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APOSTASIA GENERALIZADA DA FÉ CATÓLICA




Pelo Prof. Dr. Tomás Tello Corraliza

(Correspondente do Coetus Fidelium na Espanha)
(Da Obra "Cercania de la catástrofe final, según datos bíblicos", Vulcano Ediciones, 2005)



O acontecimento da Apostasia é o segundo sinal já cumprido. A apostasia ou o abandono generalizado da Fé, foi profetizado com traços vigorosos e inequívocos. "Cuidai que ninguém vos seduza. Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E seduzirão a muitos." (Mat.24,4). Esses falsários – os falsos profetas e falsos cristos – oferecerão sinais, farão prodígios e maravilhas tais, que enganariam, se isto fosse possível, inclusive os eleitos (Mat. 24,23-24; Mc 13, 21-22). É mais, o conspícuo comentarista J. de Maldonado opina que, inclusive, alguns eleitos serão também enganados, se bem, não definitivamente, - senão não seriam eleitos, como é lógico – por advertir o erro a tempo e dar meia volta.

Por isso, não é estranho que Jesus fizesse a si esta angustiosa pergunta: "Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso encontrará a Fé na terra?" (Luc. 18,8). A Fé com artigo, no original grego (que não sei porque acontece de eliminarem nas traduções) com o que parece conotar que a Fé objetiva – mesmo quando a subjetiva permaneça em um grupo mais amplo – ficará reduzida a um grupo muito restringido, que, por uma graça especialíssima, saberá discernir o trigo da verdade da abundantíssima palha do erro, para pode, assim, iluminar os demais fiéis de boa vontade, simplesmente errantes, não heréticos.

São Paulo fala da Apostasia (quando se cita a São Paulo é bastante comum designar-la como a GRANDE APOSTASIA, ou seja, a Apostasia por antonomásia), como de um sinal da próxima vinda de Cristo, assim como, previamente, da aparição do Anticristo, como causador da mesma, com o imenso poder de sedução que lhe será concedido, para levar eficazmente ao erro àqueles que careçam de amor à verdade, que os pudera salvar (II Tes. 2,3).

Quais serão as dimensões desta Apostasia? O P. Sagüés sintetiza a tese apriorística, dizendo que será bastante universal, satis universalis. Será um aleijamento dos princípios da religião cristã, por medo do materialismo, ateísmo, etc.; mas, não de cada um dos homens, pois a Igreja, segundo a promessa de Cristo, permanecerá – senão, mais provavelmente, de uma defecção das nações que, com o consentimento da maior parte ou a mais influente da população, combaterão a Igreja ou intentarão destruí-la. Suarez disse que, talvez, será uma defecção da maior parte da Igreja.

Vejamos, agora, o que diz a exegese empírica, que se realiza ao fio dos acontecimentos, segundo se disse mais acima. Se deve recorrer, denovo, ao Cardeal Billot [na sua obra "Parusia"]. "Por outro lado – disse – observamos uma considerável perda da Fé, em nações outrora cristãs... que se comportam como indiferentes ou, inclusive, como inimigas da Fé cristã. Vemos que a Apostasia desde já (1920) tem caráter oficial... Os poderes declaram não reconhecer a Cristo, nem sua Lei. Existe um fenômeno, que distingue nossa época das passadas, o Ateísmo, que se mostra com toda publicidade e se reafirma com descarada ousadia... Até este grau de embrutecimento jamais se havia chegado antes". Faz menção do aumento de seitas esotéricas e da inundação de livros blasfemos, ímpios, irreligiosos e ateus, ao amparo das liberdades modernas, pelos quais o veneno penetra em todas as camadas sociais impunemente.

Até aqui, o Card. Billot, mais clarevidente que outros muitos autores mais modernos. E digo isto porque alguns autores contemporâneos que fazem menção da Apostasia se fazem curtos [das idéias] e não captam o alcance que tem na atualidade. Por ex., Benjamin Martin se expressa assim ao respeito: "É mister reconhecer que a Apostasia ou defecção da Fé vai aumentando...". A considera como um processo e cita Pio XII: "O inimigo está oculto e trabalha ocultamente.". Isto, quiçá, se poderia dizer em 1952, mas não em 1967, data da obra de B. Martín "ISRAEL E AS PROFECIAS". E muito menos se poderia dizer algo assim, como o diz Eusébio García de Pesquera, em 1990. Apesar da exatitude e aprumo, com que discorrem estes autores, sobre outros aspectos escatológicos, não souberam ver o fato consumado da Apostasia, que havia deixado de ser um acontecimento progressivo ou "in fieri", para se converter em plena realidade.
Repassemos a história da Igreja,com o fim de captar melhor a conexão entre o processo lento, mas irreversível, do Mistério da Iniquidade – que começou a realizar seu trabalho já nos tempos apostólicos – e a plena realidade da Apostasia atual.

