem".

Hoje a idéia de "redenção universal" aliena sutilmente a responsabilidade final da vontade do homem, que passou a crer na salvação através de uma pessoal "boa vontade", pela qual a objetividade divina é interpretada, não como conhecimento absoluto, mas na luz incerta da razão humana. É a base velada da atual crença ecumenista; um naturalismo religioso que propõe para resolver todo problema e confusão do homem contemporâneo, uma fé pessoal segundo as próprias idéias.

Esta saída ecumenista vai além do que os heresiarcas e desviados do passado ousaram propor. O caminho seguido por Pelágio, Erasmo, Lutero, foi retomado e ampliado por "teólogos" como Rahner, De Lubac e uma miríade de neo-modernistas, para serem aprovadas por clérigos e "papas" que se quer tenham autoridade para mudar os termos da salvação do homem, que implica sua inteligência e vontade.

Ora, "Deus que nos criou sem o nosso concurso, não pode salvar-nos sem este", pela razão que é a alma espiritual que deve salvar-se com a vontade associada à inteligência. E a existência destas capacidades, à diferença da alma que é eterna, depende do cérebro e dos sentidos. Morto o corpo, ficou concluída para sempre a escolha. Não há retorno, nem outra prova, nem fictícias reencarnações. A adesão ao Bem ou ao mal, através da vontade, é definitiva, quanto a mesma morte.

A inteligência e a vontade livres do ser humano podem e devem ser ordenadas à Ordem revelada pelo Pai, são os Mandamentos da Lei, os ditames do Evangelho, o ensinamento da verdadeira Igreja, que não são implícitos nas consciências, mas verdades cristãs que devem ser objetivamente apreendidas.

Portanto o tal cristão anônimo, remido sem seu conhecimento e vontade pessoal porque, segundo a nova religião da GS e da Rh, é nada mais e nada menos que uma mentira forjada pelos artífices conciliares da nova ordem mundial para a animação "cristã" desta na fraternização ecumenista de toda crença, ideologia e besteira!

Se no passado o alvo principal da revolução mundial passou a ser o Cristianismo que ensinava que o mal provém do íntimo do mesmo ser humano, decaído no uso da sua inteligência e vontade para seguir a ordem divina do bem, com a revolução conciliar isto assumiu a direção de uma atualização, às avessas, do Cristianismo, que dispensava a vontade humana. Tanto, a Encarnação do Verbo resolvia o problema na base da tal "dignidade humana", pela qual crer ou não no Bem revelado não importa quanto ter um sentimento, dito sincero, do bem geral.

Não é mais somente o germe da "religião" do homem que por orgulho se faz deus, em luta com a Religião de Deus que se fez Homem para remir-nos de nossa atávica obscuridade, mas a "fé" no poder do homem de remir-se no entorpecente incenso da própria "dignidade".

A real guerra do mundo: entre a cidade do homem rebelde e a Cidade do amor de Deus; entre as duas ordens opostas: a rebelde e a cristã, ficava virtualmente, mais que resolvida, cancelada por obra dos novos "salvadores conciliares" que haviam paciente e hipocritamente nidificado sua revolução para transformar a mesma Igreja a partir de seu interior, de suas veias e entranhas, como havia advertido São Pio X cem anos atrás. Tudo para proclamar o direito humano à liberdade até de escolher qualquer credo e ordem de concepção humana, incluindo a liberdade deles mesmos de mudar a religião que dizem professar. Tudo em nome daquela dignidade humana para cuja garantia Jesus Cristo teria sofrido Sua Paixão e morte, deixando Sua Igreja para explicá-lo, não logo com os Apóstolos, mas dois mil anos após com estes falsos cristos!

Há quem assegure a dignidade papal de tais falsários, enfurecendo-se se ouvem que católicos "ousam" não aceitar tais falsos profetas como enviados de Deus!

Essa clamorosa contradição da hora presente haveria que testemunhar dos tetos, mesmo sabendo que há atiradores selecionados, cabeças de couro voluntários, que há tempo se ativam para abater quem puser em dúvida a validade na fé de tais reformistas, que em verdade seriam detestados até pelo mesmo Lutero. Para este o homem se salva pela fé, mesmo sem obras. Para conciliares como João Paulo II, o homem já está salvo pela boa vontade da redenção universal, mesmo sem a fé! E aqui seria justo lembrar que São Pio X menciona que os modernistas eram detestados pelos mesmos protestantes.

O Vaticano atual às vezes lembra a fórmula dogmática de que não há salvação fora da Igreja (Dominus Iesus), mas com que sentido? Isto porque pouco tempo depois, João Paulo II, que quis esse documento, declara numa audiência: "todos os justos da terra, mesmo quem ignora Cristo e a sua Igreja e que, sob o influxo da graça, procuram Deus com o coração sincero são, chamados a edificar o Reino de Deus" (João Paulo II, 6.12. 2000, referindo-se ao documento Lumen Gentium -16). Isto indica que a salvação seria possível mesmo para quem está fora da Igreja e ignora a fé de Jesus Cristo, que ele deveria transmitir. Trata-se de uma contradição religiosa que na verdade representa a adaptação da verdade católica a um liberalismo religioso, que a todos quer agradar. Descarta-se a questão da "vontade", como se essa não fosse central na Religião do Filho que veio para fazer a Vontade do Pai e nisto dar-nos um exemplo inestimável. Questão central também na definição da Doutrina, que ocasionou tantas heresias como a monofisita e a condenação do Papa Honório.

