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A Abominação da Desolação


Quando voltamos os nossos olhares para a situação atual da Igreja podemos ter a grande tentação de trocar gato por lebre, ou seja, pelo fato de a grande maioria dos que se dizem católicos seguirem, inocentemente, as doutrinas da Nova Igreja, mesmo que sem conhecê-las a fundo, podemos pensar que estamos errados ou andando na contra-mão. Porém, para não cairmos em erro semelhante, vejamos quais são as razões que movem a nossa Fé, qual é a criteriologia da verdade pela qual nós católicos nos pautamos.

Hoje vemos uma grande corrente ecumênica que se forma em todo o mundo liderada pelos “papas” da Nova Igreja, e este fenômeno, temos que perceber, nunca fez parte da vida da Igreja. A Igreja nunca foi ecumênica e nem será!

Talvez alguém queira me questionar dizendo que este ecumenismo que é realizado pela Nova Igreja não é herético, pois visa a Paz e a Fraternidade entre as religiões até mesmo incluindo no pacote a possibilidade de conversões... Será isso verdade? O que nos diz o Magistério da Igreja no sentido que sempre foi entendido e que deve ser perpetuamente mantido?

Para obtermos a resposta à nossa indagação devemos voltar alguns anos luz visto que, ou não visto, a Nova Igreja eclipsou-nos o olhar...

Agora pode o bom católico, ao ler estas páginas, questionar-se sobre como milhares de Bispos não enxergaram estas baboseiras do conciliábulo “Vaticano II”, ao qual não podemos reconhecer como tendo a natureza de um Concílio Católico. É simples, naturalmente falando, basta recorrer às profecias da Sagrada Escritura, dos santos e da Virgem Mãe de Deus.

Posso, nesta introdução explicitar, algumas profecias que serão de grande auxílio para todos:

* Mateus 24, 11
“Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos”.

* II Timóteo 4, 1-5
“... os homens se apegarão às fábulas...”.

É interessante notar que todas estas profecias são tão conexas entre si que poderíamos formar com elas um único texto! Na primeira delas vemos o Concílio em pessoa, grande parte daqueles bispos em busca de uma reconciliação com o mundo, abraçando todas as falsas religiões, enfim, asneiras tão ofensivas e distantes da realidade da Fé católica que poderíamos denominar tranqüilamente de fábulas, e das grandes.

* II Timóteo 3, 5
“... ostentarão uma aparência de piedade, mas desdenharão a realidade...”.

Mas talvez por certas figuras tão piedosas e sentimentais muitos fiéis se iludiram e esqueceram de olhar o que estas figuras intencionavam. Ah, dizem eles, mas rezam tão bonito, têm tantos jovens lá...

* Zacarias 13, 7
“Espada levante-te contra o meu pastor... fere o pastor para que as ovelhas se dispersem; voltarei a minha mão até mesmo contra os pequeninos”.

Após a morte de Pio XII só vimos consternação, sentimentalismo, teatro, novo humanismo, ecumenismo, enfim, um desfile fenomênico de opiniões. Só se fala de paz, caridade, fraternidade, igualdade, liberdade... Não, não podemos coagir os erros, vamos abraçar todos os nossos irmãozinhos, não importa no que eles crêem, o importante é buscar a unidade! Asneiras, baboseiras, idiotices e para não dizer, puras heresias. Vivemos o cúmulo do absurdo. Onde estão as sentinelas da Fé que não vêem essas coisas? Onde esta a espada para punir os erros? Desde quando pode a Igreja de Cristo reconciliar-se com o mundo e clamar pelos elogios do mesmo como fez Montini no seu discurso maçônico do encerramento do Concílio?

* Isaías 24, 5
“... porque transgrediram as leis, violaram as regras e romperam a Aliança Eterna”.

Missas-afro; igrejas sem genuflexórios, sem o crucificado, sem imagens, em forma de caixotes, sacrários colocados de lado; padres sem batina, sem casula, sem alva, sem cíngulo, sem amicto, sem Fé! Falta o silêncio, falta a forma, falta a intenção, falta o ministro, falta a matéria, falta a Fé! Muitos não sabem mais o que é um turíbulo, uma Missa cantada, o mistério da liturgia, o latim...

