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O PROJETO DE BENTO XVI CONTINUA O VATICANO II


Por Araí Daniele
Tradicionalistas silentes diante de heresiarcas frementes


Considerando o que disseram, escreveram e fizeram os antecessores conciliares de Bento XVI, hoje, em vista do que este diz, escreve e faz, podemos afirmar, sem risco de errar, que ele é o contumaz postulador do mesmo 'Grande Projeto' que convoca todos os homens, não mais somente católicos, a construir a nova paz e não mais com oração e penitência, mas com uma nova revelação rebelde tipo "Populorum Progressio", "Progresso e Paz" e "Caritas in Veritate"; "luzes" que focalizam a "nova ordem mundial", ignorando a conversão à Ordem do Pai.

O que são e de onde vêm essas luzes?
Responde Bento XVI: "Da Nostra ætate do Vaticano II, que nos indicou como um dever… soluções concretas para a Igreja católica, depois de uma longa e difícil procura. Trata-se da atitude a adotar pela comunidade dos fiéis diante dos conceitos e exigências afirmados pela filosofia de Luzes [luciferinas!]. Porque é preciso acolher as conquistas reais da filosofia das Luzes, os direitos do homem e em particular a liberdade da fé e de seu exercício, reconhecendo igualmente neles os elementos essenciais para a autenticidade da religião.»