A História nos ensina que sempre se deu o fenômeno do rechaço, por parte da imensa maioria da sociedade, das exigências ineludíveis do Evangelho. Essa reação inicial, instintiva, devido a manca do pecado original ("propter vulnera peccati" como disse Santo Tomás) permaneceu inalterada, ao longo dos séculos. Jamais, no melhor dos casos, a porcentagem de católicos ultrapassou os 20% da humanidade. Este rechaço de infidelidade positiva, de primeiro grau, segundo a qualificação de Sto. Tomás, estava também vaticinado. Sempre se contou com ele. A grei de Cristo é a "pequena grei".

Realmente. Os homens odeiam a luz (Jo 1,5). "A luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas." (Jo 3, 18). E o mesmo São João da a razão ou motivo do rechaço: Suas obras são más e sua vontade carece da devida retidão. Todo o que obra mal, odeia a luz e não a recebe, para evitar que suas obras sejam repreendidas. O expressa laconicamente o Salmo 35: "Noluit intelligere ut bene ageret". Isto é, "Não quer dar-se por informado, para não se ver constrangido a agir retamente."

O Mestre predisse aos seus o rechaço violento de sua pregação: "Por mim sereis odiados por todos os homens". Mas, este rechaço será o melhor meio para dar um testemunho famoso [divulgado], segundo faz constar S. Lucas (21,13).

O inimigo não se contentará com impedir a propagação da Fé; mas pretenderá, ademais, erradicá-la, por todos os meios, naqueles que a receberam.

O primeiro procedimento, de que se fez uso – como é sabido - , foi o da tortura e a morte; mas resultou em um intento falido, pois o sangue derramado, na expressão de Tertuliano, era semente que se multiplicava em novos cristãos.

Ao observar que este método não dava o resultado apetecido, se recorreu ao da sedução. Nisto radica o Mistério da Iniqüidade (cf. II Tes 2, 7) que começou a atuar já na era apostólica. Este procedimento prendia melhor nos espíritos e produzia ótimas colheitas de hereges e apóstatas. O Mistério da Iniqüidade cogitou, ademais, um procedimento muito sutil, para conseguir mesmo que a larguíssimo prazo, uma vitória total.

A estratégia planejada para isto foi a da infiltração, a de ir-se sendo enquistando [ser bem quisto] nas estruturas eclesiais (vide Encíclica PASCENDI de S. Pio X), até conseguir dominar postos chave, com o fim de se tornar vigários de seu conteúdo salvífico (único fim da Igreja) permanecendo, em sua aparência, inalterada. Este foi o trabalho de escavador, iniciado pela Gnose e continuada, ao longo dos séculos, por outras seitas esotéricas, até chegar o Modernismo, qualificado por S. Pio X, como síntese [composto] de todas as heresias e que provocou, através de uma hierarquia apóstata infiltrada, a Grande Apostasia.

Apostasias parciais se produziram muitas, no correr dos séculos; algumas de proporções gigantescas, que desgarraram da árvore frondosa da Igreja nações inteiras; como foi a invasão árabe ou a revolução protestante. Mas, então, como a pregação do Evangelho não havia chegado ainda a todas as nações do mundo, o que se perdia por um lado, se ganhava por outro. A perda das outrora florescentes cristandades do Norte da África e do Oriente Médio, ficou compensada com a massiva entrada no seio da Igreja de povos bálticos, escandinavos, eslavos e magiares. O rechaço da Fé por parte de várias nações européias, por conta da revolução protestante, se compensou com a pregação e aceitação da Fé, nas novas terras descobertas, na América e na Oceania. Mas, uma vez concluída a tarefa do anúncio evangélico a todas as nações [o que já ocorreu, Billot em 1920 comenta este fato], já não se pode reparar as perdas das baixas sofridas, sangria incurável.

O processo apostático, através das doutrinas deletérias dos filósofos do Século das Luzes, da Revolução Francesa, da chamada Revolução Industrial e do Comunismo ateu continuou sua marcha triunfal, com movimento uniformemente acelerado.

As nações, em quanto tais, a partir da Revolução Francesa, foram apostatando uma atrás da outra. Atualmente, este processo de repulsa do Reinado Social de Cristo, devido aos princípios falsos do Ecumenismo e da Liberdade religiosa, proclamados no "Concílio Vaticano II" pelos infiltrados na mesma cúpula eclesial, conseguiu queimar etapas, obrigando, ou ao menos, pressionando, as pouquíssimas nações que restavam, cujas leis se inspiravam nas do Evangelho, (por ex. a Espanha),a que renunciaram, oficialmente, a professar como única religião do Estado a religião católica. Os infiltrados, na mesma fortaleza – os falsos cristos e falsos profetas – não encontraram a menor resistência. O inimigo pode cantar vitória. No plano social, a Apostasia se demonstra com evidência sistemática.

No plano individual, a defecção da Fé católica, em uma grande maioria, fica, assim mesmo, matematicamente demonstrada, pela conexão necessária entre a Apostasia total do Estado e os cidadãos que o integram; pois dado o regime democrático dominante, não se poderia aprovar Constituições laicas, sem o sufrágio favorável da suposta maioria qualificada dos falsos católicos.
Mas, os que ainda mantenham sua fé integra, não tem mais que observar ao seu redor, e se verão surpreendidos, ao comprovar que muita gente, nominalmente católica, nega ou duvida de dogmas fundamentais do Credo católico. Às vezes, acreditam estar sozinhos [os verdadeiros fiéis].