* Ezequiel 28, 2
“Assentado sobre um trono divino no coração do mar”

* Jeremias 25, 29
“É pela cidade em que meu nome foi invocado que começo a punir”.

* II Tessalonicenses 2, 3-12
“Primeiro deve vir a Apostasia... o homem do pecado... a ponto de assentar-se ele no Templo de Deus...”.

Estas três profecias têm uma estreita ligação, pois falam de uma mesma coisa, a Abominação da Desolação predita pelo profeta Daniel e prefigurada no tempo dos Macabeus. Desde 1958 lá, no trono divino, na cidade em que foi invocado o nome de Cristo, no Templo de Deus, assentou-se o homem do pecado. Foi rompida a Aliança Eterna que, evidentemente, é a do Novo Testamento. Suprimiram o Sacrifício Perpétuo (Dn 12, 11), por isso Nosso Senhor disse, “no lugar onde não deveria estar” (Mc 13, 14-16).

Alguns poderão objetar que estas profecias se referem somente à perseguição de Antíoco e à destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 d.C, porém pela exegese católica nós sabemos que estas profecias são para três épocas diferentes:

• A perseguição de Antíoco (Dn 8, 11-14)
• A tomada de Jerusalém (Dn 11,31 e Lc 21, 20-21).
• A dos tempos do Anticristo com a abolição da Missa (Dn 12, 11 e Mc 13, 14-16).

Nossa Senhora já havia dito que Roma perderia a Fé e se tornaria a Sede do Anticristo e à irmã Lúcia posteriormente já advertira que em Fátima se preservaria o dogma da Fé... E em Roma?

Esta Roma atual não é guiada pela suave doutrina de Cristo, pelos dogmas, mas, sim, pelos ideais maçônicos da Revolução Francesa, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Vaticano II foi um novo 89, só que agora na Igreja. Wojtyla disse em seu livreto “MEMORIA E IDENTIDADE” que “ a Revolução Francesa teve frutos positivos como as idéias de liberdade, igualdade e fraternidade, que traduzem valores já radicados no Evangelho ... O iluminismo francês preparou assim o terreno para uma melhor compreensão dos direitos do homem... Foi desde então que começou decididamente a ocorrer o efetivo reconhecimento dos direitos do homem, superando as tradições feudais. Nos documentos do Concílio Vaticano II pode-se encontrar uma sugestiva síntese da relação entre o cristianismo e o iluminismo ; é verdade que os textos não falam disso diretamente, mas se examinados mais profundamente à luz do atual contexto cultural, oferecem muitas indicações preciosas a tal respeito.”

As letras deste senhor falam por si mesmas, não há o que declarar diante de tal infâmia contra os santos mártires que derramaram o sangue na hedionda Revolução Francesa.

Vê-se então que o Vaticano II em muitos pontos é uma espécie de Concílio subliminar, que visa fomentar certas revoluções através de sua linguagem dúbia e não dogmática. É um concílio que agrada a gregos e troianos, ou seja, serve aos ditos conservadores no que é referente a pontos anteriores da Doutrina repetidos por ele e serve aos ditos progressistas no âmbito de sua pastoralidade que é totalmente nova, alheia aos princípios católicos. Isto é próprio dos modernistas; assim já nos advertira São Pio X em Pascendi Dominici Gregis.

Desmascaremos, portanto, o Concílio através de suas contradições que são próprias do espírito liberal e modernista. Muitos tradicionalistas que querem encontrar algo de católico neste concílio para defendê-lo, objetam, quando argumentamos contra o mesmo, que existem ali passagens que confirmam a doutrina perene da Igreja. Porque, geralmente agem da seguinte forma, depois de serem afirmadas as mais diversas idiotices e heresias, sempre em seguida, para anestesiar as consciências mais escrupulosas, vem uma afirmação contrariando aquilo que havia sido dito anteriormente.

Vaticano II é pastoral, dizem, mas onde se encontra essa tal pastoralidade do Vaticano II, porventura estaria ela em todas as palavras do Concílio? Ora o Concílio veio trazer “aggiornamento”, mudanças, inovações, portanto este caráter pastoral do Concílio não se encontra nas informações já tradicionais da Igreja remendadas por ele para acalmar os ânimos dos conservadores e sim nas novas afirmações que são intrinsecamente revolucionárias. Em Vaticano II encontramos um pouco de ordem que não está ali senão para semear a desordem, como dizia o sábio Corção. O Concílio verdadeiro se resume em três palavras muito significativas, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Provaremos isso aqui de forma irrefutável, pois estamos com a verdade de 260 Papas e de 20 Concílios, cimentada no sangue dos mártires.