Assim, estes conciliares querem atribuir à Religião autêntica, porque revelada por Deus, as "luzes" da rebelião iluminista elucubrada por revolucionários para anulá-la, repetindo sem cessar em Roma, Jerusalém, Manhattan, e toda terra, que a paz é possível porque é obra dos homens, de todos, fruto de convergentes esforços sob a direção mundial da idéia maçônica pela qual os homens são bons e capazes de realizar autonomamente a "nova ordem mundial" do bem na terra!
É o "culto do Homem" que substitui o Culto e a Ordem de Deus.
O católico diante dessas "luzes" deve distinguir erros ou heresias?
Pode parecer que neste caso o desvio diria respeito, não diretamente a um dogma de fé, mas a uma conciliação com uma nova ordem terrena e seu novo conceito iluminista de progresso. Na verdade pode-se individuar a heresia sabendo que todos os Papas acusaram esses males e o Papa Pio IX pronunciou-se sobre essa impossível conciliação. "É inútil falar de conciliação, pois que a Igreja não se poderá jamais conciliar com o erro, e o Papa não se pode separar da Igreja". Se tal conciliação se opõe à Fé da Igreja é heresia e então o projeto do Vaticano II, hoje continuado por Bento XVI, é herético e seus promotores heresiarcas. Silenciar isso, pelo mal enorme que faz, implica cumplicidade, ou pelo menos uma grave indiferença, detestável ao Chefe da Igreja; a Jesus Cristo.
Na «Gaudium et Spes» (GS) do Vaticano II foi preparada a confraternização universal homologada à nova ordem mundial, também ao nível de ideologias e de religiões. E a missão da nova igreja passou a ser «benzer» as iniciativas que na «Gaudium et Spes» torna-se um novo preceito «evangélico»:(40c) Diálogo entre a Igreja e o mundo - «Esta compenetração da cidade terrena com a celeste só pela fé se pode perceber; mais, ela permanece o mistério da história humana ... Procurando o seu fim salvífico, a Igreja não se limita a comunicar ao homem a vida divina; espalha sobre todo o mundo os reflexos da sua Luz, sobretudo enquanto cura e eleva a dignidade da pessoa humana, consolida a coesão da sociedade e dá um sentido mais profundo à quotidiana atividade dos homens... ela muito aprecia a contribuição que as outras igrejas cristãs ou comunidades eclesiais têm dado e continuam a dar para a consecução do mesmo fim... firmemente persuadida de que pode receber muita ajuda, de vários modos, do mundo, pelas qualidades e ações dos indivíduos e das sociedades, na preparação do Evangelho.»
Essa tal ‘consecução do mesmo fim’ implica aqui pelo menos uma contradição, pois ou a prioridade deste fim é a Fé, ou a consecução de uma paz terrena. A prioridade cristã está no ensinamento evangélico: ‘Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo’ (Mt 6, 33). E a Igreja sempre ensinou que o primeiro fim que o cristão deve almejar para a sociedade é a elevação dos homens pela Fé, que tem por conseqüência tudo o mais: a fraternidade humana, na harmonia também terrena. Mas aqui almejado não é o fim da Fé, vista a colaboração e intercâmbio com outras igrejas e com o mundo agnóstico. O fim prioritário de todas estas, por assim dizer cidades, só pode ser a felicidade terrena. Então, somente cidades que aceitam ‘idéias religiosas’ afins ao bem terreno podem falar de compenetração; impossível para S. Agostinho. A ‘fé’ mencionada está ao serviço da fusão de duas cidades metafisicamente contrapostas. Para isto a GS conclui com uma norma operativa: "A seguir expõem-se alguns princípios gerais para promover convenientemente o intercâmbio e a ajuda recíproca entre a igreja e o mundo, nos domínios que são de algum modo comuns a ambos.
Bento XVI continua o plano do Vaticano II que dá razão às várias organizações maçônicas, no sentido de ler a prioridade do ensinamento evangélico do modo seguinte: ‘Buscai em primeiro a união, a justiça e a paz do mundo e tudo o mais, a globalização e o livre mercado religioso vos será dado por acréscimo’.
Ora, è claro que esta tentativa de fusão das duas cidades operada pelo Vaticano II com o seu documento sobre o mundo, a Gaudium et spes se propõe, pois, como se viu, resolver o problema da convivência humana neste mundo, não mais perseguindo o bem na unidade de uma mesma fé, como revelado por Deus, mas ‘aggiornando’ a Fé ao fim da unidade humana, segundo o iluminismo, que tornou-se o novo fim cristão! A humanidade unida e pacificada é a utopia a atingir: o ideal segundo as ideologias empata com o paraíso terreno segundo as religiões. Eis a nova conciliação de todos os erros que aparece como possível porque o Papa católico, que a tanto se opunha, foi ‘liquidado’ e substituído na Cidade cristã, ocupada pelo erro perverso da justiça e paz à despeito da Fé.
A irredutível incompatibilidade da Igreja com esse mundo moderno anticristão é questão de fé. E tal conciliação foi condenada no Syllabus de erros. Como pode, portanto, o Vaticano II tê-la como objetivo? Demonstra assim a sua intrínseca perversidade herética, disfarçada num mar de ambigüidades iluministas.
Vamos dar um exemplo do que seja essa nova ordem terrena e o novo conceito iluminista de progresso para entender, se ainda preciso for, o que comporta a sua liberdade na ruína da ordem moral de todo o mundo.
Vamos ao caso do aborto, pelo qual devem ser os homens, o povo soberano através do voto democrático, a determinar o que é bem e mal com respeito à vida humana. Pode a Igreja de Deus conciliar-se com esta inaudita transgressão da Lei divina, aceitando a liberdade de votar, mesmo que seja contra a liberdade do aborto, sem cair numa radical contradição, incorrendo numa fatal oposição aos mandamentos de Deus, que não são matéria de opção democrática?
