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O Paradoxo da “Consciência” Conciliar

Por Araí Daniele
Visto que o termo “nova consciência” é recorrente e central nos documentos da pastoral conciliar do Vaticano II, e o nosso destino eterno é ligado à nossa consciência, torna-se imprescindível seguir essa visão que, sendo nova, pode ser desvairada, especialmente se há justificada suspeita que seja modernista.

De fato é o modernismo que pretende uma “evolução” da consciência, no sentido que deveria ser atualizada aos tempos e “necessidades” do mundo, e isto seja no plano histórico e social ou, tratando-se de religião, no plano doutrinal.

Justamente neste campo a tendência do desvio modernista esta em identificar a consciência com o conhecimento religioso e a mesma Revelação*. Segue que no plano social, esse novo “saber conscientizado”, passaria a ser a norma social para mudar o mundo e a história, reconciliando idéias opostas no campo político a partir de reconciliações ecumenistas no mesmo campo religioso.

Como poderia isto não ser condenado pela Igreja quando as justas normas deixariam de proceder da Fé revelada, para dependerem das idéias volúveis do momento, que por sua vez iriam determinar a tal “nova consciência”.

Como se vê tudo isto indica um malicioso retorno à idéia que o pensamento humano seria capaz de revelar, segundo as circunstâncias, o bem que deve orientar as consciências. É o retorno à falsa luz da consciência que passa a buscar, não o reconhecimento do Ser que a criou, mas a emancipação do seu eu, na liberdade de seus apetites no mundo, Enfim, aquela tentação que vem de longe, que diz respeito ao fruto proibido, ao evento à origem da história.

Era então uma gravíssima questão de consciência, Não o é menos hoje.

Aqui podemos lembrar a frase de Bossuet; «Le plus grand dérèglement de l’esprit c’est de voir les choses, telles qu’on voudrait qu’elles soient, et non pas telles qu’elles sont en réalité» (Traité de l’amour de Dieu et de soi-même).

Ou, aplicando-a ao caso em questão: O maior desvio da consciência está em ver as coisas, não como são na realidade, mas como se quer que elas sejam.

Não deve surpreender que essa tentação atinja seu ápice na era em que a mentalidade cientista moderna, aberta ao agnosticismo e ao ateísmo, conseguiu inculcar até em homens da Igreja e depois às multidões, a idéia de atualizar suas consciências às normas do mundo moderno, livre e “progredido”.

A tanto “progresso” seguiu inevitavelmente o senso de culpa de encontrar-se despido de razões diante de uma mentalidade geral entorpecida pelas emanações do materialismo prático, senso que desvela a própria fatal indigência espiritual, Será esta a “nova consciência”? É o que convêm analisar em seguida.

Per capire che questa è la mutazione storica voluta dalla Rivoluzione per il Cattolicesimo, va ricordato innanzi tutto come la Chiesa intende il processo di formazione della retta consciência e condanna ciò che si oppone a tale sua missione, da sempre fulcro della propria consciência, impressale come mandato dal Suo Divino Fondatore; non vi è nessuna nuova secondo i tempi, come vorrebe il pensiero ecumenista di BXVI.

O discurso que Bento XVI pronunciou na Cúria romana por ocasião do Natal de 2005, revela bem o suco da nova “religião conciliar”, surgida com a eleição de João XXIII.
Bento XVI quis afirmar nessa data que entre a fé precedente e a fé atualizada pelo Vaticano II não há real descontinuidade ; que a Lex credendi (lei da fé conciliar) e por conseguinte a Lex orandi (lei da prece do “Novus Ordo Missae” de Paulo VI), não difere essencialmente da Tradição do Missal romano promulgado por São Pio V.

Portanto, Bento XVI pretendia dizer que na igreja conciliar, dois sacrifícios diferentes, segundo dois espíritos diversos, como in extremis foram os de Abel e de Caim, oferecidos por sacerdotes ordenados segundo ritos diferentes, celebrados em diferente altares, não implicam nenhuma descontinuidade. Mas então, havia que perguntar, porque houve a drástica mudança de ritos e porque se pretendeu que os precedentes - tradicionais - fossem banidos?

Na verdade a mentalidade de Bento XVI deriva de um filosofia idealista, que produz pensamentos desviados, geradores de uma fé de sentido inverso à cristã, como vamos ver.