O Concílio ontologicamente é perverso, suas raízes se encontram nas sinistras oficinas dos inimigos da Igreja. Outrora se espalharam livros contra a Fé, disseminaram-se falsos ensinamentos e conseqüentemente um exército de cristãos anêmicos ou pior não um exército, porque estamos numa anarquia, mas uma porção considerável de indivíduos agindo por si mesmos ou sendo orquestrados pelas oficinas das quais já falamos.

A natureza deste conciliábulo não se encontrava no Vaticano, chamado de primeiro (Vaticano I) por causa do falso segundo, não, não se encontrava no puro Vaticano, mas num paralelo e este sim podemos chamar de primeiro porque representa a primeira parte de um plano maquiavélico que será concretizado no segundo e ao que a ele se sucederá. Este primeiro Vaticano que não está fundado no sangue dos mártires e, sobretudo, de São Pedro, pode-se dizer que já se encontrava nas veias da Igreja . O que faz um parasita? Eles têm os templos!

É um verdadeiro labirinto onde se encontram hoje os poucos católicos que restam sobre o mundo, não que estes se guiem por este labirinto, mas muitas vezes se vêem desolados e desamparados, por faltar-lhes o pastor que foi ferido ... Parece-lhes que o silêncio do Céu cumpriu-se numa meia hora que é do eterno e não do nosso conjunto temporal arbitrário em que meia hora poderia significar vários anos ou vários anos meia hora.

É a Santa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo que perdura no seu Corpo Místico que é santa em si mesma e não nos que a provocam. Porém nenhum osso lhe será quebrado e nenhum fio de cabelo cairá da sua cabeça, pois esta hoje é inatingível e permanecerá sem mancha e sem ruga até o último dia, quando se encontrará com o admirável Esposo. Quanto à Outra, para ela está reservado o fogo do Inferno! Aquela que inebriou as nações com sua prostituição. Seus dias estão contados, assim como estão os do Reinado da Besta e de seus sequazes.

Tempos são os de condenar todas essas abominações como fizeram os santos padres que não admitiram que nenhum “j” fosse alterado em matéria de Fé. A imutabilidade faz parte da natureza da Fé da Igreja, pois a mesma é divina; Nosso Senhor é imutável, é o mesmo ontem, hoje e sempre.

Tenhamos esperança, pois a paixão e a morte vieram, mas a ressurreição dar-se-á em breve!


A Abominação da Desolação

“Quando pois virdes a abominação da desolação, que foi predita pelo profeta Daniel, posta no lugar santo...” São Mateus, 24, 15.

Desejo iniciar o tema lembrando que não devemos – quem somos nós para isso – pôr limites às permissões e desígnios da Divina Providência. Dizer: “Isso não é possível”; “Deus não pode permitir isso ou aquilo”. Não deixará de ser temerário e exposto ao engano; especialmente quando dispomos de profecias e advertências acerca do alcance de amplíssima vitória – efêmera naturalmente – do inimigo, “A quem será dado o poder para fazer a guerra aos santos (=católicos, não aos da Igreja Triunfante) e vencê-los; produzirá grandes ruínas e destruirá o povo dos santos, que serão entregues a seu poder e será bem sucedido em tudo o que tentar” (Ver: Dan. 7, 25; 8, 12 e 24; 9, 12; 11, 31 e seguintes; 12, 7; Apoc. 13, 7).

O mau é que isto será conhecido por muito poucos – aqueles a quem Deus iluminar especialmente – pelo que os demais fecharão escandalizados os olhos à realidade, como fez a imensa maioria dos judeus à realidade do autêntico Messias.

Os judeus, por confundirem e fundirem num só plano as distintas vindas de Cristo: a dolorosa e a triunfante, ficaram apenas com a idéia desta última; mas como os desígnios de Deus se referiam a chegar “Ad lucem per crucem”, essa inconsciência em sua concepção das profecias lhes foi fatal.