Tais "luzes" consistem, pois, essencialmente no direito humano à liberdade não só do erro, mas do delito ... para que haja paz na sociedade! Foi a alucinação que "iluminou" a "intelligentzia conciliar", declarando o direito à liberdade do erro até contra a Religião divina, que pretendem absurdamente representar!
Ora, vejamos o que é a heresia, por exemplo, segundo são Tomás de Aquino, (ST, II-II: 11:1): "O termo heresia implica a idéia de escolha, eleição e esta têm por objeto os meios, pressupondo como já estabelecido o seu fim. Por outro lado, como demonstramos (q.4 a.3; a.5 ad 1), no crer, a vontade adere a uma verdade como bem próprio. Daí que a verdade principal aparece como último fim; enquanto as verdades secundárias, aparecem como meios que levam ao fim. E quando aderimos às palavras de alguém, parece que o principal e quase fim do ato de crer é aquele em cuja palavra se crê; as verdades tratadas para crer nele, ao invés, tornam-se secundárias. Assim, quem professa a fé cristã adere com a própria vontade ao que realmente constitui a doutrina de Cristo. Em conseqüência, pode-se desviar da integridade da fé cristã de duas maneiras.
A primeira, recusando-se a aderir a Cristo, demonstrando má vontade com respeito ao mesmo fim. É o que acontece com os pagãos e os judeus.
A segunda, porque embora tenha a intenção de aderir a Cristo, erra na escolha dos meios, porque não elege as verdades realmente ensinadas por Cristo, mas o que lhe sugere o próprio pensamento. Assim a heresia é uma espécie de infidelidade, própria de quem professa a fé de Cristo, mas corrompendo seus dogmas. Segundo estas explicações, a escolha está para a infidelidade, como a vontade está para a fé."
A "matéria-prima" tanto da fé como da heresia é o depósito da Fé, que é a soma completa das verdades reveladas pela Tradição escrita e oral e assim propostas a crer pela Igreja de Cristo. Os fiéis aceitam o inteiro depósito como proposto pela Igreja e sua lei; os hereges, ao contrário, aceitam apenas partes desse depósito e dessa lei, se aprovados pelas próprias idéias ou vantagens. É o procedimento dos hereges: escolher seus termos na Fé ou na moral, que é também matéria para a lei da Igreja, conforme a própria ideia ou conveniência. A heresia pode ocorrer por ignorância das verdades católicas, ou por julgamento erróneo devido a uma imperfeita apreensão ou compreensão dos dogmas; casos em que a vontade não é implicada, de modo que a condição de pecado falta e a heresia é somente material e não formal.
Aqui nos propomos, porém, tocar o dilema que envolve tradicionalistas: errados ou hereges? Ora, se a vontade adere livremente a termos doutrinais ou legais falsos, cuja veracidade a autoridade divina da Igreja já estabeleceu, há que esclarecer se foi por ignorância ou por pertinácia. Nisto o mundo tradicional, especialmente clerical, não vai encontrar facilmente a desculpa da ignorância. Encontra, invés, muitas agravantes, como sejam o orgulho intelectual ou uma exagerada confiança nas próprias visões, ou até mesmo a ilusão de um zelo fiel com a obediência absoluta aos superiores. Também não faltam as tendências políticas e nacionalistas, que dependem de compromissos clericais. Isto sem falar dos laços de interesses materiais e pessoais e sem descer em outros ainda mais baixos e desonrosos, em que a verdade é talhada segundo os próprios vícios e fraquezas. A heresia é então imputável à pessoa e comporta vários graus de culpa, pois dependendo da vontade pessoal, passou da condição de material a escolha consciente, à formalização pertinaz do delito na fé.
A este ponto vamos configurar um caso concreto e comum entre os assim chamados tradicionalistas. E isto é feito porque se este caso se repete com muitos, é contagioso, e ao dano para essas almas se soma o dano enorme para a defesa da Igreja, que ficará assim com carência de defensores e abundância de desertores e traidores, como acontece na desastrosa hora presente.
No caso que a heresia não ocorra por ignorância das verdades católicas, ou por julgamento erróneo devido a uma imperfeita apreensão ou compreensão dos dogmas, então ocorre por escolha da própria vontade, que é assim implicada de modo formal: escolhe-se o caminho conforme a própria visão ou conveniência no campo da Fé ou da moral, o que implica também diante da lei da Igreja.
É claro que aqui o caso concreto e comum de heresia a configurar para os assim chamados tradicionalistas, é o daqueles que se propõem a guiar os outros, em especial se vêm como religiosos, sacerdotes, bispos ou "eleitos papas".
O critério de rejeição é ensinado por São Paulo (Gálatas, 1, 6-10): "Admiro-me por abandonares tão depressa Aquele que vos chamou por meio da graça de Cristo, passando a outro Evangelho. Na realidade não existe outro Evangelho. Há somente pessoas que semeiam confusão entre vós e querem inverter o Evangelho de Cristo. Ainda que sejamos nós mesmos, porém, ou um anjo do céu a vos anunciar um evangelho diferente daquele que vos anunciámos, seja anátema. Já vos dissemos antes e agora repetimos: Maldito seja quem vos anunciar um evangelho diferente daquele que recebestes. Porventura procuro a aprovação dos homens ou a aprovação de Deus? Procuro agradar aos homens? Se procurasse agradar aos homens, não seria servo de Cristo."