A Religião alterada
Eis a verdadeira novidade, que se deveria testemunhar a "tempo e contratempo": a idéia herética de uma terceira via à salvação, aberta a todos porque alijou as razões doutrinais referidas à vontade humana, ficando só numa vaga boa vontade.

Isto não pode deixar de perturbar as consciências formadas na Tradição. Além disso, a questão de Fátima acentua esse desvio. Para os católicos, confiantes que uma mensagem celeste não pode ser nada menos que uma grande luz sobre a vida dos homens em geral, como foi a outra parte da Mensagem, a interpretação vaticana suscitou decepção e suspeita. Os fiéis esperavam a revelação de uma verdade assombrosa que sacudisse o torpor das consciências e iluminasse a Fé. Mas assim não foi, pelo contrário, a interpretação de Ratzinger foi orientada a desvalorizar as palavras do Segredo, em especial a de "conversão", que implica a reta vontade.

Para guiar o processo de formação do Reino de Deus, na Sua Ordem, foi constituído o Seu Povo e depois a Sua Igreja de conversão na religião que cultiva a Fé, a Esperança e a Caridade que são as fontes das Virtudes e do Amor, para consolidar uma sociedade harmoniosa e justa, na Ordem revelada do Pai que deve reinar nas consciências. Mas, depois da morte de Pio XII, o tema dominante passou a ser a necessidade de uma "nova consciência da Igreja", compreensível à luz da "nova evangelização" conciliar, em vista da "nova ordem mundial"!

É claro que se a tal "redenção universal" era uma chave indispensável para a operação ecumenista, em que todos os "anônimos" já estariam salvos pela tal boa vontade, havia ainda que considerar a chave principal da liberdade religiosa pela qual cada um escolhe a religião da verdade que mais lhe agrada. A este ponto é importante notar que o Vaticano II com a sua "liberdade religiosa" foi além do "Sillon" de Sangnier, condenado por São Pio X na sua "Notre Charge apostolique".

A revolução demo-cristã entendia reduzir o cristianismo a meio, a instrumento ao serviço de um novo humanismo. Essa redução, ou melhor, inversão da missão da Igreja e da Cristandade, é um grave desvio religioso que se traduz num desastroso erro social. No meu livro "L’Esprit désolant de Vatican II" (Delacroix, Dinard, 1997), trato da questão reproduzindo parte da encíclica Notre Charge Apostolique sobre o ‘Sillon’ e os ‘sillonnistes’, simplesmente trocando estes nomes por ‘Vaticano II’ e ‘conciliares’. Surpreende a justeza da descrição paralela das intenções e sentimentos desses conjurados de duas épocas sucessivas. Mas há uma questão em que os ‘sillonnistes’ foram superados pelos mais ousados ‘conciliares’. Vejamos então o texto em que o Papa São Pio X trata dos desviados que: «se proclament des idéalistes irréductibles, qu'ils prétendent relever des classes laborieuses en relevant d'abord la conscience humaine, qu'ils ont une doctrine sociale et des principes philosophiques et religieux pour reconstruire la société sur un plan nouveau, qu'ils ont une conception spéciale de la dignité humaine, de la liberté, de la justice et de la fraternité, et que, pour justifier leurs rêves sociaux, ils en appellent à l'Evangile, interprété à leur manière, et, ce qui est plus grave encore, à un Christ défiguré et diminué. [...] leur idéal étant apparenté à celui de la révolution, ils ne craignent pas de faire, entre l’évangile et la révolution, des rapprochements blasphématoires [...]». O original é em francês, mas há uma frase que deveria ser entendida em todas as línguas pelo estupor que revela: "Le premier élément, de cette dignité est la liberté, entendu en ce sens que, sauf en matière de religion, chaque homme est autonome". (O primeiro elemento desta dignidade é a liberdade, entendida no sentido que, salvo em matéria de religião, cada homem é autónomo".) Pois bem, o Vaticano II vai ampliar a teoria condenada do Sillon além dessa excepção limite que o mesmo Sillon ainda excluía "em matéria de religião". A declaração Dignitatis humanae (Dh) do Vaticano II, proclamando o ‘direito à liberdade de religião’, isto é, a autonomia de cada um em matéria de religião, consagra esse "direito" que sempre foi negado pelo Magistério da Igreja e pelos Papas até Pio XII, mas foi aprovado pelo abominável Vaticano II. E tal direito estaria acima de todos os outros, porque a mesma Dh do Vaticano II declara que o direito à autonomia de todo homem, também em matéria de religião, está fundada na Revelação! Nada menos! Deus quer a liberdade religiosa! Que é como dizer: Deus quer a rebelião humana; quer que caia em tentação e rapine o fruto proibido! Isto na maior confusão entre a liberdade psicológica dada por Deus à Sua criatura, e a liberalidade culposa de escolher o erro e o mal, que nunca foi direito. Quanta malícia que perde as almas e arruína os povos em nome da religião Católica! E querem que tais mestres de doutrinas pervertidas sejam recebidos como papas!

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