“Deus não pode permitir tal!” – Não profiramos jamais estas palavras; pois esta convicção mal fundamentada poderia ser-nos igualmente fatal.

Pintemos o quadro geral, global, da esmagadora vitória profetizada do Anticristo; isto nos deveria bastar para nos fazer interpretar a situação atual e nos precaver, adorando os desígnios e altíssimos juízos de Deus.

Mas há mais – e isto é o que me proponho estudar em sucessivos artigos – existem predições apavorantes acerca do sucesso do Anticristo num terreno muito concreto: o da Liturgia.

Tomo aqui como base o texto de São Mateus estampado no cabeçalho. O lugar paralelo de São Marcos diz: “Quando, pois, virdes a abominação da desolação posta onde não devia estar, (o que lê faça reflexão sobre isto...)” (13,14). Esta pequena variante e a omissão são dados preciosos, que podem contribuir para uma interpretação mais exata.

Mas antes de expor a profecia, convém conhecer de antemão os planos do inimigo neste terreno, para provocar a ruína da Igreja como Instituição de salvação; assim como sua tática, para o fazer de uma maneira solapada, evitando estridências muito brutais com o objetivo de eliminar toda reação eficaz ou enervá-la no caso em que se produza, isolá-la, ridicularizá-la.

Desde sempre, os hereges consideram que a fresta mais apropriada para introduzir-se sub-repticiamente e conquistar a cidadela, sem grandes sobressaltos é através da Liturgia .

Isto é perfeitamente compreensível. A liturgia é a expressão vívida da Fé; “Lex orandi, lex credenti”. Se se consegue modificar a Lex Orandi se seguirá e sem estridência, sem o fragor de tormentas dialéticas, como conseqüência lógica, a alteração, a corrupção da Fé.

Ouçamos sobre esta questão Dom Prosper Guèranger, que há bem mais de um Século (o que afasta qualquer espécie de suspeita) assinalou os passos que costumavam seguir os hereges na manipulação da Lex Orandi. (1) Resumo e exponho a meu modo, os princípios e passos assinalados por Dom Guèranger, próprios da heresia antilitúrgica.

O princípio que os guia é um ódio profundo à Igreja e à Tradição. Assim se compreende sua repugnância visceral às preces, hinos, cânticos, etc., em que a Igreja expressa sua fé. Portanto:

1 – O primeiro passo na manipulação da Lex Orandi é substituir as fórmulas litúrgicas tradicionais, santificadas pelo uso multissecular da Igreja, por passagens ou perícopes da Bíblia.

É este o primeiro sapo que engolem sem sobressaltos, os cândidos fiéis. Que pode existir de mais santo que a palavra divina da Sagrada Escritura? Nisso não se vê nada de mau; todos o consideram ao contrário, uma mudança para melhor. Conseqüências? Já as veremos (3).

Conseqüências.

a) Eliminação da voz da Tradição, que tão profundamente odeiam os hereges.

b) As leituras bíblicas, que procuram multiplicar, lhes servem de suporte para a propagação de suas doutrinas, errôneas ou heréticas; e isto se consegue por um duplo procedimento: 1 – Um, positivo; 2 – Negativo o outro; 1 – Se realiza mediante uma estudada seleção de passagens ou perícopes que lhes favoreçam; 2 – Omitindo os textos que se lhes opõem frontalmente. A isto se unem os comentários e prédicas desses textos “selecionados”.

2 – Um segundo passo, quase simultâneo com o primeiro, com o objetivo de eliminar as formulações tradicionais da Igreja, se faz substituindo-as por formulações antiquíssimas. Se proclama o princípio do retorno ou volta às origens, à “simplicidade” das formulações do Cristianismo primitivo. Esta foi exatamente a primeira das heresias antilitúrgicas, proclamada já no Século IV por Vigilâncio, sob pretexto de fugir de todo “triunfalismo”.

É que – comento eu – as formulações primitivas, em período de germinação, exigem uma evolução das virtualidades encerradas em sua simplicidade. Tal evolução pode ser heterogênea ou homogênea, que é a que desenvolve a Tradição. Por isso o empenho dos hereges no sentido de que se retroceda até esse estágio (que poderíamos comparar metaforicamente, a fazer com que o trem retroceda até a posição da virada da chave das agulhas; o que sem esse recurso, seria impossível). Assim, desde o primeiro momento de sua implantação, aproveitam a ocasião para introduzir pequenas variantes – é raro que estampem as fórmulas primitivas em sua estrita literalidade – que favoreça o sentido de suas idéias heterodoxas.