São Paulo ensina o Evangelho recebido de Deus, que não é invenção humana; que não recebeu nem aprendeu de um homem, mas da revelação de Jesus Cristo,
Verdade, Caminho e Vida, que recebeu todo poder no Céu e na Terra.
O que significaria inverter o Evangelho de Cristo senão atribuir a organizações terrenas, alheios ou contrários a Jesus Cristo, poderes de iluminar os homens com os "conceitos e exigências afirmados pela filosofia de Luzes... conquistas reais da filosofia das Luzes, os direitos do homem e em particular a liberdade da fé e de seu exercício, reconhecendo igualmente neles os elementos essenciais para a autenticidade da religião"! Esse seria o novo evangelho autêntico de Bento XVI que segue os "caminhos" do Vaticano II nas "verdades" da ONU, para agradar os homens! Trata-se, pois, da "liberdade da fé e de seu exercício" segundo os vários evangelhos humanos reunidos na amaldiçoada operação de unidade ecumenista. Liberdade que eles são os primeiros a abusar para inverter o Evangelho do Senhor, confirmado durante dois mil anos pela Sua Igreja.
Até aqui os assim chamados tradicionalistas podem compreender, bem ou mal, que a igreja conciliar de Bento XVI e antecessores não é católica, mas herege.
O problema de configurar o caso concreto e comum de heresia daqueles que se propõem guiar os outros, em especial de consagrados, supostos tradicionalistas, não está na ignorância dessas verdades católicas, nem num julgamento erróneo devido a uma imperfeita compreensão da inversão conciliar, grave problema que já reconheceram, e pelo qual já lutaram no passado. Se trata da escolha, segundo a própria vontade, do caminho conforme a própria visão ou conveniência no campo da Fé e da moral, o que implica escolha também diante da lei da Igreja que decreta a autoridade nula dos "eleitos papas" para o culto do homem, para a paz como obra de esforços convergentes sob a direção global da idéia maçônica. A Igreja certamente tem leis para impedi-lo, senão não seria perfeita e divina, mas estes vão ignorá-las. Se os hereges pregam que o homem é bom e capaz de realizar o bem da "nova ordem mundial" do bem na terra, dispensando o Evangelho, estes se consideram bons para enfrentar essa medonha heresia recorrendo aos próprios expedientes e dispensando a Lei da Igreja! Como os conciliares, confiam no recurso às próprias visões e ações!
O reconhecimento e submissão a essas falsas autoridades implica cumplicidade efetiva a tal projeto, porque assim ele encontra cada vez menos resistência, pelo menos destes negadores da lei da Igreja para a defesa da Fé íntegra e pura. Para isto tais infelizes chegam a inventar estultices sacrílegas como que seria melhor ter um "papa herege" que nenhum. Que Deus tenha piedade de nós!
Por tudo isto aqui é preciso deixar um grave apêlo a quem conhece as doutrinas perversas do Vaticano II, que desonra a Igreja e perde as almas, mas ao mesmo tempo aceita a autoridade de quem as promove em modo pertinaz.
Se até hoje pode ter havido uma resistência invencível a discutir a legitimidade de tudo que vem coberto, bem ou mal, pelo aspecto papal, esta desculpa não mais pode ser justificada na fé se, depois de um próximo conclave, por quem persevera em reconhecer como Vigário de Cristo, o eleito, não para confirmar a Sua Palavra e Ordem cristã, mas para substituí-la com uma nova ordem mundial iluminista e anticristã. Isto foi o que considerou mons. Marcel Lefebvre quando escreveu aos cardeais do último conclave de seu tempo, para dizer que continuar o Vaticano II significa pôr em perigo a Fé*. Isto foi especificado nos libelos escritos junto com mons. Antônio de Castro Mayer, em que diziam a João Paulo II e aos padres do Sínodo de 1985, por ocasião dos vinte anos do Vaticano II, que "se não se volta ao magistério da Igreja, mas se confirma o que foi proclamado em matéria de liberdade religiosa o erro fonte de heresias, teremos o direito de pensar que os membros do sínodo não professam mais a fé católica e Vós, não sereis mais o Bom Pastor".
Estes parciais testemunhos das décadas passadas devem ser considerados para serem finalmente completados em vista de tudo que ocorreu em modo crescente em seguida contra a Fé para a descristianização dos povos. Isto antes que seja tarde para a salvação própria e do próximo, segundo a própria responsabilidade, por causa da gravidade do falso testemunho de reconhecer um apóstata público como papa. Toda falsa autoridade conciliar foi eleita até hoje para continuar o mesmo "Grande projeto" modernista para a reconciliação com o mundo que leva à perdição das almas e à grande apostasia da Igreja nascida do Sacrifício salvador de Nosso Senhor Jesus Cristo pela inversão do Seu Evangelho, onde diz dessa babilônia: "Sai dela, meu povo, para não serdes participantes de seus delitos, nem incluídos nas suas pragas" (Ap. 18, 4). Na "A Mística Cidade de Deus" (Volume Coronation, pag. 244 ed. americana) é atribuída a Nossa Senhora uma oração: "Peço-te, oh Filho meu, que vejas a aflição da Tua Igreja e como Pai amoroso, apresse o socorro aos Teus filhos, gerados pelo Teu Preciosíssimo Sangue".