Contudo, em casos de grandes crises, Deus sempre reserva um número de indivíduos – maior do que se pode pensar – que lhe permanecerão fiéis. Por isto, quando Elias se queixou de que havia ficado sozinho, em meio da apostasia de Israel, a divina resposta lhe fez saber que Yahvé havia reservado 7.000 varões, que não havia dobrado seus joelhos diante de Baal. Por outro lado, não devemos jogar ao esquecimento o fato de que a Igreja tem a promessa de permanecer até a consumação dos séculos. "As portas do inferno não prevalecerão".

Talvez, esta defecção, na ordem individual, em laicos e clero – alto e baixo – não a vêm ou resistem de ver-la, a imensa maioria dos supostos católicos atuais. Mas não faltam uns milhares de fiéis, esparsos por todo o mundo – alguém qualificou este fenômeno como A Diáspora dos católicos - , desde a Suécia a África do Sul; desde o Canadá a Argentina; desde a Nova Zelândia a Portugal. Estes designam a Roma atual (Babilônia no Apocalipse) como a Grande Prostituta descrita por São João (cf. Apoc. 17, 1ss)


Temos, pois, a Igreja pós-conciliar apóstata, radicalmente distinta e irreconciliável com a Igreja Católica fundada por Cristo. Se trata de duas Igrejas radicalmente diferentes, o confessam tanto os fiéis íntegros (aos quais, com despeito são chamados de "integristas") como os progressistas e acatólicos. Os Monsenhores Estepa e Iniesta falaram de UMA NOVA IGREJA CATÓLICA (cf. IMPARCIAL, 20-VI-1978). Ouçamos outro testemunho.

"Nos não versados em matéria religiosa encontramos uma diferença ABISMAL (sublinho) entra a Igreja pré-conciliar e a pós-conciliar; de tal maneira que teríamos que recorrer a uma minuciosa análise de seus dogmas, para encontrar entre ambas alguma relação". Isto foi afirmado por MALSAÑA, em sua sessão "Cajón de Sastre" no IMPARCIAL, (23-VI-1978). E este mesmo senhor – como um mínimo cético – termina com estas palavras: "Aqueles que não tenham vocação de predestinados e não queiram se converter em seletos para apartar de si aos demais, forçosamente (sublinho) hão de preferir a esta nova Igreja, que começa a se parecer – se bem remotamente – com a que Cristo imaginou". Sem comentários.

Por outro lado, o protestante José Cardona, em uma entrevista, manifestou o seguinte: "Muitas altas hierarquias romanas ainda não assimilaram o Vaticano II.". Inteligente Cardona! Bem sabia ele que o Vaticano II, levado a sua últimas conseqüências, conduz à destruição total da autêntica Igreja Católica, fundada por Cristo.

Não obstante, a imensa maioria dos fiéis – de boa vontade, enquanto não se mostre o contrário – se esforçam em crer, contra toda evidencia, que não se dá uma solução de continuidade entre ambas Igrejas; somente se trata de diferenças acidentais [dizem eles]. Os desvios errôneos, ou francamente heréticas, as atrelam à má interpretação do Concílio ou à desobediência.

Mas,os fiéis íntegros, inabaláveis, desde o primeiro momento e os que se lhes uniram, depois de repensar, repudiaram e repudiam a Grande Prostituta.

Estes foram formando grupos, em diversas nações, mais ou menos numerosos, baixo a direção de algum sacerdote. Posteriormente, o Arcebispo Vietnamita Mons. Pedro Martín Ngo-Dinh-Thuc iniciou Consagrações episcopais – que se intensificaram à partir de sua DECLARAÇÃO da Vacancia da Santa Sé (25 de fevereiro de 1982) – de sacerdotes sedevacantistas, com o fim de perpetuar a Hierarquia católica. Estes, junto com sacerdotes e fiéis coerentes, são os que mantém a tocha da verdadeira Fé, na sombra da diáspora. Todos estes fiéis – clérigos e laicos – são tachados de cismáticos pelos falsos católicos tradicionalistas, que seguem submissos e apegados, com mais ou menos repugnância, à Igreja conciliar.

É mister que se conheça esta realidade, bastante desconhecida em nossa pátria.

Terminemos esta seção. Os sintomas do sinal cumprido da Grande Apostasia, segundo o exposto, estão suficientemente claros para os que queiram ver, deixando de lado os lastros de prejuízo. Muitas vezes não se vê, porque não se quer ver.
* * * * * *


Tradução feita por Antonio Cesar Abdalla Chiaradia, 13 de agosto de 2009.
Nota: Pela publicação deste artigo não se afirma, supõe ou subentende-se que concordamos completamente com todas as idéias de seu autor, Tomás Tello.

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