Tem-se de ter presente que as formulações posteriores às primitivas mais simples e espontâneas – sobretudo, um vez que foram prescritas e fixadas, de maneira explícita pela Autoridade da Igreja, são mais perfeitas que aquelas e totalmente inequívocas. Por isso e não por qualquer outro motivo, concitam o aborrecimento visceral dos hereges. O Cânone da Missa Romana foi declarado pelo Concílio Tridentino, barreira infranqueável contra todos os erros dos reformistas.

3 – Introdução – neste passo – de formulações de novo cunho, de colheira própria, prescindindo do pretexto hipócrita de “retorno às fontes”, cheios de perfídia, em que o povo fica atrapalhado ainda mais firmemente no erro da (4) ímpia reforma, que assim consegue consolidar-se.

4 – Simultaneamente – ao longo do processo – se vão suprimindo todas as cerimônias e formulações que expressem mistério. Se propõem com isso, eliminar o sobrenatural e o caráter sagrado da Liturgia. Tudo deve ser racional, ao alcance da compreensão natural humana. Com isso se consegue a extinção do espírito de oração individual. Se introduz o tuteamento; se exclui toda “idolatria papista”: imagens, relíquias... Fora com os intermediário!

5 – Uma conseqüência flui do passo anterior. Como tudo deve ser compreensível, se proclama e se exige a liturgia em língua vulgar. (“Este é um dos mais importantes aspectos da postura herética destas pessoas” – disse textualmente Dom Guèranger).

É um ponto chave o declarar guerra ao Latim; pois – como alguém já disse – sabem que se são bem sucedidos nesta exigência, seus objetivos serão todos cumpridos.

Ao eliminar o aspecto sacro – comento eu – e misterioso, que mantém a razão dentro de seus próprios limites, os reformadores não se esquecem de imprimir às ações litúrgicas, amenidade e diversão. É necessário torná-las aprazíveis: nada de jejuns, nem de abstinências, nem de genuflexões, nem posição de joelhos. Aqui se origina a teatralidade, o ruído, bem como a “camaradagem” das funções litúrgicas atuais.

6 – Por último: as heresias antilitúrgicas se querem aspirar a perpetuar-se, devem procurar igualmente, destruir o sacerdócio. Se almeja a morte da hierarquia. Até aqui, Dom P. Guèranger.

Como – mais recentemente – plasmaram seus objetivos neste terreno e o programaram as Sociedades Secretas e o Modernismo? Vejamos:

Obras fundamentais – entre outras – para conhecer seus desígnios, métodos e táticas são: “L'Infaillibilité Pontificale”, de Marquês de la Franquerie; e “O Movimento Litúrgico” do Abade Didier Bonneterre.

O Abade Rocca anunciou a anarquia litúrgica, em nome do retorno ao catolicismo primitivo: “Creio que o culto divino, tal como está regulamentado na Liturgia, no cerimonial, o Ritual e os preceitos da Igreja Romana, sofrerá proximamente, num Concílio Ecumênico, uma transformação de tudo que devolva-lhe a venerável simplicidade da Idade de Ouro Apostólica, a revelará mais em consonância com a consciência e a civilização moderna” (2).

“O que construirá a Cristandade (...) é um culto universal, em que todos os cultos estarão englobados...” (4). Basta com estas amostras – o marquês de la Franquerie continua acumulando textos (5) desse personagem, que deixam a pele arrepiada.

A operação tendende a conseguir esses objetivos perversos, se iniciou e foi levada a cabo com astúcia satânica, própria dos filhos deste mundo – muito mais sagazes nos assuntos próprios que os filhos da luz (Lc. 16, 8). Sua tática poderia ser comparada à do judô, que (segundo ouvi dizer) consiste em valer-se do próprio impulso, potência e energias do adversário cujos movimentos são aproveitados e potencializados para obter-se a vitória.