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* Lettre de Mgr Lefebvre à plusieurs cardinaux lors du conclave d’octobre 1978: Itineraire nº 233, p. 129.

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O artigo de Sandro Pelegrinetti de Pontes é bom e arguto ao citar o Papa Pio IX que acusa os valores que hoje são de máxima estimação pelos liberais e que o Vaticano II teve intenção de "purificar", como dizia o então card. Ratzinger ("Jesus" entrevista de 1984). Hoje ele amplia a operação como Bento XVI.

Aproveitaria para fazer notar uma questão que merece máximo cuidado.
Trata-se da confusão entre o que se costuma chamar valores e princípios.


A liberdade é um valor, mas privada do princípio da verdade é um anti-valor.


Para os conciliares, porém, valor e anti-valor devem conviver na dialética de tese – antítese – síntese. Quase como se bem e mal, trigo e joio devam conviver para formar um novo produto com novos princípios vitais.
O problema dessa revolução não se define, porém, completamente com os conciliares. Estende-se aos tradicionalistas da contra-revolução religiosa.
Estes interpretam a parábola do joio e do trigo como um imperativo natural: onde há um há o outro e devem conviver; aplicam isto também aos princípios católicos. Deste modo o trigo da Fé íntegra e pura pode conviver com o joio da heresia interpretado à luz da Tradição. Aonde? Dentro da mesma Igreja pode haver um "papa" da Tradição e outro da revolução. Dom Lefebvre exclamava: "É dramático que se afirme que os papas não viram o que há de verdade cristã nos princípios da revolução de 1789"... juntando na mesma condenação os falsos princípios do liberalismo e as liberdades boas que ele propõe; haveis cometido um erro histórico".
Hoje isso foi invertido na dialética conciliar: é "dramático"... que não se afirme... e que não se peça desculpas por essas condenações. Eis o problema, que parece uma discussão interna entre partidos a mesma democracia clerical.
Ora, a Igreja não precisa de uma contra-revolução que discuta com a revolução; de consagrados na Tradição que acusem, mas aceitem os reconciliados com a revolução. A Igreja precisa do contrário de uma revolução, que proclame o que é irreconciliável diante de Deus. E isto se explica bem na questão da Ordem cristã, alterada pelas novas "ordens" mundiais e conciliares. Na defesa da Ordem de Deus Pai, não há lugar para outras ordens de "outros papas", mas só para descrever desordens de falsários. A ofensiva contra a operação conciliar de prelados desviados, desde João XXIII a Bento XVI, não visam tanto homens espiritualmente decaídos, como se fossem maus católicos, maus papas, mas como membros de uma contra-igreja da desordem cuja revolução "religiosa" consistente em negar a unicidade da Ordem, que é divina e portanto profissão de fé indispensável para ocupar cargos de autoridade que presidem no mundo.
Assim, o chamado "sedevacantismo" ao contrário de ser negativista diante do Papado, é justamente o contrário da revolução ou dessa contra-revolucão que discute o Papa como se não representasse a Autoridade de Deus em Terra.
Testemunhar a contingente vacância da Sede papal, não é contra, mas a favor da Sede da Verdade, que é o termo mais alto da Ordem divina confiada aos homens: da autoridade de Deus Pai para a ordem no mundo. Esta não se revela ocupada hoje por um vazio liberal, mas vazia de quem representa as verdades católicas neste mundo. Não se trata, pois, tanto de luta contra-revolucionária face a um "papa da revolução", que não existe, mas da luta para a eleição de um papa católico, de que o mundo precisa para instaurar tudo em Cristo.
O grave risco da falsa luta que vive na dialética de opor valores a anti-valores, como se o bem fosse o oposto maniqueísta do mal, a discutir, é que acaba por opor Cristo ao anticristo, que bem pode estar legitimamente sentado na Sede vaticana, como admitiu num momento de desvario mons. Lefebvre. Mas ele e seus seguidores não podem ignorar que liberais e modernistas estão fora da Igreja de Jesus Cristo. Ou será que crêem que a essência da Igreja está nos palácios vaticanos? Que quem os ocupa representa bem ou mal a Igreja, como Lula a República do Brasil? Se assim não pensam, assim procedem como contra revolucionários que tendo perdido a bússola, agora querem navegar com os anticristos para uma próxima restauração num admirável mundo novo onde as falsidades seguem de mãos dadas com os tais valores livres de princípios!
Sim Sandro, lutemos contra os defensores do Vaticano II, sabendo que são "católicos liberais" tão condenados quanto foram os liberais não católicos. Estejamos atentos a este tipo de "católico", que é um inimigo ainda pior do que os liberais, mais perigoso do que maçons e comunistas. Mas não menos atentos com os tradicionalistas, que parecem bem intencionados contra-revolucionários, mas que no fundo adotam o lema de Voltaire: estamos em dissídio com os papas anticristos, mas dispostos a morrer em defesa da liberdade deles de pontificarem heresias como autoridades da Igreja, contra a repulsa dos sedevacantistas! Vivemos no "século do nada", ou da "mentira", hoje do desvario! Sejamos firmes na Fé em Cristo, que é o contrário das alucinações "católicas"!




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