A forma mentis do teólogo alemão Ratzinger, hoje Bento XVI, se formou segundo a filosofia alemã de Hegel, cuja tese fundamental é que a dialética - tese, antítese, síntese -, não é somente constitutiva do devir, da evolução do pensar, mas da idéia que é a realidade mesma; ser e pensar seriam pois a mesma coisa e assim tudo se revela, segundo essa idéia, na final equivalência e unidade dos contrários; no movimento “transcendente” que dá vida ao todo.

Toda a realidade se desenvolve pois no processo que é desdobramento do Espírito absoluto na filosofia, na história, nas ciências e naturalmente na religião. Isto pode até parecer religioso e pio, mas atenção, introduz uma fé de sentido inverso à cristã, pela razão seguinte.

No processo dialético que segue a ordem: tese, antítese e síntese, introduz-se a gestão humana de opostos para atingir uma síntese final. Ora, a Religião verdadeira é já síntese, que tem por princípio a Revelação divina e esta não depende de pensamentos ou de operações humanas.

A esta luz o pensamento de Ratzinger revela o seu grave desvio quando diz que a «Gaudium et Spes» do Vaticano II, represente um ensaio para a reconciliação da Igreja com o mundo moderno desde 1789... sendo uma espécie de anti “Syllabus” do Papa Pio IX.

Vejamos. A tese conciliar seria a fé católica, a antítese seria o liberalismo, a síntese seria a evangelização da nova pastoral operada pelo espírito do Vaticano, que homologa tudo.

Logo, à fé católica faltaria a síntese da conciliação com os valores do mundo, como sejam os direitos humanos, a liberdade religiosa, a igualdade ecumenista, a emancipação feminina, etc.

Eis uma das explicações de Ratzinger: «Nós sentimos uma responsabilidade neste mundo e desejamos dar-lhe nossa contribuição de católicos. Não entendemos impor o catolicismo ao Ocidente, mas queremos que os valores fundamentais do cristianismo e os valores liberais dominantes no mundo hodierno possam encontrar-se e fecundar-se mutuamente» (Cardeal Ratzinger ao jornal Le Monde, 17/1/1992).

Na carta aos bispos que acompanhou o seu Motu proprio, Bento XVI afirma: « Alem de tudo, as duas Formas em uso do Rito Romano podem enriquecer-se reciprocamente».

Eis a confirmação da mesma dialética aplicada à Santa Missa: a tese é a Missa tradicional, a antítese a nova missa, a síntese a forma “enriquecida” pela reforma do espírito conciliar.

Que dizer? Que a fé representada pela Santa Missa tradicional precisava ser atualizada segundo as luzes pessoais de João XXIII, ou das experiências de Paulo VI com o mação Bugnini, ou das viagens pelas religiões do mundo de João Paulo II, ou das sínteses ecumenistas de Ratzinger?

São Pio X na sua Pascendi, cujo centenário se festeja, explicava que nos escritos modernistas lê-se uma página perfeitamente católica, mas basta virar a página para encontrar uma seguinte impregnada de modernismo. Bento XVI demonstra-se ainda mais evoluído; consegue por na mesma página um pensamento tradicional, que deve enriquecer-se com uma idéia liberal!

Note-se que, se de um lado a Igreja sempre procurou reviver na Santa Missa a representação mais nobre do Santo o Sacrifício redentor, segundo a vontade de Nosso Senhor; do outro lado a pastoral conciliar procurou adaptá-lo à necessidade de compreensão do mundo moderno, que recusa a sacralidade e a noção de sacrifício e penitência, que é a essência mesma da Fé.

O primeiro pensamento é dirigido à Fé e à Cruz; o segundo à opinião aplaudida pelo mundo!

Qual a síntese possível entre o pensamento guiado pela Fé e as opiniões do mundo liberal?

Qual pode formar a reta consciência, que deve responder ao nosso Pai e Criador?

Aqui seria bom lembrar que a formação dos sacerdotes passa por um aprofundado estudo da Teologia, mas também da Filosofia, seguidos pela leitura diária do Breviário, para que se formem no “pensamento divino” a transmitir aos fieis. Deste o escolástico é o mais fiel.

Tal formação deve servir, porém, notadamente para recusar o que envenena a mentalidade do mundo; o seu contrário que é antítese à Doutrina católica. Só nesta se vivifica a Fé, que é síntese, è o sim sim não não, que não precisa ajustes, mas estudo, compreensão e aceitação.

O resto vem do “cogito” demoníaco, aquele das tentações sintéticas, gnósticas e liberticidas.

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