Dentro das devidas proporções se pode dizer a respeito o seguinte: Em meados do Século XIX surgiu o que se convencionou chamar “O Movimento Litúrgico”, definido como “a renovação do fervor do clero e dos fiéis pela liturgia”. Foi iniciado principalmente por Dom Guèranger. Este foi precisamente o Cavalo de Tróia em que se introduziu o inimigo, que assim conseguiu apossar-se da cidadela.

São Pio X deu um novo impulso a essa sã corrente. Este Papa reformou o Breviário, o canto litúrgico e mesmo, constituiu uma Comissão para a reforma do Missal em 1912; mas diante das tendências destruidoras manifestadas já então por alguns especialistas, resolveu dissolver a comissão.

São Pio X fomentou a participação ativa. Mas eles a fomentaram muito mais: tudo deve ser participação, sem deixar nada à piedade individual.

Dom L. Beaudouin (1873-1960) captou todo o partido que se poderia tirar dos ensinamentos de S. Pio X. Descobriu na Liturgia, seguindo o método do Santo Papa, um maravilhoso meio para formar os fiéis na vida cristã.

Beaudouin em Mont – Cesar (1909) inaugurou um movimento litúrgico para o qual foram fixados quatro objetivos:

1 – Tradução do Missal Romano e fazer deste livro o primeiro livro de devoção dos fiéis.

2 – Envidar todos os esforços para tornar a piedade mais litúrgica

3 – Desenvolver o Canto Gregoriano, conforme os desejos do Papa.

4 – Animar os membros dos corais a fazer retiros em seus centros de vida litúrgica.

Primeiro desvio. Torcer o ponto de vista primordial de Dom Guèranger e de São Pio X, da oração contemplativa, de um lirismo desinteressado, que canta seu amor, sem outra preocupação que o louvor de Deus. Dom Beaudouin preferiu pôr o acento sobre o aspecto didático da liturgia. É verdade que São Pio X sublinhou o valor didático da liturgia; mas Dom Beaudouin pôs especial ênfase (6) nas fases disso. Essa foi a idéia que primordialmente, se expandiu pelas diversas nações do mundo católico. Com esta idéia se fez do Movimento Litúrgico o Movimento Ecumênico.

Na Alemanha surgiu no Movimento Litúrgico de Maria Laach um novo ângulo herético; se pretendia livrar e purificar a liturgia de todas as “escórias” com que foi obscurecida na Idade Média. Por aqui se passou a um arqueologismo desenfreado (condenado como se sabe, por Pio XII) assim como à tendência de se fomentar a piedade coletiva, deixando de lado a piedade individual.

Dom Parsch (Áustria) lançou o Movimento Bíblico , que logo influenciava profundamente o Movimento Litúrgico. Assim, a Missa dos fiéis passou a ceder seu lugar à Missa dos Catecúmenos. Deus estaria muito mais presente por sua palavra que por sua Eucaristia. Com o objetivo de que “todo o mundo entenda o que se diz”, se propugna o uso das línguas vernáculas na liturgia.

Deste modo, a mescla de todos esses erros se foi introduzindo na ansiada renovação litúrgica. Sua ânsia de mudança se transformou em voracidade insaciável. Seguiam com o máximo interesse qualquer mudança de Roma, a agradeciam e procuravam tirar o máximo partido e usá-la como trampolim para exigir mais mudanças.

A estratégia dos “neoliturgistas” se centrou em ganhar para sua causa os bispos, de modo a poder agir dentro da legalidade. Suas exigências à Santa Sé devem ser apresentadas sempre através dos bispos, sob a alegação de “vantagens pastorais”.

Em 1945 Dom Beaudouin escreveu o Editorial para “La Maison de Dieu”, órgão oficial da C. P. L., com o título: “Normas práticas para as reformas litúrgicas”. Segundo ele, a Liturgia tradicional é uma liturgia “mumificada”. “É preciso livrar-se da disciplina demasiadamente rígida das regras litúrgicas atuais e devolver aos símbolos sacramentais e às instituições cristãs toda a sua virtude e eficácia”.

Três princípios a se levar em conta:

1 – A liturgia pertence à Igreja.

2 – A Santa Sé desde o Concílio de Trento se reserva o poder de legislar no campo litúrgico.

3 – Portanto, o movimento não poderá atacar de frente, mas mediante um método subversivo bem preparado.

Deve-se proceder pacientemente: usar o que é legítimo hoje para preparar o porvir, dando a conhecer e a amar todas as riquezas contidas na Liturgia antiga (...). A Igreja não teme modificar (7) sua disciplina para o bem de seus filhos...”

Pio XII – mal informado e traído – tentou frear os avanços e exigências da heresia antilitúrgica com a “Mediator Dei”, mas o autor do “Movimento Litúrgico”, Bonneterre, lamentou que as diretrizes deste documento não fossem acompanhadas de realizações concretas e de sanções precisas contra os revolucionários.

Os “Neoliturgistas” segundo sua tática já exposta, a receberam com certo gozo. O comentário de Dom Beaudouin foi: “A Encíclica ‘Mediator Dei' pôs em movimento, no mundo inteiro, um ressurgimento litúrgico inaudito”.

Efetivamente, aproveitaram-na para seus fins. Da Encíclica não se reteve mais que os estímulos ao zelo para a renovação litúrgica e se calaram deliberadamente as inumeráveis advertências do documento. Foi utilizada para a subversão. Conseguiram que no ano seguinte ao de sua publicação, fosse estabelecida uma “Comissão Pontifícia para a reforma da Liturgia”.

Assim foram progredindo no cumprimento exato de seu programa. Por isso, Bonneterre pôde dizer: “Não, nada, absolutamente nada nas reformas conciliares e pós-conciliares são frutos de coincidências; cada modificação de rubrica corresponde a um erro teológico grave elaborado nesses escritórios...”

Se multiplicaram as reuniões e congressos internacionais e se queimaram etapas ganhando a simpatia ativa do Episcopado. Foram numerosas as “Reuniões Internacionais de Estudos Litúrgicos”: 1951, em Maria Laach; 1952 em Mont-Sainte-Odile (Alsacia); 1953, em Lugano; 1954 em Louvain; 1956 em Assis; 1958 em Montserrat; 1960 em Munique.

Pio XII dirigiu uma alocução aos participantes em Assis, animando-os. “Refletiu perfeitamente – segundo Bonneterre – a ambiguidade profunda da situação da Igreja, ao fim do pontificado do Papa Angélico”. E continuou: “Ele não conhecia a situação real do ‘Movimento Litúrgico'. Os dirigentes mais perigosos eram sustentados e protegidos pelos mais altos dignitários da Igreja. Como poderia o Papa suspeitar que os ‘especialistas' tão elogiados por Bea e Lercaro eram na verdade os mais perigosos inimigos da Igreja? Devido a isto, Pio XII dirigiu estímulos mais que inoportunos aos congressistas de Assis”.

No parágrafo seguinte são citadas as palavras de alento do Pontífice: “O Movimento Litúrgico – lhes disse – como um símbolo das disposições providenciais de Deus sobre o tempo presente, como um trânsito do Espírito Santo sobre a Igreja, para aproximar mais os homens (8) aos mistérios da fé e das riquezas da graça que brotam da participação ativa dos fiéis na vida litúrgica”. E o autor apostilou: “Já não era o sopro do Espírito Santo que animava as mudanças, mas sim, o hálito fétido de Satanás”.

Eis a “operationem erroris” (2 Ths. 2, 10), o poder do erro, de que nos falou São Paulo, capaz de deslumbrar até mesmo um grande Papa!

Quanto às reformas de Pio XII “não se pode negar que causaram já um doloroso transtorno entre os fiéis, sinal precursor da angústia de nosso tempo”. Sim, disto podemos dar fé todos os fiéis acima de certa idade.

“Embora o Papa estivesse sendo guiado por sua boa fé em favor do maior bem das almas (novo saltério, reforma do jejum eucarístico, permissão para missas vespertinas, reforma da Semana Santa) para os ‘Neoliturgistas' essas reformas nada mais eram que sucessivas etapas para a destruição da disciplina sacramental da Igreja”.

O Movimento Litúrgico ia marcando pontos. Conforme citação do Pe. Chenu: “O Padre Duployé seguia tudo isto com uma lucidez apaixonada. Recordo que foi muito tempo depois que me disse: ‘Se conseguirmos restaurar em seu valor primordial a vigília pascal, o M. L. será vitorioso; espero ver isto efetuado em dez anos'. Dez anos depois estava feito”.

Qualquer modificação, por pequena que fosse, era recebida festivamente pelos Neoliturgistas. Qualquer erosão, por imperceptível que fosse, era considerada um passo a mais no processo de destruição. Conta-se que quando João XXIII introduziu no cânone o nome de São José, o jesuita Daniélou comentou: “É pouca coisa; mas serve para provar que o Cânone Romano não é intangível”. Que inteligentes, providentes e sagazes – como nos advertiu o Divino Mestre – são os filhos deste mundo em seus negócios! Confesso-me maravilhado com sua astúcia e que aprendo muito com eles nesse sentido.

Assim, “À chegada do Concílio haviam conseguido da Santa Sé aterradoras reformas...” Por isso Dwyer pôde advertir: “A reforma litúrgica é num sentido muito profundo a chave do ‘Aggiornamento'. Não se equivoquem nisto; eis onde começa a revolução”.

Sei que o ato de falar tão claramente escandaliza; mas como disse São Gregório: “Melius est ut scandalum oriatur, quam ut veritas relinquatur”. “A verdade nos libertará” (Jo 8, 32).

E agora, para terminar esta primeira parte de meu trabalho (9) algumas breves pinceladas acerca de Bugnini , o grande arquiteto da nova liturgia, aquele que plasmou na Reforma Litúrgica os planos maçônicos. A base para isto, foi a obra de John Kenneth Weiskittel: “The Bugnini File. A Study in Ecclesial subversion” (4).

Em abril de 1976, Tito Casini publicou a obra: “Nel fumo di satanas verso l'ultimo scontro”, onde acusou Bugnini de ser maçom. A revolta e o escândalo foram indescritíveis. Este foi o motivo para que Bugnini fosse enviado para a Nunciatura do Iran. O que foi considerado como um exílio. Bugnini – como é natural – negou até seu último suspiro, ter pertencido à seita, e sempre assegurou que não fazia nem idéia do que era a maçonaria.

Mas este primeiro escândalo se minimizou ao lado do produzido pela verdadeira bomba que estourou em 1992, dez anos depois do falecimento de Bugnini. Andrea Tornielli publicou na revista “30 Giorni” um trabalho com o instigante título: “Ata: a maçonaria e a aplicação à reforma litúrgica”. Estampou uma carta da maçonaria a Bugnini: “Prezado Buan (era este o nome em código de Annibale Bugnini). Te advertimos acerca do acontecido, que da parte dos irmãos, com o consentimento dos grandes mestres (...) te foi solicitado, e te recomendamos iniciar a descristianização, introduzindo a desordem na Liturgia e na Linguagem...

“Uma babel linguística e ritual, significa a vitória para nós; pois certamente, a unidade de linguagem e de ritos constituiu sempre a maior fortaleza da Igreja. Tudo isso deve ser realizado no espaço de dez anos” (14-07-1964).

“Indubitavelmente – segundo Weiskittel – este aborrecido e angustiante documento é esmagador; mas não o será menos a resposta de Bugnini (de 02-07-1967). Eis o texto: “...Honorável Grão Mestre: Os passos para a profanação serão dados em breve (...) Agora podemos considerar já nossa a vitória, pois a língua vulgar se assenhoreia da liturgia universal, mesmo nos locais mais longínquos, se dá uma grande liberdade de escolha com variadíssimas formulações e inclusive, as iniciativas pessoais que provocam o caos (...) E para ser breve, creio que de acordo com vossas instruções semeei a semente da máxima libertinagem possível, neste documento (...) Devo combater rudemente e incorporar o maior número de pessoas de meus adversários, na Congregação dos Ritos já que tudo deve ser aprovado pelo Papa (...) Por sorte temos obtido o reforço de um número sempre maior de irmãos (...) Vosso BUAN”.

Claro, está que em seguida surgiu a questão acerca de se tais cartas são verdadeiras ou falsas; como se deu com “Os Protocolos dos Sábios de Sion” e com o “Plano Mestre (Master Plan) para destruir a Igreja”. Mas seja como for, o caso é que expressam perfeitamente o plano maçônico e sua concretização é uma realidade palpável.

Que cada um tire suas conclusões.

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